Semana de quatro dias reduziu níveis de exaustão em 19%

Maioria dos trabalhadores que participaram no projecto dizem que só mudariam para uma empresa a trabalhar cinco dias por semana em troca de um aumento salarial de 20%.

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Pedro Gomes e Rita Fontinha são os dois investigadores responsáveis pelo relatório apresentado esta terça-feira NUNO FERREIRA SANTOS
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A semana de quatro dias permitiu reduzir os níveis de exaustão dos trabalhadores em 19% e a percentagem de pessoas que consideram ser difícil ou muito difícil conciliar trabalho e família caiu de 46% para 8%. Estes são alguns dos resultados preliminares do projecto-piloto da semana de quatro dias, apresentados nesta terça-feira, em Lisboa, pelos investigadores Pedro Gomes e Rita Fontinha.

O projecto arrancou em Junho e envolve directamente 21 empresas e 332 trabalhadores, a que se somam mais duas dezenas de organizações (733 trabalhadores) que haviam iniciado a experiência uns meses antes.

Cerca de 200 trabalhadores responderam a um inquérito antes e três meses depois do início do projecto e os resultados apontam para uma melhoria geral de todos os indicadores relacionados com a saúde mental.

“É possível verificar que os níveis de exaustão por causa do trabalho e o desgaste ao fim do dia diminuíram após a implementação da redução horária”, referem os investigadores.

Em média, acrescentam, os sete indicadores que avaliam o grau de exaustão, desgaste e frustração com o trabalho melhoraram em 19% relativamente ao período anterior ao projecto-piloto.

Esta melhoria da saúde mental foi acompanhada de “uma clara melhoria” da conciliação do trabalho com a vida familiar. Antes do início da semana de quatro dias, 46% dos trabalhadores afirmavam ter dificuldade ou muita dificuldade em conciliar as várias dimensões da sua vida, percentagem que caiu para 8% no decurso do projecto.

Carga horária diminui

No inquérito, os investigadores tentaram também avaliar o valor monetário que os trabalhadores atribuem à semana de quatro dias, perguntando-lhes quanto teria de aumentar o seu salário para mudarem para uma empresa onde se trabalha cinco dias.

Cerca de 85% responderam que só mudavam se lhe pagassem mais 20%; e 14% não aceitariam por qualquer valor.

De acordo com o documento agora divulgado, as 41 empresas que adoptaram a semana de quatro dias de trabalho dão conta de uma redução média de 13,7% das horas semanais laborais, de 39,3 para 34 horas.

Para conseguir isso, 75% das empresas adoptaram mudanças organizacionais, como a redução do número e duração de reuniões, a criação de blocos de trabalho, ou a adopção de novo software.

As soluções encontradas pelas empresas foram muito variadas. Em 58,5%, os trabalhadores têm um dia livre por semana; e em 41,5% optaram por uma quinzena de nove dias, alternando uma semana de quatro dias com uma semana de cinco dias.

Pedro Gomes, um dos coordenadores do projecto e professor em Birkbeck, Universidade de Londres, destacou que as principais dificuldades com que as empresas tiveram de lidar ao longo dos últimos meses estão relacionadas com a medição da produtividade, com a mudança da cultura da empresa de modo a evitar o desperdício de tempo, assim como a articulação da semana de quatro dias com os períodos de férias.

Apesar das dificuldades, Pedro Gomes considera que o projecto-piloto mostra que a semana de quatro dias “não é um bicho-de-sete-cabeças” e “é possível”. “É uma prática de gestão legítima, que pode resolver problemas de retenção de trabalhadores, de absentismo, de stress ou de desigualdade de género”, conclui.

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