Dezenas de palestinianos mortos em ataques de colonos israelitas na Cisjordânia

Guerra entre o Exército de Israel e o Hamas na Faixa de Gaza desvia atenções da Cisjordânia, onde a tensão entre colonos israelitas e palestinianos é cada vez maior.

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Desde 7 de Outubro, pelo menos 61 palestinianos foram mortos na Cisjordânia Reuters/MOHAMAD TOROKMAN
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As imagens dos bombardeamentos israelitas na Faixa de Gaza, na sequência dos ataques do Hamas contra Israel, a 7 de Outubro, deixaram para segundo plano a situação cada vez mais tensa no outro território palestiniano, a Cisjordânia, onde uma série de ataques de colonos israelitas contra civis palestinianos veio aumentar os riscos de uma nova explosão de violência.

Só nas últimas duas semanas, pelo menos 61 pessoas foram mortas e mais de 1250 ficaram feridas em povoações palestinianas, muitas delas em ataques organizados por grupos de colonos israelitas que reclamam vingança pelos brutais ataques do Hamas. O número de mortes, avançado pela Autoridade Palestiniana, representa mais de um quarto das 200 registadas nos primeiros nove meses de 2023.

Na semana passada, Ibrahim Wadi, de 62 anos, e o seu filho Ahmad, de 24 anos, foram mortos quando iam a caminho dos funerais de outros quatro palestinianos, mortos por colonos israelitas em Qusra, nos arredores de Nablus, quando tentavam travar um ataque com pedras contra a casa de uma família palestiniana.

O presidente da câmara de Qusra, Hani Odeh, que seguia no grupo de Ibrahim e de Ahmad, disse à CNN que sentiu ter sido atraído para uma cilada.

Segundo Odeh, um responsável do organismo israelita que coordena os movimentos na Cisjordânia — a Coordenação de Actividades do Governo nos Territórios (COGAT, na sigla original) — tinha instruído o seu grupo, horas antes, a seguir por uma estrada alternativa para evitar, precisamente, um encontro com colonos israelitas.

"Vivemos num estado psicológico devastador. Nenhum de nós consegue dormir", disse Odeh à equipa da CNN em Qusra.

A repórter britânica Becky Anderson, principal autora da reportagem do canal norte-americano, concluiu a transmissão da peça, nesta quinta-feira, com uma chamada de atenção para o potencial de violência nas tensões diárias na Cisjordânia: "Acompanho este conflito há 20 anos, e posso dizer-vos que as dificuldades do povo palestiniano sob a ocupação [israelita] estão no centro de todos os problemas."

Na terça-feira, o jornal israelita Haaretz disse que "o nevoeiro da guerra" — uma referência à fúria em Israel contra a matança de civis pelo Hamas — está a dar cobertura "à expulsão de palestinianos na Cisjordânia".

"Aquilo que é, para a maioria sã em Israel, a maior catástrofe da sua história é, para os colonos [israelitas], uma oportunidade para expulsar palestinianos e para ocupar as suas terras", diz o editorial do Haaretz. "Em alguns casos, algumas localidades foram completamente despovoadas, e, em outros casos, algumas famílias fugiram e mulheres e crianças foram deslocadas. Os residentes têm denunciado ameaças de morte feitas por colonos, que por vezes surgem armados."

"Não é um incidente isolado", diz o jornal, que se identifica com posições à esquerda do actual Governo israelita. "Trata-se de uma campanha mais abrangente, sob os auspícios de um Governo da direita radical e dos colonos, e que agora, sob o nevoeiro de guerra, ganhou um ímpeto significativo."

Em Qusra, os familiares de Ibrahim e Ahmad disseram à repórter da CNN que o luto pela morte dos dois homens não lhes roubou a determinação em permanecer, ao contrário de outros palestinianos que abandonaram as suas casas nas últimas duas semanas.

"É claro que estou triste, mas não deixo que isso me enfraqueça", disse Aseel, filha de Ibrahim e irmã de Ahmad. "Este é o nosso lar. O meu pai ensinou-me a amar a minha terra, e eu vou ensinar o mesmo aos meus filhos. Ficarei aqui enquanto for viva."

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