Amares, Caires e o mito da terrinha com wi-fi

“Amares fica no Minho, e estar no Minho é estar entre gente que nos recebe de braços bem abertos”, escreve a leitora Joana Coelho.

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Joana Coelho
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Todos os anos, no início de Setembro, viajo com a minha família para o que alguns baptizarão como “fim do mundo”, o covil dos meus antepassados. Trata-se de um concelho do distrito de Braga, Amares.

Usualmente, consideramos o diminutivo “terrinha” com um sentido pejorativo, talvez porque, pela distância a casa, pela ausência de wi-fi ou pela dominante falta de rede móvel, a “terrinha” leva ao isolamento face ao nosso mundo social digital. No entanto, Amares é uma “terrinha” atípica: tem rede e até wi-fi, mas é muito mais do que apenas uma terra fora da nossa rotina, é muito acolhedora, cheia de fabulosas casas de pedra, jardins, monumentos, pessoas hospitaleiras e, sobretudo, comida deliciosa. Nem sei por onde começar, mas uma coisa é certa, vão sair desta leitura a querer dar uma volta pela região.

A minha família é completamente lisboeta, mas os meus pais nunca se esqueceram dos Verões e dos natais passados na casa dos meus bisavós. Uma saudade que só se consegue compensar com umas boas papas de sarrabulho e um vinho verde. Bem, a parte paterna é deste fabuloso concelho, mais especificamente da freguesia de Caires, e sinto-me privilegiada por ter sempre lá um cantinho para mim. É reconfortante. O meu avô está sempre a contar-me histórias de como ajudava a sua mãe a cozinhar, o seu pai a cultivar ou a levar o gado a pastar, além das brincadeiras infindáveis com os seus nove irmãos. No entanto, mudou-se muito cedo para a capital para conseguir mais qualidade de vida; o que ele não sabia é que voltaria várias vezes ao ano na sua reforma para o ar puro, as caras familiares, para os bons amigos, para o seu verdadeiro lar.

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Quando era pequena, lembro-me perfeitamente de que andava sempre fora de casa, tanto a visitar todos os cantos do município como a arrancar a relva e a apanhar as melhores laranjas do quintal dos meus avós. Alguns sítios que sempre gostei muito de visitar são a Ponte do Porto (uma ponte com belíssimos pores do sol), o Santuário de Nossa Senhora da Abadia (localizado no coração do Gerês, repleto de encantos e trilhos naturais) e o lago dos cisnes.

E tenho muitas mais coisas para explorar, como o Mosteiro de Santo André de Rendufe, o busto do cantor António Variações e as variadas praias fluviais da zona. Outra maravilha que nunca consegui experimentar é o Festival das Papas de Sarrabulho de Amares, que ocorre todos os anos no mês de Fevereiro e deve estar a chegar à vigésima edição.

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Por fim, as minhas tias-avós e primos são cruciais para a nossa viagem. Os abraços e os beijinhos vêm cheios de carinho e saudade, e as despedidas são sempre a parte mais difícil.

Amares fica no Minho, e estar no Minho é estar entre gente que nos recebe de braços bem abertos.

Joana Coelho (texto e fotos)

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