“Ratos que saem do buraco”: a música que lidera os tops israelitas é um “apelo ao genocídio”

Com mais de cinco milhões de visualizações no YouTube e no top do Spotify, a música é uma mensagem de ódio declarada aos palestinianos e a quem os apoia.

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"Garanto-vos que não vai haver perdão", diz a música DR
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“Harbu Darbu” ou, em português, “Espadas e ataques”: é este o nome da música que está no topo das tabelas musicais em Israel. A canção, que já atingiu as 5,4 milhões de visualizações no YouTube, é uma mensagem não só pró-guerra, mas de ódio aos palestinianos e está a conquistar os israelitas.

“Cambada de ratos que saem do buraco / Garanto-vos que não vai haver perdão.” É assim que arranca a música de Ness & Stilla, com um dos jovens a segurar uma bandeira de Israel. Seguem-se cerca de dois minutos e meio de agradecimentos ao exército, ameaças e incentivo ao ódio, com menções a líderes do Hamas, do Hezbollah, mas também a figuras públicas como a modelo Bella Hadid, a cantora Dua Lipa ou a ex-actriz porno Mia Khalifa, que mostraram apoio (ou, pelo menos, empatia) com as vítimas de Gaza. “O vosso dia vai chegar”, ameaçam.

E Mia Khalifa respondeu: “Aquela música que está a pedir ao exército israelita para me matar a mim, à Bella e à Dua tem um beat de drill. Nem sequer conseguem apelar a um genocídio usando a sua própria cultura, tiveram de colonizar outra para o fazer.”

Khalifa perdeu contratos de trabalho por ter mostrado apoio aos “lutadores palestinianos”. Depois de críticas, referiu que não queria incitar a qualquer tipo de violência, mas que era assim mesmo que via os palestinianos, como pessoas que “lutam pela liberdade todos os dias”.

Além de ter chegado ao topo das tabelas, a música está-se a tornar também tendência no TikTok, com vários jovens a fazerem gestos de armas, ou coreografias que estamos habituados a ver na plataforma — só que não com palavras como “quem pensam que são, vir gritar ‘Palestina livre’?” ou com um refrão que entoa repetidamente “um, dois, dispara”.

Estes vídeos juntam-se assim aos que já circulavam a fazer troça do povo palestiniano: israelitas a beber água da torneira, num momento em que o acesso a água em Gaza é muito difícil; soldados a dançar com lenços na cabeça, dentes pintados de preto e frases como "a minha casa não tem electricidade".

A letra da música compara ainda os que apoiam a Palestina a inimigos bíblicos de Israel, os amalequitas, uma referência já feita por Benjamin Netanyahu: “Têm de se lembrar do que Amaleque nos fez, diz na Bíblia. Nós lembramo-nos e estamos a lutar”, disse o primeiro-ministro. Na Bíblia, Deus diz que devem ser aniquilados.

Já foram mortos mais de 15 mil palestinianos desde o início do ataque de Israel. O alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, disse que “há um risco acrescido de crimes de atrocidades” na Faixa de Gaza. Chamou ainda a atenção para a “situação de horror total” que os palestinianos vivem, e que “não pára de piorar”.

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