Ovelhas limpam vinha no Douro mas preservam vegetação que ajuda a reter água

A aposta é na “agricultura regenerativa”. Paulo Coutinho colocou um rebanho de ovelhas a fazer pastoreio controlado nesta fase de dormência da videira. A maior dificuldade é que faltam rebanhos.

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Rebanho numa vinha em Saborosa, Vila Real. Um enólogo e produtor do Douro está a usar ovelhas para controlar o crescimento da vegetação LUSA/PEDRO SARMENTO COSTA
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Um pastor observa uma ovelha a pastar numa vinha em Saborosa, Vila Real LUSA/PEDRO SARMENTO COSTA
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Um rebanho de ovelhas pasta numa vinha em Saborosa, Vila Real LUSA/PEDRO SARMENTO COSTA
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Um rebanho de ovelhas pasta numa vinha em Saborosa, Vila Real LUSA/PEDRO SARMENTO COSTA
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Um rebanho de ovelhas pasta numa vinha em Saborosa, Vila Real LUSA/PEDRO SARMENTO COSTA
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Um rebanho de ovelhas está a ser utilizado para controlar o crescimento da vegetação numa vinha, em Sabrosa, método que reduz o uso de maquinaria, preserva as ervas e a biodiversidade do solo, tornando-o mais resiliente à seca. A aposta do produtor e enólogo Paulo Coutinho é na agricultura regenerativa. Na vinha do Borrajo, em São Martinho de Anta, colocou um rebanho de ovelhas a fazer pastoreio controlado nesta fase de dormência da videira.

"Isto prende-se com uma necessidade de gerir, no fundo, o coberto vegetal. A gestão para mim é que é o mais importante", afirmou o produtor à agência Lusa.

Paulo Coutinho fala num pastoreio controlado porque quer manter a erva viva, explicando que se pretende que as ovelhas percorram o terreno e se alimentem, mas sem eliminar o coberto vegetal que, neste caso, resulta de uma mistura entre ervas nativas e semeadas (rabanetes, trevos, aveias, mostardas).

LUSA/Pedro Sarmento Costa
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Desta forma reduz-se o uso de maquinaria e, para além disso, o pastoreio traduz-se em benefícios adicionais, como a incorporação de matéria orgânica no solo e o fornecimento de nutrientes através das fezes dos animais.

Com este método preserva-se, explicou, a biodiversidade do solo e as vantagens desta preservação passam por uma fixação de azoto, por capturar carbono, por aumentar a resiliência da vinha e do ecossistema e por baixar a temperatura do solo durante o verão. A diferença de temperatura entre um solo nu e um solo coberto pode ser de 20 graus.

"No fundo é voltar a dar vida ao solo, algo que nós durante muitos anos, numa viticultura convencional, andamos a danificar e a destruir. Para além dessa regeneração do solo é também importante a preservação da água [chuva] que nos cai e que vai diretamente para os ribeiros, rios e oceanos", afirmou.

Na sua opinião, "o Douro não tem falta de água, tem é falta de capacidade de preservar essa água", considerando que a melhor forma de preservar essa água é com o coberto vegetal.

"Nas áreas que estão desprotegidas, ou que não têm vegetação, estamos a perder território, por isso é que vemos o rio completamente cheio de lama e, portanto, isso é território que se vai embora, são nutrientes para as plantas que vão embora e é algo que vamos precisar para que a planta sobreviva e aguente durante um ciclo", referiu.

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Recuperar técnicas do passado

A limpeza do coberto vegetal pelo rebanho facilita os trabalhos na vinha, como a poda. As ovelhas poderão regressar mais tarde, mas, depois das videiras florescerem, Paulo Coutinho recorre a uma moto 4, com um cilindro, para tombar as ervas.

O viticultor está a recuperar algumas práticas agrícolas do passado, pouco usadas no Douro, mas que estão em crescimento em outras regiões vitícolas do país.

Uma das dificuldades apontadas para a implementação desta prática é a falta de rebanhos na região. O pastor Manuel da Silva, 76 anos, vive em Fonteita, já no concelho de Vila Real, e faz cerca de uma hora de viagem a pé para chegar à vinha do Borrajo.

É pastor desde criança, cuida do gado conjuntamente com a mulher e o filho e contou que é também o rebanho de 60 ovelhas e uma cabra que limpa a sua vinha e olival, ao mesmo tempo que os animais se alimentam, não tendo, assim, de recorrer a herbicidas ou a maquinaria para fazer o trabalho.

Com vinha em São Martinho de Anta e em Celeirós e produção biológica certificada, Paulo Coutinho tem apostado também na compostagem e na reutilização dos resíduos da vinha e da produção de vinho.

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"Num sistema agrícola podemos dizer que isto funciona quase em sistema fechado. No fundo aquilo que vou retirar da vinha, vou voltar a meter e se eu meter lá os restos da poda, os restos dos engaços, bagaços e até borras, para mim é muito mais fácil calcular aquilo que tenho que repor", referiu.

O primeiro vinho foi lançado no mercado em 2016, tem uma produção média anual de 3.500 garrafas e tem, neste momento, três referências de vinho tinto, branco e rosé que vende essencialmente no mercado nacional.

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