Reino Unido alerta para “risco muito real” de propagação de surto de sarampo

Agência de Segurança Sanitária do Reino Unido declarou “incidente nacional”. Foram confirmados 216 casos até agora naquele país. Diagnósticos aumentaram 30 vezes na Europa em 2023.

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Tiago Lopes
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Há "um risco muito real de o vírus se espalhar por outras vilas e cidades". É assim que a agência de saúde pública do Reino Unido descreve a possibilidade de propagação do sarampo, alertando que são precisas medidas urgentes para aumentar a vacinação.

A Agência de Segurança Sanitária do Reino Unido (UKHSA) declarou o problema como "incidente nacional", sinalizando um risco crescente para a saúde pública, e diz que foram confirmados 216 casos até ao momento. Outros 103, detectados desde Outubro no condado de West Midlands (que inclui as cidades de Birmingham, Conventry e Wolverhampton), aguardam confirmação. A maioria foi detectada em crianças com menos de dez anos.

“Com uma adesão tão baixa à vacina em algumas comunidades, existe agora um risco muito real de vermos o vírus a espalhar-se por outras vilas e cidades”, disse a presidente-executiva da UKHSA, Jenny Harries.

O vírus do sarampo é um dos mais contagiosos do mundo, mas pode ser controlado com duas doses da vacina. A pandemia da covid-19 perturbou os esforços de imunização a nível global e a recuperação do ritmo de vacinação tem sido lenta. A OMS, que já alertou para a urgência da vacinação, diz que as viagens no pós-pandemia também aumentaram o risco de transmissão transfronteiriça de doenças e a sua propagação dentro das comunidades.

Harries, citada pela agência Reuters, diz que é necessária uma acção imediata para aumentar a adesão à vacina MMR (contra o sarampo, papeira e rubéola) em áreas onde a cobertura é baixa.

No Reino Unido, a vacina faz parte do programa de imunização infantil do Serviço Nacional de Saúde mas, no ano passado, a agência de saúde pública avançou que em algumas áreas e grupos em Londres, a cobertura da primeira dose, tomada aos dois anos, não ultrapassou os 69%.

Número de casos na Europa aumentou 30 vezes em 2023

Em Julho de 2023, a UKHSA alertou para um aumento constante dos casos de sarampo e para o risco de um ressurgimento do vírus, particularmente em Londres, onde estimou haver um risco de ocorrer um surto com um número de casos entre os 40 mil e os 160 mil devido às baixas taxas de cobertura vacinal.

Um alerta semelhante foi lançado em Dezembro pela Organização Mundial da Saúde, após um “alarmante” aumento dos casos em toda a Europa. Mais de 30 mil casos foram notificados entre Janeiro e Outubro de 2023, em comparação com 941 casos em 2022 – o que significa que foi notificado um número de infecções 30 vezes superior ao do ano anterior.

Dois em cada cinco casos foram detectados em crianças abaixo dos quatro ano e um em cada cinco em pessoas acima dos 20 anos. A tendência deverá piorar se as famílias não vacinarem os seus filhos contra a doença, disse a OMS num comunicado emitido nessa altura.

“Observámos, na região, não apenas um aumento nos casos de sarampo, mas também quase 21 mil hospitalizações e cinco mortes relacionadas com a doença, registadas em dois países", refere Hans Kluge, director regional da OMS para a Europa, no comunicado. "A vacinação é a única forma de proteger as crianças desta doença potencialmente perigosa. São necessários esforços urgentes de vacinação para travar a transmissão e prevenir uma maior propagação.”

O sarampo pode levar a complicações graves, incapacidade permanente, pode afectar os pulmões e o cérebro e causar pneumonia, meningite, cegueira e convulsões e, em casos extremos, levar à morte. “É vital que todos os países estejam preparados para detectar rapidamente e responder atempadamente aos surtos de sarampo”, acrescentou Kluge.

A OMS Europa compreende 53 países, incluindo a Rússia e algumas nações na Ásia Central, e 40 registaram casos de sarampo em 2023.

Fora da Europa, também os Estados Unidos estão preocupados com o surgimento de novos casos deste vírus. Pelo menos uma dúzia de casos foram registados nos estados norte-americanos da Pensilvânia, Virgínia e Geórgia nas últimas semanas, de acordo com os departamentos de saúde locais.

A CNN Internacional diz que vários casos terão sido detectados em pessoas que viajaram para fora dos Estados Unidos. Em Filadélfia, na Pensilvânia, um homem e o seu filho tiveram contacto com o vírus num hospital pediátrico. Estes primeiros casos deram origem a um surto em várias creches, afectando pelo menos cinco crianças.

Nos EUA, o sarampo tinha sido eliminado em 2000 depois de serem detectados zero casos do vírus durante mais de um ano, em grande parte devido a uma “campanha de vacinação altamente eficaz”. No entanto, há vários países com surtos activos e o vírus não está erradicado em termos mundiais.

Em Portugal, o diagnóstico de dois casos importados de sarampo na região de Lisboa e Vale do Tejo levou a Direcção-Geral da Saúde (DGS) a apelar, em meados deste mês, à vacinação. O caso foi diagnosticado numa criança de 20 meses não-residente em Portugal e não vacinada, que se encontrava hospitalizada, não havendo até agora registos de contágio.

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