Mortes por sarampo aumentaram quase 50% no último ano em todo o mundo

Falhas na vacinação durante a pandemia da covid-19 terão contribuído para novo aumento dos casos registados e da mortalidade por sarampo em todo o mundo.

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Falhas na vacinação são a principal causa para aumento das mortes causdas pelo sarampo, indica a OMS EVA CARASOL
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Os aumentos nos casos de sarampo e na mortalidade estimada em todo o mundo repetem-se todos os anos – e 2022 não foi a excepção. As contas são directas: no ano passado, houve nove milhões de casos de sarampo (mais 18% do que em 2021) e 136 mil mortes (mais 43%). As estimativas mostram que o sarampo continua a ser uma das principais ameaças às crianças, sobretudo em países mais pobres – são estas crianças as principais vítimas da doença.

Este aumento significativo surge na sequência de anos consecutivos em que as taxas de vacinação contra o sarampo estavam repetidamente em queda. “O aumento dos surtos de sarampo e de mortes é impressionante, mas, infelizmente, não é inesperado dado o declínio da vacinação que vimos nos últimos anos”, diz em comunicado John Vertefeuille, responsável pelo Departamento de Imunização Global dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês).

Os casos e a mortalidade, patentes nos dados compilados num relatório publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelos CDC, são coadjuvados pelas falhas na vacinação encontradas: quase 22 milhões de crianças não tomaram sequer a primeira dose e outros 11 milhões de crianças não receberam a segunda dose da vacina. Apesar de o sarampo ser uma doença altamente contagiosa, e transmissível por contacto próximo e por via respiratória, há décadas que as duas doses de vacinação são eficazes na protecção contra a doença – no caso de Portugal, a vacina é gratuita e está incluída no Plano Nacional de Vacinação desde 1974.

Apesar de os surtos de sarampo terem regressado às preocupações de saúde pública em todo o mundo, os países mais pobres são também aqueles em que as taxas de vacinação são mais baixas e, consequentemente, onde há menos protecção contra a doença. O crescimento do sarampo também se verifica nos países que enfrentaram surtos em 2022: 37 países, 28 deles em África – um número bem maior do que os 22 países com surtos em 2021.

E o sarampo em Portugal?

A vacinação tem sido uma das principais preocupações das organizações de saúde, principalmente depois de em 2021 se ter atingido o mais baixo valor de imunização contra o sarampo desde 2008. Esse número pouco aumentou em 2022 (apenas 2%). A identificação dos países com maiores dificuldades na gestão desta vacinação é estranhamente fácil, já que metade dos 22 milhões de crianças vivem em apenas dez países: Angola, Brasil, Etiópia, Filipinas, Índia, Indonésia, Madagáscar, Nigéria, Paquistão e República Democrática do Congo. As causas desta disparidade são variadas, desde a desconfiança da eficácia da vacinação à falta de acesso a cuidados de saúde e a vacinas.

As prioridades para as organizações de saúde estão centradas no reforço da vacinação nos países mais pobres em que o acesso às vacinas é difícil, bem como impedir eventuais quebras nos países com maior taxa de imunização devido ao crescimento da recusa de vacinação por movimentos negacionistas da protecção das vacinas contra o sarampo.

“A falta de recuperação, após a pandemia, da cobertura de vacinação contra o sarampo em países com menores rendimentos é um sinal de alerta para agirmos. O sarampo é apelidado de ‘vírus da desigualdade’ por uma razão: é a doença que encontra e ataca quem está desprotegido”, explica Kate O’Brien, da OMS, citada em comunicado.

Nas duas últimas décadas, os surtos de sarampo têm até aumentado em países onde tal não era expectável: Israel, França, Canadá, Itália, Espanha ou Alemanha, por exemplo. Em 2018 e 2019, houve mais de 200 mil casos registados em toda a Europa, incluindo mais de duas dezenas de casos em Portugal.

A cobertura de vacinação igual ou superior a 95% com duas doses da vacina contra o sarampo pode proteger de forma segura e eficaz contra a doença, como explica a OMS. Quando olhamos para os dados em todo o mundo, esses valores ficam aquém: a toma da primeira dose em crianças atinge os 83%, enquanto a segunda dose tem uma cobertura de apenas 74% das crianças. Em Portugal, esta cobertura atingiu os 99% em crianças até um ano, de acordo com os dados divulgados pela Direcção-Geral da Saúde em 2021.

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