Netanyahu afirma que “nem Haia, nem ninguém” vai travar a guerra contra o Hamas

Aos cem dias de guerra em Gaza, as forças israelitas continuam as suas operações no Sul e no centro do território palestiniano. Reino Unido e EUA voltaram a bombardear houthis no Iémen.

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Operações militares israelitas em Gaza concentram-se no Sul e no centro Reuters/TYRONE SIU
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O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, manteve uma postura desafiadora e prometeu que nada fará travar a guerra contra o Hamas, que chegou aos cem dias este domingo.

“Ninguém nos vai parar, nem Haia, nem o eixo do mal, nem ninguém”, afirmou Netanyahu, numa declaração transmitida pela televisão no sábado à noite, na véspera de se assinalarem cem dias desde o brutal ataque do Hamas no Sul de Israel – em que morreram 1200 pessoas – que desencadeou a mais ampla ofensiva militar na Faixa de Gaza pelas Forças de Defesa de Israel (IDF).

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana condenou as declarações de Netanyahu, acusando-o de “continuar a guerra genocida em desafio à comunidade internacional e ao papel do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ)”.

As palavras de Netanyahu dirigem-se a vários actores internacionais e surgem na semana em que o TIJ, sediado em Haia, começou a julgar um caso em que Israel é acusado de genocídio da população palestiniana em Gaza, interposto pela África do Sul. Na semana passada, foram ouvidas as alegações iniciais das duas partes.

A expectativa é que o julgamento possa demorar vários anos até ser concluído, mas é provável que sejam emitidas algumas medidas provisórias nas próximas semanas, que podem incluir pedidos para um cessar-fogo. Netanyahu deixou claro que Israel pretende ignorar qualquer exigência nesse sentido.

A pressão internacional para que Israel ponha fim às acções militares em Gaza, que a ONU diz estar a criar uma crise humanitária de dimensões avassaladoras, tem-se intensificado. No sábado, várias cidades foram palco de grandes manifestações de condenação da ofensiva israelita, incluindo várias capitais ocidentais, como Londres, Paris, Berlim ou Washington D.C.

Este domingo, as operações militares das IDF em Gaza prosseguiram, concentradas na cidade de Khan Younis, no Sul, e em Al-Bureji e Al-Maghazi, no centro do território. Israel disse ter matado vários combatentes do Hamas e destruiu vários silos usados pelo grupo armado para disparar mísseis, segundo a Reuters.

As redes de comunicações e Internet em Gaza mantiveram-se com fortes perturbações pelo terceiro dia consecutivo, prejudicando o trabalho das equipas de emergência médica. Dois funcionários que estavam em trabalho de reparação da rede de telecomunicações foram mortos, segundo a operadora Paltel, citada pela Al-Jazeera.

Em cem dias, morreram quase 24 mil pessoas em Gaza, e mais de 60 mil ficaram feridas, de acordo com as autoridades locais. As IDF dizem que iniciaram uma nova fase na guerra contra o Hamas, esperando começar a realizar ataques mais cirúrgicos e localizados contra instalações e dirigentes do movimento islamista.

A própria Casa Branca, através do porta-voz John Kirby, disse este domingo que "chegou a hora" de Israel "baixar a intensidade" das suas operações em Gaza com o objectivo de conter as vítimas civis.

Entretanto, este domingo, o conselho de ministros israelita reuniu-se para debater o próximo Orçamento do Estado, que deverá contemplar uma subida acentuada dos gastos militares para fazer face à campanha em Gaza.

O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, voltou a defender o ataque organizado pelo grupo islamista de 7 de Outubro, justificando-o como uma resposta ao bloqueio da Faixa de Gaza feito por Israel há quase uma década. “Não procuramos guerras, procuramos a liberdade”, afirmou, numa intervenção por videoconferência num encontro em Istambul.

A ameaça de alargamento da guerra no Médio Oriente acentuou-se na última semana com o início de uma campanha anglo-americana de bombardeamentos de território controlado pelos rebeldes houthis no Iémen, como retaliação pelos ataques contra navios comerciais no mar Vermelho. No domingo, britânicos e norte-americanos voltaram a bombardear posições dos houthis pelo terceiro dia consecutivo.

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