Ataque contra milícia em Bagdad faz subir um pouco mais a tensão no Médio Oriente

EUA consideram situação tão volátil que Antony Blinken vai fazer a sua quarta visita à região desde que começou a guerra entre Israel e o Hamas, há três meses.

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O ataque deu-se num centro logístico usado pelas Forças de Mobilização Popular EPA/AHMED JALIL

Um alto comandante de uma milícia iraquiana que os Estados Unidos dizem ser responsável por vários ataques a bases norte-americanas no Iraque e na Síria foi morto esta quinta-feira numa aparente operação americana com drone em Bagdad.

Um responsável do Departamento de Defesa dos Estados Unidos confirmou à Reuters a autoria do ataque sem nomear o visado, que fontes locais asseguram tratar-se de Mushtaq Talib al-Saidi, comandante da milícia Harakar al-Nujaba, com ligações ao Irão. Esta e outras milícias integram as chamadas Forças de Mobilização Popular, formalmente sob a alçada do Exército oficial iraquiano, mas que gozam de grande autonomia.

O drone disparou pelo menos dois rockets contra um veículo no interior de um centro logístico da milícia e matou três ou quatro pessoas – as fontes divergem quanto ao número exacto.

Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, há três meses, que as bases onde estão tropas americanas e dos aliados da coligação antijihadista têm sido alvo quase diário de ataques reivindicados por milícias apoiadas pelo Irão. Alguns destes grupos armados têm controlo efectivo sobre partes do território iraquiano e estão a aumentar a produção de rockets, mísseis e drones, que os Estados Unidos dizem que se destinam a ser usados contra as suas bases no Iraque e na Síria.

Os militares americanos já por diversas vezes retaliaram contra esses grupos, mas o ataque desta quinta-feira tem a particularidade de ter acontecido em Bagdad, algo que os Estados Unidos têm evitado. Em comunicado, o porta-voz do primeiro-ministro iraquiano, Mohammed Shia' Al Sudani, disse que esta era “uma escalada e uma agressão perigosas” e criticou “a violação flagrante da soberania e segurança do Iraque”, que “em nada difere de um acto terrorista”.

Também alguns líderes milicianos se insurgiram, prometendo vingança contra “as forças criminosas americanas” e reclamando “a partida imediata” da tropa estrangeira que continua no Iraque. Os Estados Unidos mantêm cerca de 2500 soldados no país e outros 900 na Síria.

A morte de al-Saidi acontece num momento particularmente delicado do Médio Oriente, em que aumentam os receios de que a guerra até agora circunscrita à Faixa de Gaza possa tomar uma dimensão regional. Os ataques dos últimos dias, atribuídos a Israel, em Beirute, no Líbano, matando o vice-líder do Hamas, e em Damasco, na Síria, matando um alto responsável dos Guardas da Revolução iranianos, assim como os ataques a cargueiros no mar Vermelho pelos houthis do Iémen, já ameaçados pelos Estados Unidos e aliados, têm vindo a alargar o espectro geográfico do conflito.

E põem na mira o Irão, o grande actor regional, inimigo número um de Israel, que financia e apoia vários dos grupos que têm atacado Israel e interesses ocidentais em solidariedade com a Palestina.

Os Estados Unidos consideram a situação regional tão potencialmente explosiva que o secretário de Estado, Antony Blinken, partiu esta quinta-feira novamente para o Médio Oriente, a sua quarta deslocação àquela parte do mundo nos últimos três meses. Na agenda de Blinken estão visitas à Cisjordânia, Turquia, Grécia, Jordânia, Qatar, Arábia Saudita, Egipto, Emirados Árabes Unidos e Israel.

“Não é do interesse de ninguém – nem de Israel, nem da região, nem do mundo – que este conflito se propague para lá de Gaza”, disse o porta-voz de Blinken, Matthew Miller.

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