Do valor dos media ao valor do Jornal de Notícias para a Região Norte

Justifica-se, porventura, inscrever o bem cultural JN na lista do Património Cultural Imaterial da UNESCO.

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Os media influenciam a opinião pública e simultaneamente são influenciados e/ou condicionados por esta. “Influenciam diretamente a evolução coletiva das mentalidades, num processo dialético e complexo, em cada época e em cada país, com a informação que estrutura a cultura”, explica Jean-Nöel Jeanneney em Une histoire des medias.

A importância dos media na formação da cultura e da identidade, da opinião pública e da sua maturidade é admitida pelas várias teorias que tratam desta matéria. Em termos mais singulares, pode afirmar-se que cada órgão de comunicação social tem, per se, uma relevância considerável na cultura e identidade dos seus públicos, em cada época e espaço territorial. Há uma interação dialética com os públicos que, por sua vez, também influenciam e determinam as opções e a própria cultura dos que fazem o jornal, a rádio ou a televisão. Isto ocorre independentemente dos interesses económicos, hoje muito presentes na determinação de muitos conteúdos, nomeadamente nas televisões.

Há um serviço público associado ao papel do sistema mediático no seu conjunto, independentemente das opções editorais de cada órgão, por mais que estas sejam condicionadas por valores ideológico-políticos e por interesses económicos. Admitir a mera hipótese de que a independência destes só pode ser garantida pelo setor privado é uma falácia do agrado dos neoliberais, mas sem qualquer consistência prática, aqui ou lá fora.

Estes considerandos gerais vêm a propósito do atual desassossego à volta do JN, sem esquecer os outros órgãos ameaçados, como a TSF, O Jogo e o DN. E quem sabe se, a prazo, outros tantos.

O Jornal de Notícias, ao longo de 135 anos fez história, criou cultura e identidade, contribuiu decisivamente para sermos o que somos na Região Norte, com particularidades que nos diferenciam. Haverá algum concelho na região cujos pontos notórios da sua vida e história não estejam no JN, nesta janela de tempo de 135 anos? Ao mesmo tempo que criou memória e identidade, o JN tornou-se parte inseparável da cultura, das estórias e da História da região. Provavelmente, um dos poucos que resta.

Hoje, o JN, para além de um bem económico, de cuja gestão recente existem seríssimas dúvidas, é um bem cultural identitário de valor excecional para a Região Norte no seu conjunto, mas também para cada uma das suas parcelas territoriais. Se o é para Região Norte também o será para o país, para a Europa e para o mundo. Justifica-se pensar neste assunto e porventura inscrever o bem cultural JN na lista do Património Cultural Imaterial da UNESCO. Um dos objetivos da lista é preservar os bens patrimoniais que estejam em perigo de extinção. Esse perigo é evidente neste caso e as suas consequências são incalculáveis.

Acresce que o serviço público prestado pelo JN ao longo de 135 anos o torna credor perante a região e o país. A região e o país, e aqueles que os lideram e nele têm responsabilidades sociais, culturais, económicas e políticas, têm de fazer tudo o que seja legítimo e necessário para impedir a extinção pura e simples do Jornal de Notícias. Os municípios estão cá, mas têm constrangimentos legais. Os empresários da região são convocados como nunca. O Estado e as instituições públicas da região e do país podem e devem intervir. E a inscrição do JN na lista do Património Cultural Imaterial da UNESCO favorece e reforça a legitimidade dessa intervenção. O tempo urge.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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