Contestada nas ruas, AfD sugere referendo à saída da Alemanha da UE

Alice Weidel repete que considera a UE um projecto falhado. Sondagem mostra 87% de apoio à UE na Alemanha – até entre os eleitores da AfD é de 52%.

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Alice Weide, co-líder do partido nacionalista e xenófobo Alternativa para a Alemanha REUTERS/Lisi Niesner
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A co-líder do partido nacionalista e xenófobo Alternativa para a Alemanha, Alice Weidel, disse numa entrevista ao Financial Times que o partido poderia levar a cabo um referendo à presença da Alemanha na União Europeia se chegasse ao poder, causando uma série de títulos sobre a possibilidade mesmo tendo em conta que a opinião pública alemã é esmagadoramente favorável à presença do país na União Europeia – até entre os eleitores da AfD, 52% apoiam a permanência da Alemanha na UE, segundo uma sondagem recente.

A sondagem, citada pelo site Euraktiv e da Fundação Konrad Adenauer, próxima da União Democrata Cristã (CDU), mostra um apoio à União Europeia de 87% das pessoas inquiridas, com apenas 10% a concordarem com uma saída.

A entrevista de Weidel acontece quando o partido é motivo de uma enorme contestação nas ruas, com mais de um milhão e meio de pessoas a manifestarem-se contra ideias extremistas de norte a sul do país na sexta-feira, no sábado e no domingo.

As manifestações surgiram na sequência da divulgação, pelo site de investigação Correctiv, de um encontro em Potsdam entre elementos da AfD e de movimentos de extrema-direita e neonazis. Lá terá sido apresentado um plano de deportação e expulsão de estrangeiros, mas também de alemães que não estivessem “integrados”. A AfD recusou que tivesse qualquer plano deste género e desvalorizou o encontro, mas entretanto afastou um antigo deputado, Roland Hartwig, que era considerado o braço direito de Weidel e que esteve na reunião.

No seu congresso em Agosto passado, a AfD, que começou em 2013 como partido contra os empréstimos aos países do euro em dificuldades mas adoptou, dois anos depois, uma postura anti-imigração que se tornou a sua característica principal, já tinha decidido pôr no seu manifesto para as eleições europeias que se realizam em Junho que a União Europeia é “um projecto falhado”.

O partido tem dito que quer reformar a União Europeia, mas que não defende o seu fim, embora acrescentasse: “Acreditamos que a UE não pode ser reformada.” Uma menção a uma “dissolução controlada” da União Europeia que apareceu num rascunho desapareceu e foi atribuída a um “erro”.

Weidel repetiu, na entrevista, a ideia do “projecto falhado”, acrescentando a proposta de um referendo: “Se não for possível fazer uma reforma, devemos deixar as pessoas decidir, tal como fez o Reino Unido”, declarou.

O partido tem à sua volta ainda um cordão sanitário, com nenhuma das outras forças políticas a considerar colaborações a nível nacional ou dos estados federados. Numa sondagem desta terça-feira do instituto Forsa, está com 20%, atrás dos 31% da CDU (União Democrata-Cristã), na oposição.

O Partido Social-Democrata do chanceler, Olaf Scholz, e os Verdes do vice-chanceler, Robert Habeck, e da ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, têm 14%. O terceiro partido no Governo, os liberais do FDP, do ministro das Finanças, Christian Lindner, estão com apenas 4%, resultado que, se repetido nas urnas, significaria que ficariam fora do Parlamento (não superando o mínimo de 5%), tal como A Esquerda (Die Linke), que também aparece com 4% nesta sondagem.

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