Referendo na Venezuela sobre território da Guiana “aprovado com 95% dos votos”
Governo de Nicolás Maduro pretendeu referendar uma eventual anexação do território de Essequibo. Presidente da Guiana garante que o seu país “não será pisado”.
A comissão de eleições venezuelana anunciou que o referendo de domingo sobre a disputa territorial entre a Venezuela e a Guiana, em que o Governo de Nicolás Maduro reivindica o controlo sobre dois terços do país vizinho, teve o apoio de pelo menos 95% dos votantes.
Numa mensagem publicada na rede social X (o antigo Twitter) na madrugada desta segunda-feira (hora portuguesa, noite de domingo na Venezuela), Maduro congratulou-se com "uma jornada eleitoral histórica, coroada com uma vitória esplendorosa em cinco respostas contundentes em que o nobre povo reafirma que a Guiana Essequiba é da Venezuela".
"Sim à paz, sim ao respeito pela soberania, sim ao diálogo, sim à nossa luta histórica e sim à pátria independente", declarou o Presidente venezuelano após o anúncio do resultado.
Em resposta, o Presidente da Guiana, Irfaan Ali, disse que o seu país "não será pisado" pela Venezuela e avisou que está "preparado para se defender".
"Nenhum tipo de propaganda ou de mentira incutirá o medo no meu coração ou no coração de todos os guianenses", afirmou Ali num discurso perante uma multidão no Estádio Nacional de Providence, a dez quilómetros da capital, Georgetown, citado pela agência Europa Press.
Ao mesmo tempo, o Presidente da Guiana apelou aos seus compatriotas para que mostrem "empatia e amor" pelo povo venezuelano, principalmente com os cidadãos que tiveram de emigrar devido à difícil situação financeira no país.
Em causa está o controlo sobre a região de Essequibo, que corresponde a cerca de dois terços do território da Guiana, a oeste do rio com o mesmo nome. Trata-se de uma região com uma área de 160 mil quilómetros quadrados (equivalente à área total da Tunísia, por exemplo), que é praticamente toda ocupada por selva, apenas com algumas localidades mais populosas na costa.
Em 1899, um tribunal arbitral em Paris decidiu que o território pertencia à Guiana Britânica, então uma colónia britânica. Em meados da década de 1960, a Venezuela e o Reino Unido chegaram a acordo para uma revisão da decisão de 1899, mas esse passo nunca chegou a ser concretizado devido à independência da Guiana, em 1966.
As reivindicações da Venezuela ressurgiram na última década, depois de terem sido descobertas vastas reservas de petróleo ao largo da costa, em 2015.
O achado, que está a ser explorado pela petrolífera norte-americana ExxonMobil, fez da Guiana um país extremamente rico. A pequena economia local já está a usufruir da riqueza proporcionada pela exploração petrolífera: entre 2021 e 2022, o PIB subiu 63%, de acordo com o Banco Mundial.
A realização de um referendo, nesta altura, estará também relacionada com o calendário eleitoral na Venezuela. Maduro, que vai a eleições em 2024, está a ser pressionado internacionalmente a autorizar a candidatura da principal candidata da oposição, María Corina Machado, e a recuperação da disputa territorial com a Guiana pode exaltar o patriotismo venezuelano.
Não é claro o que o Presidente da Venezuela pretende fazer com os resultados do referendo de domingo, e qualquer acção militar venezuelana contará com a oposição dos Estados Unidos, que já prometeram apoio à Guiana; além disso, a alteração da situação vigente poderá levar os EUA a suspenderem um levantamento progressivo das sanções à Venezuela.