Como são as mães e avós que gostaríamos de ter como companheiras

Nestas batalhas subliminares tenho sobretudo pena das mulheres que acabaram de ser mães, e que estão naquela fase meia perdida de tentar arranjar “amigas mães”.

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EDUARDO MOSER/SANDRADESIGN
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Querida Mãe,

Sabe como, às vezes, aliás muitas vezes, as mães fazem “grupinhos”, dividindo-se, por exemplo, entre as "mães que trabalham" vs. as que "mães que ficam em casa", as que dão de mamar vs. as que defendem os biberões? É uma forma ridícula de nos segregarmos, porque é evidente que não somos todas iguais, mas essas não são as diferenças relevantes.

Nestas batalhas subliminares tenho sobretudo pena das mulheres que acabaram de ser mães, e que estão naquela fase meia perdida de tentar arranjar "amigas mães", com quem se sintam bem, que tenham filhos da mesma idade, e que as apoiem quando estão a perder a sanidade, em lugar de as fazerem sentir mais incompetentes.

É um processo estupidamente parecido com aquele que se empreende quando se anda à procura de um namorado, e exige também que se defina um “perfil” que permita reconhecer "o nosso tipo de mãe".

Estive a pensar nisto, e aqui vão os meus requisitos para “mães amigas”, em versão anúncio dos classificados:

  1. Vão ao supermercado comprar ovos. Vão a pé, para não se sentirem culpadas de atentarem contra o ambiente, e voltam com dois sacos cheios de comida. E adivinhe o que é que não trouxeram? Acertou, mãe. Os ovos.
  2. Têm sempre douradinhos no congelador.
  3. Nas mochilas encontram-se sempre objectos perdidos, como chuchas, além de bolachas e um ou outro chupa-chupa.
  4. Falsificam sempre a hora das passagens de ano, para não terem de ficar acordadas até à meia-noite.
  5. No meio do caos marcam e cumprem consultas, vacinas, reuniões e festas de família.
  6. Adoram falar sobre os filhos de forma honesta, e não escondem as suas vulnerabilidades.

E a sua amiga avó gémea, como é?


Querida Ana,

Em primeiro lugar, quero dizer-te que para além de tua mãe, identifico-me com os requisitos exigidos no anúncio, por isso podes contar comigo no próximo encontro do teu “clube” de amigas! (Pronto, valeu pela tentativa...)

Quanto à minha avó-amiga, ao fim de 13 anos deste estatuto, já sei perfeitamente o que procuro:

  1. Tem de ser uma avó babada, que não esconde a paixão pelos netos. Não serve quem mantém, nem que seja só da boca para fora, aquela conversa do “Ah, agora que tomem conta deles, os paizinhos, que já fiz a minha parte”.
  2. Mostra fotografias dos netos, e gosta genuinamente de ver as dos nossos.
  3. Queixa-se de que lhes custa ver as “suas” crianças transmutarem-se de anjos em diabinhos sempre que os pais estão por perto.
  4. Não esconde que gosta de fazer programas só de avós e netos.
  5. Não concorre com as noras, não endeusa as filhas e os filhos, e não implica com os genros.
  6. Faz um esforço enorme para não dar muitos palpites e conselhos, mas nem sempre consegue conter-se e, por isso, tem compaixão dos avós que se arrependem de ter falado demais.
  7. É alérgica a uma educação de manual ou de app em punho, de dedo apontado aos que não seguem os mesmos gurus.
  8. Não está obcecada com regras, e quer lá saber se os netos deixam metade da sopa no prato, se sujam ao subir às árvores ou a saltar nas poças (aliás só oferece botas de borracha).
  9. Fica verdadeiramente histérica quando assiste a adultos que abusam do poder que têm sobre os mais pequenos, e procuram sugar a alma de uma criança, sem respeito pela sua individualidade.

Ana, sabes qual é a boa notícia? O que não faltam são avós assim!

Bom Ano, querida filha.


O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam.

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