Coreia do Norte faz mais de 200 disparos para região disputada com o Sul
Acção foi condenada pela Coreia do Sul, que respondeu com exercícios de fogo real. Não há vítimas nem danos reportados.
A Coreia do Norte fez mais de 200 disparos de artilharia ao longo da sua costa ocidental, perto de uma zona disputada com a Coreia do Sul, aumentando a tensão na península. As forças militares sul-coreanas responderam às acções de Pyongyang com exercícios de munições reais.
As autoridades sul-coreanas deram ordens à população de duas ilhas próximas da fronteira marítima com a Coreia do Norte para procurar abrigo em bunkers. O Estado-Maior do Exército sul-coreano informou que não houve quaisquer vítimas ou feridos, nem sequer danos à infra-estrutura, mas condenou os disparos da Coreia do Norte, definindo-os como uma “provocação”.
“O regresso da Coreia do Norte aos exercícios de artilharia dentro da zona livre de hostilidades esta manhã é um acto de provocação que ameaça a paz na península da Coreia e aumenta a tensão”, afirmou o ministro da Defesa, Shin Won-sik, através de um comunicado.
Os disparos da Coreia do Norte foram feitos entre as 9h e as 11h desta sexta-feira (0h e 2h em Portugal continental), mas não chegaram a entrar em território sul-coreano, tendo atingido a zona-tampão entre os dois países.
O Ministério da Defesa sul-coreano disse que as brigadas de fuzileiros estacionadas nas ilhas de Yeonpyeong e Baengnyeong realizaram disparos para o mar, a sul da fronteira marítima, numa demonstração de uma “resposta operacional avassaladora”.
A China, a principal aliada da Coreia do Norte, pediu contenção e apelou a ambos os lados que retomem o diálogo.
Não é a primeira vez que as águas na zona reivindicada pelos dois países é palco de escaramuças. O episódio mais grave foi o naufrágio de um navio de guerra sul-coreano, em 2010, alegadamente após ser atingido por um torpedo norte-coreano, matando 46 membros da tripulação.
No mesmo ano, a Coreia do Norte fez vários disparos de artilharia na direcção da ilha de Yeonpyeong, matando dois soldados e dois civis – Pyongyang disse na altura que estava apenas a responder aos exercícios militares sul-coreanos.
Os disparos desta manhã surgem numa altura de agravamento das tensões na península coreana. Em Dezembro, o regime de Pyongyang disparou um míssil balístico intercontinental, conhecido como ICBM, o quinto ao longo de 2023.
A Coreia do Norte tem dado sinais que apontam para um recrudescimento das relações com a Coreia do Sul, com quem está tecnicamente em guerra há mais de sete décadas. Numa declaração durante uma reunião do Partido dos Trabalhadores da Coreia, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, disse que a reunificação da Coreia já não é um objectivo do seu regime e que a política oficial de Pyongyang passa a ser a de considerar a Coreia do Sul como um Estado inimigo.
Em Novembro, a Coreia do Norte disse ter lançado com sucesso um satélite-espião para o espaço, tendo até conseguido fotografar a Casa Branca. Em retaliação, a Coreia do Sul suspendeu um acordo de cooperação militar que vigorava desde 2018, mas que, na prática, estava inactivo após inúmeras violações da parte de Pyongyang.
“Dado que a Coreia do Norte já não estava a aderir ao acordo, a possibilidade de uma colisão limitada esteve sempre presente”, disse o especialista do Instituto de Análise de Defesa da Coreia Jo Bee-yun, citado pela BBC.