José Luis Morales e a “traição” antes da reforma

Depois de 11 anos no Levante, o avançado trocou de clube, após uma descida de divisão. Aos 36 anos, ainda marca golos no Villarreal e diz que quer acabar no Levante – se o deixarem.

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Morales celebra pelo Villarreal EPA/Jose Manuel Vidal
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Quando se fala de jogadores de um clube só há, em geral, um encanto dos adeptos — dos do próprio clube, naturalmente, mas também dos demais. O futebol gosta de um bom “one club man”. O jogador que deu, neste domingo, ao Villarreal o empate (1-1) no terreno do Sevilha era um desses. José Luis Morales deixou de o ser há pouco tempo, quando trocou o Levante pelo Villarreal. E fê-lo, na visão dos adeptos do Levante, com recurso a uma traição.

Após a despromoção enfrentada no final da temporada 2021-22, Morales tinha deixado claro que, “face a todo o contexto sentimental com o Levante não passa pela cabeça abandonar o clube numa situação de descida”. Mais tarde, passou-lhe. E deixou mesmo o Levante.

Sabe que os adeptos se sentiram traídos e assume-se escravo das palavras. “Entendo que se sintam tristes com o que eu disse e que agora não vou cumprir. Serei escravo das minhas palavras e isso não vai mudar a curto prazo”, reconheceu ao El Mercantil Valenciano.

Morales queria um desafio profissional diferente, justificando a decisão de carreira com o facto de ter chegado tarde ao futebol (24 anos), razão pela qual sentia que tinha de ver onde poderia chegar. Hoje, é alguém que leva sete golos nos últimos quatro jogos ao serviço do Villarreal, desde que assumiu a titularidade no ataque.

Herói no Levante

A carreira de Morales foi feita quase na totalidade no Levante. Em 11 anos, tornou-se o jogador com mais jogos, golos e assistências da história do clube na Liga espanhola e só saiu quando o emblema desceu de divisão, a meio do ano passado, fruto de um 19.º lugar.

A nível pessoal, é um legado interessante, mas adensado ainda por uma aura que conquistou pelo percurso incomum, longe do habitual dos principais craques, que crescem em academias.

Andou em pequenos clubes de bairro durante vários anos, entrou num clube também pouco renomado aos 20, nos escalões secundários, e só aos 24 foi recrutado pelo Levante — primeiro para competir pela equipa B (22 golos em 79 jogos), depois para um empréstimo ao Eibar (três golos em 39 partidas) e só por fim para integrar a equipa principal. Tudo somado, só aos 27 anos se estreou na Liga espanhola.

Para o avançado nascido em Madrid, isso não foi um handicap, mas um motivo de orgulho. “As academias fazem muito mal. Um rapaz, por jogar na academia do Real sendo de fora de Madrid, perde quase a sua infância. Fica fechado numa residência, deixando a família e os amigos. Na academia, tudo é no sentido de pressionar os miúdos. Nessa idade, tens de desfrutar”, apontou.

E foi mais longe, quando lhe perguntaram se não teria sido melhor jogador se tivesse passado por uma academia de futebol, com outras condições e ferramentas ao dispor: “Teria sido igual ou talvez pior, porque não teria sido feliz como fui a caminhar para a escola com os meus amigos”.

Morales cresceu a jogar futebol no Brunete, pequeno clube da região de Madrid, e diz que lá não se tratava propriamente de aprender futebol. “Lá não aprendi conceitos de futebol. Desfrutava como uma criança e não ia treinar para aprender. Éramos todos amigos e só queríamos diversão nos treinos e nos jogos”.

Selecção?

Nesta fase da carreira, José Luis Morales pode ambicionar ser relevante num clube de média dimensão em Espanha, como o Villarreal, mas os 36 anos são, em teoria, um entrave para pensar em passos maiores.

Na pele de um jogador que pode actuar como ala ou na zona mais central do ataque, tem valências que o colocam no radar da selecção espanhola, sobretudo desde que começou a ser encarado como um goleador no Villarreal.

A escassez de opções de ataque na equipa espanhola já suscitou a discussão e este seria um final de carreira e tanto para Morales, que já disse querer terminar o percurso no futebol com a camisola do Levante, mesmo assumindo que não sabe se o próprio clube e os adeptos quererão que regresse.

Em todo o caso, descida de divisão, juras de lealdade, posterior traição ao clube e à afición de sempre, golos num clube maior, chegada à selecção e regresso ao Levante seria um grande final. Sobretudo bonito — e improvável também.

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