Marcelo, fã número 1 de Costa
Presidente da República tem-se desfeito em elogios ao primeiro-ministro. Agora aponta-lhe o cargo de presidente do Conselho Europeu.
Depois de ter aceitado a demissão do primeiro-ministro e dissolvido o Parlamento, Marcelo Rebelo de Sousa parece ter-se tornado uma espécie de fã número 1 de António Costa.
Quando lhe perguntaram há uns dias quem preferia para secretário-geral do PS, se Pedro Nuno Santos ou José Luís Carneiro, respondeu que o seu preferido era mesmo António Costa. E nesta semana, quando foi ao Barreiro beber a tradicional ginjinha de Natal, fez outro elogio ao ainda primeiro-ministro que tem muito pouco de convencional. “Eu, por exemplo, desejaria que o primeiro-ministro estivesse em condições de ter um lugar na Europa, como presidente do Conselho Europeu”, revelou, considerando que seria uma forma de Costa “realmente fazer o que faz bem, o que gosta de fazer e que lhe permitiu ter um prestígio grande em termos europeus ao longo destes oito anos em que já é talvez o primeiro-ministro mais antigo da Europa”. Marcelo foi ainda mais longe e considerou que para isso acontecer era bom que o inquérito aberto a Costa no Supremo Tribunal de Justiça no âmbito da Operação Influencer fosse concluído rapidamente.
O desejo expresso pelo mais alto magistrado da nação é inusitado e choca com uma série de variáveis. Primeiro, é preciso haver eleições europeias (que estão marcadas para 9 de Junho) e saber a relação de forças entre Partido Popular Europeu e Partido Socialista Europeu, sendo que a família política mais votada fica com o cargo executivo e mais importante, a presidência da Comissão Europeia. Depois, distribuem-se os restantes lugares de topo: presidente do Conselho Europeu, presidente do Parlamento Europeu e alto representante para os Negócios Estrangeiros.
Acontece ainda que, desde que o cargo de presidente do Conselho Europeu é permanente (antes o cargo era rotativo), têm sido sempre escolhidos primeiros-ministros em exercício: Herman Van Rompuy em 2009 (era primeiro-ministro da Bélgica), Donald Tusk em 2014 (era primeiro-ministro da Polónia) e Charles Michel em 2019 (era primeiro-ministro da Bélgica).
Na mensagem de boas festas ao Governo, Marcelo Rebelo de Sousa tinha assumido que a boa coabitação com Costa e o suporte à “geringonça” valeram-lhe sempre a incompreensão do seu “hemisfério” de apoio. Empurrar o primeiro-ministro para um cargo europeu, designadamente, o de presidente do Conselho Europeu em vésperas de eleições europeias, não faz qualquer sentido em nenhuma geografia possível. A não ser que Marcelo esteja em campanha pelo PS.