Imobiliária israelita anunciou venda de casas em Gaza? Sim, mas diz que era uma “piada”
“Uma casa na praia não é um sonho!”, publicitou a imobiliária Harey Zahav. Depois de provocar indignação nas redes sociais, empresa diz que foi tudo “uma piada”.
A publicação
O contexto
A página “Palestina em português” publicou no Instagram um alegado anúncio de uma imobiliária israelita que estará a publicitar a construção de um conjunto de casas em terrenos na Faixa de Gaza.
“A perversidade não tem limites: imobiliária israelita anuncia pré-venda de casa em Gaza com o seguinte slogan: ‘Acorda, casa na praia não é sonho!’”, lê-se na publicação.
Nos comentários, há quem questione a autenticidade do anúncio, afirmando que “não pode ser real”. “É necessário ter muita falta de noção para montar casas onde morreram milhares de pessoas”, escreve um utilizador.
Os factos
O anúncio mencionado pelo perfil “Palestina em português” foi publicado, originalmente, por uma página chamada Harey Zahav. Trata-se, efectivamente, da página oficial de Instagram de uma imobiliária israelita.
À data de publicação deste artigo, não só o anúncio, mas toda a página da imobiliária deixou de estar disponível na rede social. O Facebook da empresa, onde também foi publicado o anúncio, também já não está disponível para consulta. O PÚBLICO, porém, fez uma captação de ecrã da publicação de Facebook antes de esta ser eliminada.
Cruzando a informação fornecida pela ferramenta de tradução do Google Lens e a tradução feita, a pedido do PÚBLICO, por Miriam Swirsky, professora de Hebraico na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, percebe-se que anúncio da imobiliária diz, na parte superior: “Ter uma casa na praia não é um sonho!”.
“Na Harey Zahav estamos a trabalhar para preparar o terreno para o regresso a Gush Katif”, lê-se na mesma publicação. “Alguns dos nossos trabalhadores começaram a trabalhar na recuperação do terreno, remoção de resíduos e expulsão de invasores. Esperamos que, em breve, todos os reféns voltem em segurança às suas casas, os nossos soldados regressem aos seus lares e possamos iniciar a construção na Faixa de Gaza, em todas as regiões de Gush Katif.”
Gush Katif era um bloco de colonatos judaicos na Faixa de Gaza que foi desmantelado em 2005.
O CEO da Harey Zahav, Zeev Epshtein, no entanto, segundo o jornal israelita Haaretz e o jornal francês 20 Minutes, justificou que se tratava de uma “piada”. “É uma piada. Nós não somos o Estado de Israel. Somos uma empresa privada, é claro que uma empresa privada não pode tomar tais decisões”, terá dito o responsável da imobiliária à televisão israelita, citado pelo 20 Minutes. Ao Haaretz disse que era “uma espécie de ideia satírica”.
“Não estamos a construir, nem temos intenção de construir”, cita o jornal israelita. “Queremos que aconteça, mas é uma decisão do Estado. Não temos influência”, continuou.
Veredicto
É verdade que uma imobiliária israelita anunciou a venda de casas em terrenos na Faixa de Gaza onde já existiu um bloco de colonatos, antes de 2005. No entanto, o dono da empresa terá dito, segundo vários órgãos da imprensa internacional, que tudo não passou de uma “piada” e de uma “ideia satírica”.
