Coreia do Norte diz que o seu novo satélite espião fotografou a Casa Branca
O primeiro satélite de reconhecimento, concebido segundo Pyongyang para espiar os EUA, foi lançado com êxito na semana passada. Até à data, nenhuma imagem registada pelo satélite foi divulgada.
Após décadas de vigilância por satélite por parte de governos e analistas estrangeiros, a Coreia do Norte enviou o seu primeiro satélite espião para uma órbita global com uma mensagem para o mundo: também podemos observar-vos.
Na terça-feira, os meios de comunicação social norte-coreanos afirmaram que o líder Kim Jong-un tinha analisado as fotografias de satélite da Casa Branca, do Pentágono e dos porta-aviões americanos na base naval de Norfolk.
Na semana passada, a Coreia do Norte lançou com êxito o seu primeiro satélite de reconhecimento, que, segundo o país, foi concebido para monitorizar os movimentos militares dos Estados Unidos e da Coreia do Sul.
Desde essa altura que os meios de comunicação social estatais têm vindo a informar que o satélite fotografou cidades e bases militares na Coreia do Sul, do território norte-americano de Guam, no Pacífico, e Itália, para além da capital norte-americana.
Numa publicação na rede social X (antigo Twitter), Chad O’Carroll, fundador do jornal online NK News, dedicado à Coreia do Norte, referiu-se aos relatórios divulgados pela agência de notícias norte-coreana KCNA: “Lembram-se de quando receberam aquele brinquedo que sempre quiseram no Natal e ficaram tão entusiasmados que queriam contar a toda a gente?”
Até à data, Pyongyang ainda não divulgou quaisquer imagens registadas pelo satélite, deixando os analistas e os governos estrangeiros a debater a capacidade efectiva do novo satélite.
Esta terça-feira, a Coreia do Sul afirmou que as capacidades do satélite norte-coreano para recolher informação não podem ser verificadas. Ao mesmo tempo, Seul anunciou o adiamento da data de lançamento do seu próprio satélite espião, prevista para 30 de Novembro num foguetão Falcon 9 norte-americano, devido às condições meteorológicas.
Não há razão para duvidar que o satélite possa observar grandes áreas ou os navios de guerra que a Coreia do Norte afirmou poder ver, uma vez que mesmo uma câmara de média resolução poderia oferecer a Pyongyang essa capacidade, disse Dave Schmerler, especialista em imagens de satélite do Centro James Martin para Estudos de não Proliferação (CNS). “Mas a utilidade dessas imagens depende do uso a que se destinam”, explicou.
Para que os satélites com câmaras de média resolução sejam úteis num conflito, a Coreia do Norte terá de lançar muitos mais para permitir passagens mais frequentes em locais-chave, disse Schmerler. Um objectivo que agência espacial norte-coreana afirma perseguir.
“É um grande salto passarem do zero para alguma coisa, mas, até podermos ver as imagens que estão a recolher, estamos só a especular sobre a forma de utilização”, acrescentou.
Por seu lado, Jeffrey Lewis, outro investigador do CNS, refere que uma fotografia de Kim a examinar as imagens de satélite com a sua filha publicada nos media estatais sugere que podem ser imagens pancromáticas, um tipo de fotografia a preto e branco que é sensível a todos os comprimentos de onda da luz visível.
A Coreia do Norte divulgou imagens pancromáticas do centro de Seul após o lançamento de um foguetão em Dezembro de 2022, no que disse ser um teste de controlo de satélites, captação de imagens e transmissão de dados para o seu eventual satélite de reconhecimento militar.
As fotos de terça-feira são as últimas de uma série de imagens das “principais regiões-alvo”, na descrição da KCNA.
Kim também inspeccionou fotografias de satélite da Base Aérea de Andersen, no território de Guam, no Pacífico Ocidental, e de um estaleiro e base aérea norte-americanos em Norfolk e Newport, onde foram avistados quatro porta-aviões de propulsão nuclear e um porta-aviões britânico, disse a KCNA.
A 27 de Novembro, o dia em que a Coreia do Norte diz ter captado as suas fotografias, as imagens comerciais dessas cidades não estavam ainda disponíveis.
Os Estados Unidos e a Coreia do Sul condenaram o lançamento do satélite norte-coreano como uma violação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU que proíbem qualquer utilização de tecnologia balística. Reuters