Quem eram e como morreram os três reféns mortos por engano por Israel?

Um era fã de heavy metal, outro um pianista e o terceiro era motard. Os três reféns conseguiram fugir do Hamas, mas foram mortos pelas forças israelitas. Tinham uma bandeira branca na mão.

Foto
Yotam Haim, Samar Fouad Talalka e Alon Shamriz (da esquerda para a direita) foram levados como reféns pelo grupo militante palestiniano Hamas e mortos por engano pelas Forças de Defesa de Israel Reuters/HOSTAGES AND MISSING FAMILIES FO
Ouça este artigo
00:00
04:49

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Samar Fouad Talalka​​ estava a trabalhar no dia em que tudo aconteceu. Enquanto esperava para ingressar num curso de Engenharia Informática, o rapaz de 22 anos, apaixonado por motas, passava os fins-de-semana num aviário em Nir Am, no Sul de Israel e a apenas dois quilómetros da fronteira com a Faixa de Gaza, onde ajudava o pai a cuidar das galinhas.

A 7 de Outubro, quando os militantes do Hamas entraram em Israel e mataram mais de 1400 pessoas, a irmã do jovem recebeu um telefonema: Samar, que tinha entrado ao trabalho às primeiras horas da manhã, tinha sido baleado. Depois, a chamada caiu e o contacto nunca foi recuperado.

A confirmação de que Samar​ era refém do Hamas chegou quando surgiu num dos vídeos do movimento islamista palestiniano. Dois meses depois de ter sido capturado, ele e outros dois reféns conseguiram escapar aos captores e correram ao encontro das forças de Israel. Mas acabaram mortos por engano por dois soldados israelitas.

As primeiras conclusões do inquérito aberto depois de o Governo e de as Forças de Defesa de Israel (IDF) terem assumido a morte acidental de três reféns na Faixa de Gaza dizem que Samar e os outros dois israelitas — Yotam Haim, de 28 anos, e Alon Shamriz, de 26 — estavam em tronco nu e tinham uma bandeira branca improvisada quando foram mortos.

Segundo o The Times of Israel, os três homens terão fugido de um edifício onde eram mantidos reféns em Shejaiya, na Cidade de Gaza, e foram ao encontro de um soldado israelita que estava a alguns metros de distância. Esse soldado terá julgado, no entanto, que tudo se trataria de uma armadilha para atrair a atenção das forças israelitas e investir contra elas.

Só que nenhum dos três indivíduos era do Hamas. Yotam Haim, baterista de uma banda de heavy metal, os Persephore, estava no bunker da sua casa, na comunidade de Kfar Aza, quando foi raptado. Antes de desaparecer, no dia do ataque, enviou um vídeo à mãe em que é possível ouvir os tiros dos membros do Hamas. A casa acabou por ser incendiada e Yotam Haim foi levado pelo grupo.

Alon Shamriz, estudante de engenharia informática, também foi raptado em casa, na mesma comunidade. Apenas um mês e meio antes do ataque do Hamas em Israel, o jovem tinha estado nas Filipinas a tocar piano. Essa era a sua verdadeira paixão — a música. Segundo a mãe, já tinha viajado um pouco por toda a Ásia a tocar piano em bares. Inicialmente a família não deu autorização para que o seu nome fosse revelado, mas depois acabou por dar permissão.

Quando viu os três jovens a correrem na sua direcção, o soldado israelita julgou que estava a ser atacado e, por isso, abriu fogo enquanto gritava: "Terroristas!" para alertar os restantes militares. Dois dos homens morreram imediatamente, enquanto o terceiro regressou para o edifício com ferimentos.

Entretanto, o comandante do batalhão, que estava no interior do edifício, saiu à rua e deu ordens para parar os disparos. O terceiro homem, ferido, saiu novamente ao exterior. E foi nesse momento que um segundo soldado disparou contra ele, matando-o.

As IDF admitem que os soldados agiram contra as regras do combate definidas pela hierarquia, mas também recordaram que já se têm cruzado com homens, aparentemente civis, que revelaram ser bombistas suicidas sob as ordens Hamas.

Outras vezes, os militantes do movimento caminham desarmados, sem equipamento militar, mas atacam os israelitas com armas abandonadas no interior dos edifícios. As emboscadas também são comuns, o que pode ter confundido os soldados. De resto, as IDF dizem não ter conhecimento à época de que havia reféns naquele edifício: estavam ali por acreditarem que ele estava armadilhado.

As forças israelitas admitiram o incidente na sexta-feira. "Durante os combates em Shejaiya, as IDF identificaram erroneamente três reféns israelitas como uma ameaça. Em resultado, alvejaram-nos e os três reféns foram mortos", declarou o porta-voz militar, Daniel Hagari. "Durante a verificação da área do incidente, surgiram suspeitas quanto à identidade dos mortos. Os corpos foram levados para exame em território israelita e descobriu-se que eram reféns israelitas", acrescentou.

Este sábado, em conferência conjunta com Benjamin Netanyahu e Benny Gantz, Yoav Gallant, ministro da Defesa, disse que “assumia a responsabilidade pela morte dos reféns. Já o primeiro-ministro afirmou que a tragédia lhe “partiu o coração”. "O Estado de Israel está a chorar e está de luto pelas mortes dos três reféns."

Perante os protestos dos familiares dos reféns, em Telavive, onde milhares de pessoas se concentraram este sábado, e os pedidos de novo cessar-fogo em Gaza, Netanyahu respondeu, porém, que Israel está “determinada em continuar” a lutar “até ao fim”.

Sobre o futuro da Faixa de Gaza depois da guerra, reforçou que não apoiará um Governo da Autoridade Palestiniana e que apenas considera a desmilitarização total do enclave, sob o controlo das Forças de Defesa de Israel.

Sugerir correcção
Ler 39 comentários