“Uma vez que outros não fazem o seu trabalho”, o Chega quer governar
Começa esta sexta-feira, em Viana do Castelo, a VI Convenção do Chega. À chegada, Ventura atirou a dois alvos — PS e PSD — e disse que o Chega tem de deixar de ser “o partido da voz do protesto”.
André Ventura, líder do Chega, entrou na sexta convenção do partido a disparar contra dois alvos: PS e PSD. O seu objectivo, “uma vez que outros não fazem o seu trabalho”, é combater o “maior adversário” — o PS — e “governar Portugal”.
Em letras enormes, no palco da convenção, lê-se o slogan “limpar Portugal”, na linha habitual dos outdoors do partido. Mas o tom de Ventura, à chegada, já à noite, foi outro: o Chega tem “propostas de mudança” e vai “deixar de ser o partido da voz de protesto” — também é verdade que a seguir disse o contrário.
O Chega “tem de deixar de ser o partido da voz de protesto, que pode continuar a ser, mas tem a responsabilidade neste congresso de ser um partido de governo e de apresentação de soluções”, disse.
Num ataque ao PSD, Ventura reparou que, “uma vez que outros não fazem o seu trabalho”, é “importante combater o PS” — que, pela “destruição que tem feito ao país”, é “o maior adversário”.
Posiciona-se, por isso, numa luta “a três: com o PS e o PSD”. “Pode estar a acabar o tempo em que foram apenas dois partidos a governar Portugal. É essa credibilidade, desejo e ambição que gostava de passar neste congresso”, explicou.
Israel Pontes, a outra lista
Só há duas listas para o conselho nacional, o órgão máximo do partido entre congressos. Os 30 novos conselheiros do Chega serão eleitos domingo. Como é tradição, João Tilly, professor de liceu, encabeça a “lista de Ventura”, que tem o núcleo duro do líder — foi assim nas convenções de Santarém, Viseu e Coimbra.
A segunda lista é encabeçada por Israel Pontes, um empresário de Matosinhos, antigo campeão nacional de automóveis clássicos e restaurador de carros antigos. A decisão foi mal recebida por alguns militantes. Segundo relatos feitos ao PÚBLICO, militantes da segunda lista estão a ser contactadas por militantes da primeira a “dizerem-lhes que eles são ‘anti-Ventura’”.
Contactado pelo PÚBLICO, Pontes desvaloriza, mas confirma que “pelo menos três pessoas sentiram-se intimidadas, saíram da lista e foram substituídas”.
Pontes não tem ilusões sobre qual lista terá mais votos, mas “se eleger três ou quatro conselheiros nacionais” fica “extremamente satisfeito”. No topo estão João Abreu, empresário que presta serviços a hotéis; o comerciante de automóveis António Casal, ex-Partido Democrático Republicano (PDR), criado por Marinho e Pinto e hoje ADN; o piloto José Pedro Rodrigues, ex-CDS e autarca do Chega em Matosinhos; e Patrícia Tellechea, professora.
O PS costuma ter uma única lista consensualizada para o conselho nacional e o PSD teve, no congresso do Porto, sete listas para o conselho nacional.
Com cerca de mil participantes, começa esta sexta-feira, em Viana do Castelo, a VI Convenção do Chega, que decorrerá até domingo. Ventura é o único candidato à direcção do partido.