Jornalista da Al-Jazeera morto após horas sem socorro depois de ataque em Gaza

Samer Abudaqa morreu depois de um ataque israelita que também deixou ferido Wael Al-Dahdouh. Não conseguia andar e não foi possível chegar ao local onde estava a tempo de ser salvo.

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Um homem mostra o colete do jornalista Wael Al-Dahdouh, que escapou a um ataque com ferimentos. O seu colega Samer Abudaqa morreu BASSAM MASOUD/Reuters
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Um jornalista da emissora Al-Jazeera na Faixa de Gaza, o operador de câmara e editor Samer Abudaqa, morreu após um ataque israelita em Khan Younis, no Sul da Faixa de Gaza, depois de estar cinco horas a sangrar sem que socorristas ou paramédicos conseguissem chegar ao local onde estava. No mesmo ataque, o jornalista Wael Al-Dahdouh ficou ferido, mas como foi capaz de andar, conseguiu receber tratamento hospitalar.

Ao longo da tarde, a Al-Jazeera foi dando conta de esforços para chegar à localização onde estava Samer Abudaqa, dizendo que as forças israelitas não tinham dado luz verde para qualquer equipa se deslocar ao local onde estava o jornalista. A estação dizia que há cerca de cinco horas que Abudaqa estava no chão, a sangrar dos ferimentos.

Ao final da tarde, uma tentativa com uma ambulância falhou. Khan Younis estava intransitável, bloqueada “pelos escombros de uma casa destruída”, explicou a Al-Jazeera. Iria fazer uma segunda tentativa juntamente com um bulldozer que iria para abrir caminho. Dali a pouco, nova informação: “Os socorristas só conseguiram retirar o corpo de Samer Abudaqa”, segundo um porta-voz da Al Jazeera citado pela agência Reuters.

O outro jornalista atingido, Wael Al-Dahdouh, 52 anos, o chefe da delegação da Al-Jazeera em Gaza, foi notícia quando, a 25 de Outubro, um ataque israelita atingiu a casa onde a sua família estava – tinham saído da sua casa após avisos israelitas em relação ao Norte de Gaza e estavam no centro do território. A mulher, uma filha e um neto morreram (nesta guerra, morreram já mais familiares de outros três jornalistas da Al-Jazeera).

Dahdouh recebeu a notícia quando estava numa emissão ao vivo. Pouco tempo depois, decidiu continuar a trabalhar. “Sinto que é meu dever, apesar da dor e da ferida aberta, voltar para a frente da câmara e comunicar convosco nas redes sociais logo que possível”, declarou então. “Como podem ver, há disparos em todo o lado, há ataques aéreos e disparos de artilharia, e vai continuar a haver desenvolvimentos.”

O vice secretário-geral da Federação Internacional de Jornalistas, Tim Dawson, chamou a atenção para a situação dos jornalistas em Gaza, “que sofreram as perdas mais extraordinárias e estão a mostrar a coragem mais extraordinária continuando a fazer o seu trabalho”, acrescentando que esta guerra “não tem paralelo” com nenhuma outra na história recente em termos de mortes de jornalistas.

O Tribunal Penal Internacional tem de se preparar para os “muitos casos” que irão surgir deste conflito, afirmou ainda Dawson. “Penso que por muito tempo, e com razões para isso, [os jornalistas na Palestina] pensam que estão de algum modo fora da protecção da lei internacional, e não penso que se deva permitir que isso continue”, afirmou à Al- Jazeera.

O Comité para a Protecção de Jornalistas disse que este era o conflito com mais mortes de jornalistas que o organismo documentou nos últimos 30 anos. Morreram pelo menos 56 jornalistas palestinianos, quatro israelitas e três libaneses, e três são dados como desaparecidos.

Enquanto isso, em Jerusalém Oriental, um fotojornalista, Mustafa Al-Haruf, foi agredido violentamente por dois agentes da política fronteiriça e teve de receber tratamento hospitalar. A agressão foi filmada por outros repórteres no local e os dois agressores foram suspensos.

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