Combates na segunda cidade do Sudão provocam fuga em massa

Entre 250 mil e 300 mil pessoas fugiram de Wad Madani devido aos combates entre o Exército e as Forças de Apoio Rápido, que agora controlam a cidade, onde o sistema de saúde “entrou em colapso”.

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Refugiados sudaneses no Chade ZOHRA BENSEMRA/Reuters
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Pouco mais de uma semana de combates entre o Exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido (RSF) na segunda maior cidade do Sudão levou à fuga de cerca de 300 mil pessoas, fazendo subir o número de deslocados provocados por oito meses de conflito para cerca de sete milhões, de acordo com as Nações Unidas. A que se somam mais 1,5 milhões que procuraram refúgio nos países vizinhos.

Desde terça-feira que Wad Madani está sob controlo dos paramilitares, comandados pelo general Mohamed Hamdan Dagalo. Na sexta-feira, o Sindicato dos Médicos do Sudão, em comunicado, referiu que "todos os centros de saúde da cidade estão fora de serviço e o sistema de saúde entrou em colapso".

Apesar da abertura para um cessar-fogo e negociações políticas acordadas a 9 de Dezembro, na cimeira extraordinária de líderes da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (AIPD/IGAD), no Djibuti, com o assentimento do general Dagalo e do seu rival, o general Abdel Fattah al-Burhan, nem os dois líderes se encontraram ainda nem os seus homens pararam de combater.

Situada 136km a sudeste de Cartum, Wad Madani, capital do estado de Gezira, no centro-leste do país, tinha uma população calculada em pouco mais de 400 mil pessoas, por isso, a fuga em massa da cidade corresponde a cerca de três quartos dos seus habitantes. Milhares fugiram para Gadarife e Senar, mas muitos outros milhares estão em trânsito, pensa-se que em direcção aos estados de Cassala e do Nilo Azul.

De acordo com o Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) da ONU, os combates começaram no dia 15 nos arredores da cidade, registando-se bombardeamentos aéreos em vários pontos da cidade e também na aldeia de Alsharfa Barakat, nos arredores. Os paramilitares entraram na cidade na segunda-feira e na terça-feira assumiram o seu controlo, depois de os soldados do Exército se terem retirado.

O comportamento dos militares deixou o seu comandante enfurecido: “Cada soldado cumpre o seu dever com honestidade. Quem forçou a retirada será responsabilizado sem pena nem agravo”, disse o general Al-Burhan num discurso reproduzido pelo Sudan Tribune.

Gezira era, até ao rebentar deste novo pólo de conflito, um dos últimos refúgios seguros do país e a ONU está preocupada com a possibilidade de uma situação humanitária catastrófica se tornar ainda pior. Até porque a Organização Internacional para as Migrações (OIM) diz que as mais de 500 mil pessoas que tinham procurado refúgio da guerra no estado começaram a deslocar-se novamente.

"Esta é uma tragédia humana de proporções imensas, que aprofunda a já terrível crise humanitária no país", afirmou Amy Pope, directora-geral da OIM. "A intensificação do conflito e as deslocações crescentes sublinham a urgência de uma resolução pacífica, a necessidade de um cessar-fogo e de uma resposta robusta para evitar uma catástrofe mais vasta", acrescentou, citada pela Europa Press.

Os 8,5 milhões de deslocados e refugiados por causa do conflito tornam o Sudão o cenário da maior deslocação de população do mundo na actualidade. Segundo as Nações Unidas, é um número “assombroso num país que cambaleia por causa do conflito, da insegurança alimentar e do colapso económico”.

Encontro

Na sequência das conversações no Djibuti, o comandante do Exército e presidente do Conselho Soberano do Sudão, formado em 2019 depois da queda de Omar al-Bashir, e o comandante das RSF, o general Dagalo, conhecido por ‘Hemedti’, procuram agora acertar um encontro cara a cara. A notícia foi avançada por Antony Blinken, secretário de Estado dos Estados Unidos, cuja diplomacia se tem esforçado para tentar encontrar uma solução para o conflito.

Washington teme que quanto mais o conflito se prolongue mais oportunidades terá a Rússia para ganhar ascendente no país através do grupo Wagner, que chegou ao Sudão com Al-Bashir, mas que desde que o antigo Presidente caiu em desgraça se tem juntado aos paramilitares.

“Os Estados Unidos contribuíram para alcançar um acordo preliminar no qual os dois líderes do Sudão concordaram em reunir-se para se comprometerem com um cessar-fogo”, disse Blinken, acrescentando que “é uma reunião que ainda tem de acontecer, mas estamos a fazer pressão para que tal aconteça”.

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