China garante que não está a fornecer armamento ao Hamas
Governo de Xi reage às notícias sobre a alegada descoberta de “enormes quantidades” de armas de fabrico chinês durante a operação militar do Exército israelita na Faixa de Gaza.
O Governo da República Popular da China garantiu, esta quinta-feira, através de Wu Qian, porta-voz do Ministério da Defesa, que “nunca forneceu quaisquer armas” ao Hamas.
A tomada de posição de Pequim surge na sequência das notícias veiculadas nas últimas semanas pelos media israelitas que dão conta de que as Forças de Defesa de Israel (IDF) encontraram “enormes quantidades de armamento” de fabrico chinês durante as operações militares em curso contra o movimento islamista palestiniano na Faixa de Gaza.
“É necessário enfatizar que a China sempre adoptou uma atitude prudente e responsável no que diz respeito à exportação de armas e que segue rigorosamente os [seus] três princípios para a exportação de armas”, afiançou Wu Qian.
Segundo o South China Morning Post, os “princípios” em causa, que norteiam a venda de armamento chinês para fora de portas, são: a exportação de armas tem de atender às capacidades legítimas de autodefesa do país destinatário; não pode interferir com os assuntos internos do país destinatário; e não pode pôr em causa a paz, a segurança e a estabilidade mundiais e regionais.
De acordo com o porta-voz do Ministério da Defesa do Governo de Xi Jinping, a China só enviou comida, medicamentos e outro tipo de ajuda humanitária para os palestinianos de Gaza.
Uma reportagem transmitida no final do ano passado pelo canal televisivo israelita N12 revelou que uma investigação das IDF concluiu que o Hamas tinha, na sua posse, “armas e equipamento avançado fabricado na China”, nomeadamente cartuchos e miras para espingardas de assalto do modelo M16, lançadores de granadas e aparelhos de comunicação.
“Trata-se de armamento e de tecnologia de comunicação de grande qualidade, coisas que o Hamas antes não tinha. Há explosivos altamente sofisticados que não tinham sido encontrados antes, particularmente numa escala tão grande como esta”, diz ao Telegraph um membro dos serviços secretos israelitas.
Depois de ter investido fortemente, nos últimos anos, em iniciativas diplomáticas no Médio Oriente, um palco onde tem cada vez mais interesses económicos e geopolíticos, envolvendo-se, por exemplo, na mediação da rivalidade histórica entre Irão e Arábia Saudita ou anunciando uma “parceria estratégica” com a Síria de Bashar al-Assad, a China tem-se mantido relativamente à margem do conflito entre Hamas e Israel.
Sem tomar partidos, o Governo chinês diz-se preocupado com a situação securitária no mar Vermelho e com o impacto desse eixo de instabilidade regional no comércio mundial, mas, numa linguagem vaga, insiste nas negociações de paz e na “solução de dois Estados” para a disputa entre israelitas e palestinianos.
Ainda assim, não rotula o Hamas de “grupo terrorista” e tem no Irão, o principal apoiante do movimento islamista, o seu grande aliado no Médio Oriente. Para alguns analistas, a resposta à descoberta das IDF pode estar, precisamente, na relação próxima entre Pequim e Teerão.
“Será que os chineses sabiam que [as armas] eram para o Hamas ou será que chegaram [a Gaza] através de terceiros, como o Irão?”, questiona Patrick Bury, especialista em Segurança na Universidade de Bath e antigo funcionário da NATO.
“Tratando-se de uma grande quantidade [de armas], é muito provável que esteja envolvido um Estado interveniente e é muito provável que esse Estado interveniente seja o Irão. Podem ser coisas que foram compradas pelo Irão à China e que chegaram ao Hamas”, sugere Bury, citado pelo diário britânico.