Não confundamos Ben Brereton com Ben Brereton Díaz

Só quando abraçou a ascendência chilena é que este inglês se tornou um jogador de nível acima do mediano. O Sheffield ainda não sabe se contratou Ben Brereton ou Ben Brereton Díaz. Para já, é o Ben.

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Brereton Díaz (de vermelho) em acção pelo Sheffield Reuters/LEE SMITH
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Na sabedoria popular diz-se que “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. No futebol, é bom que percebamos que Ben Brereton é uma coisa, Ben Brereton Díaz é outra coisa. E já há muita gente com noção disso.

Daqui em diante neste texto, devemos referir-nos a Ben Brereton Díaz – ou apenas Brereton Díaz. Se falássemos de Ben Brereton, estaríamos a falar de outra coisa. E impõe-se rigor.

Neste domingo, Ben marcou no empate (2-2) do Sheffield frente ao West Ham, no primeiro jogo na Liga inglesa desde que chegou, emprestado pelo Villarreal.

O Sheffield ainda não saberá bem se contratou Ben Brereton ou Ben Brereton Díaz. Para já, é apenas Ben, mas o clube esperará que seja a versão mais latina – que nem sequer fala bem espanhol.

O “Big Ben”

Estamos a falar de um inglês de 24 anos que só quando abraçou a ascendência chilena e que se tornou um jogador de nível acima do mediano. Como inglês, tinha 17 golos em 133 jogos. Como chileno, começou com dez golos em 11 jogos – média que, entretanto, baixou, como é natural, mas que se manteve bem acima do valor esperado e habitual de um jogador que até esse momento era pouco mais do que banal.

Foi dispensado do Manchester United e do Nottingham Forest e, no Blackburn, os adeptos viram as duas versões: a britânica, de um jogador assim-assim, com um só golo na primeira temporada e outro na segunda, e a latina, de um avançado de bom nível.

O ponto de mudança foi a ida à selecção do Chile, que o próprio jogador assumiu ter sido um ponto de viragem na confiança pessoal. E passou de Ben a “Big Ben”, epíteto que não carece de explicação.

“Fiquei mais forte, mais físico e mais confiante. E admito que ganhei um pouco do estilo sul-americano no meu jogo e isso manifesta-se na forma como marco mais golos. E as experiências que tenho tido também me dão confiança – como aparecer em anúncios no Chile, ao lado de grandes estrelas”, explicou, citado pelo Daily Mail.

Cerca de um ano depois da estreia pelo Chile e da súbita melhoria futebolística, Brereton Díaz chegou mesmo a dizer “se me tivessem dito isto há 12 meses, diria que eram loucos”.

Descoberto no Football Manager

A chegada à selecção chilena teve também contornos incomuns. Deu-se por causa do... Football Manager. Quando se soube que a mãe de Brereton Díaz é chilena – nessa altura, ainda era apenas Ben Brereton –, um utilizador do famoso videojogo actualizou o perfil do jogador com a dupla nacionalidade.

E foi assim que Francisco Cagigao, um membro da Federação chilena, deu conta de que havia ali um avançado seleccionável para uma equipa cujo ataque tem, sobretudo, jogadores na fase descendente da carreira.

Quando chegou ao Chile para somar a primeira internacionalização, o jogador foi imediatamente baptizado como Brereton Díaz, utilizando o nome da mãe, que lhe facilitaria a identificação com os chilenos. Resultou? Resultou demasiado bem.

O jogador tornou-se uma autêntica figura de culto no país, tendo sido chamado, em pouco tempo, para anúncios de refrigerantes e roupa interior. A “Breretonmania”, como lhe chamou a imprensa, não demorou a generalizar-se, com a popularidade do novo rosto da Pepsi no Chile – e quem já viu a série “Pepsi, onde está o meu avião?” saberá o que significa ser a face publicitária da marca norte-americana.

Até o governo chileno usou Brereton Díaz na altura da pandemia de covid-19, escolhendo o futebolista para um vídeo em que incentivava os jovens a vacinarem-se. Quando se chega a este ponto, algo bizarro se passa.

Dupla com Vargas

Os chilenos, sedentos por um novo craque, ficaram encantados com o entendimento tremendo que revelou rapidamente com Vargas no ataque da selecção. Entre 2020 e a estreia de Díaz, em 2021, o Chile tinha chamado 21 avançados, com apenas oito golos entre todos.

Os chilenos acharam piada também ao lado mais exótico de Brereton Díaz – não no sentido literal, porque ele vinha do nada exótico Reino Unido, mas por se tratar de alguém bastante diferente, mesmo a nível futebolístico.

Os chilenos dizem que Díaz levou um perfil físico diferente, sendo bem mais alto do que a maioria dos atacantes do país, além de uma escola diferente, com um perfil futebolístico mais refinado no plano táctico, distinto do jogo mais “cru” dos sul-americanos.

Em rigor, Díaz, quando ainda era apenas Ben Brereton, jogou até aos sub-19 ingleses – foi campeão da Europa na selecção de Mason Mount e Marcus Edwards, que bateu na final a equipa portuguesa de Diogo Costa, Diogo Dalot, Jota, Florentino ou Rafael Leão.

Desde essa final, Ben já trocou de “nome de Guerra”, trocou a selecção inglesa pela do Chile, mudou de clube três vezes, passou de jogador mediano a goleador, foi da Liga inglesa à Liga espanhola e de novo à inglesa, jogou na Copa América, foi figura num anúncio da Pepsi e tornou-se um rosto mediático no Chile. Tudo isto em cerca de quatro anos.

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