Houthis não se mostram abalados e atingem porta-contentores norte-americano

Após duas rondas de ataques anglo-americanos, a milícia iemenita mantém a pressão no mar Vermelho, atacando navios comerciais e um navio de guerra dos Estados Unidos.

Foto
Apoiantes tribais dos houthis num protesto contra Israel, em Sanaa Reuters/KHALED ABDULLAH
Ouça este artigo
00:00
03:42

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Justificando a decisão de atacar os houthis iemenitas sem um debate no Parlamento, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Grant Shapps, garantiu aos britânicos que “os houthis sofreram um golpe”. Uma declaração que soa a exagero, feita horas depois de os Estados Unidos terem interceptado um míssil disparado do Iémen contra o contratorpedeiro USS Laboon, e pouco antes de outro míssil lançado pelo grupo apoiado pelo Irão ter atingido um porta-contentores de propriedade norte-americana e operado por uma empresa dos EUA.

O Gibraltar Eagle, que viaja com bandeira das Ilhas Marshall foi atingido por um míssil balístico anti-navio quando navegava a uns 170 quilómetros da cidade iemenita de Áden, sem que nenhum dos marinheiros a bordo tenha sofrido ferimentos. “Como resultado do impacto, o navio sofreu danos limitados num porão de carga, mas está estável e a sair da área”, afirmou o operador, Eagle Bulk, num comunicado, explicando que o navio transportava produtos siderúrgicos.

A empresa de consultadoria de risco marítimo britânica Ambrey descreveu o ataque no seu site, dando conta de um incêndio que ocorreu a bordo e confirmando que o navio continuava capaz de navegar.

Segundo a mesma empresa, o Gibraltar Eagle não tem qualquer ligação a Israel – inicialmente, os houthis afirmavam que os ataques contra navios que passam no mar Vermelho têm como objectivo defender a Faixa de Gaza e impor um bloqueio naval a Israel, mas, entretanto, alargaram a ameaça a todos os que apoiem a guerra israelita e prometeram atacar navios norte-americanos depois de terem sofrido duas rondas de ataques aéreos anglo-americanos.

Quando as forças britânicas e norte-americanas lançaram os primeiros raides contra mais de 60 alvos no Iémen, na sexta-feira, os iemenitas já tinham lançado 27 ataques. Na sequência dessa primeira ronda, lançaram o ataque n.º 28; seguiram-se novos raides anglo-americanos, mais limitados, no sábado. O ataque que falhou o contratorpedeiro USS Laboon, na madrugada de segunda-feira, foi o 29.º.

O disparo que atingiu o porta-contentores, na segunda-feira à tarde, terá sido feito a partir da cidade portuária de Hodeidah, no mar Vermelho, sob controlo dos houthis e um dos principais alvos dos ataques anglo-americanos.

De acordo com dois responsáveis militares dos EUA citados no fim-de-semana pelo jornal The New York Times, nas primeiras duas rondas de ataques foram atingidos 90% dos alvos, mas o grupo mantém cerca de três quartos da sua capacidade de disparar mísseis e drones contra o mar Vermelho.

Quantas rondas?

Os houthis, uma tribo de confissão xiita do Norte do Iémen, controlam uma grande parte do território do Iémen, depois de anos de guerra, inicialmente contra a liderança iemenita reconhecida internacionalmente e a partir de 2015 também com uma aliança árabe liderada pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos.

Apoiados pelo regime iraniano, a tribo que é também uma milícia, aproveitou a guerra em Gaza para ganhar legitimidade dentro do seu país – entre os iemenitas, que cada vez contestavam mais o seu governo repressivo, atacar Israel já fez crescer de forma significativa a sua popularidade. Ao mesmo tempo, afirma-se no interior do chamado “eixo de resistência”, formado pelo Irão e pelos grupos que o país apoia, e ganha protagonismo regional e internacional.

“Esta era a situação que preocupava muitos, incluindo a mim: a ronda inicial de ataques dos EUA e do Reino Unido não chegou para deter ou enfraquecer suficientemente os houthis, então, quantas rondas de ataques serão necessárias para chegar lá?”, interroga-se, na rede X, Gregory D. Johnsen, analista no Instituto dos Estados Árabes do Golfo, em Washington, e na Academia da Força Aérea norte-americana.

Na prática, ser alvo de ataques dos EUA era precisamente um dos objectivos de longa data dos houthis. Desde Outubro, o grupo já tinha recrutado 45 mil combatentes. Agora, acaba de lançar mais uma campanha de recrutamento acompanhada de vídeos promocionais em que os seus membros atacam cenários que supostamente imitam colonatos israelitas.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários