Maioria defende demissão de Costa e opção de Marcelo por eleições antecipadas

Na sondagem Católica, PÚBLICO/RTP a percentagem dos inquiridos que dizem que o país está pior é de 75%. A demissão do primeiro-ministro é defendida por uma maioria esmagadora.

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84% dos inquiridos acham que Costa fez bem em sair Reuters/PEDRO NUNES
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O “trauma Santana Lopes”, que aconteceu há quase 20 anos, parece estar bem vivo na sociedade portuguesa – pelo menos naqueles que foram inquiridos pela sondagem Universidade Católica/PÚBLICO/RTP. Um novo Governo sem eleições (uma absoluta normalidade em muitos países europeus) continua a ser considerado impossível em Portugal.

Só 20% dos inquiridos da sondagem apoiam a solução que António Costa apresentou a Marcelo Rebelo de Sousa de manter o PS no Governo com o governador do Banco de Portugal e antigo ministro das Finanças dos governos socialistas, Mário Centeno, como primeiro-ministro.

Uma expressiva maioria de 74% apoia a decisão do Presidente da República em convocar eleições antecipadas. A intenção estava pré-anunciada desde que António Costa tinha tomado posse, quando Marcelo Rebelo de Sousa afirmou no seu discurso que a saída do primeiro-ministro conduziria à marcação de novas eleições. Ou, mais propriamente, “seria muito difícil” não o fazer. A avaliar pelo apoio popular à decisão do Presidente da República, a decisão de não mudar de ideias relativamente ao discurso da posse foi positiva.

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Também uma esmagadora maioria da amostra – 82% dos inquiridos — acha que o primeiro-ministro fez bem em demitir-se. E apenas uma minoria de 12% defende que António Costa não se devia ter demitido. Tanto na questão das eleições antecipadas como na demissão do primeiro-ministro há 6% incluídos na categoria do “não sabe/não responde”.

Independência da justiça sob suspeita

Um dos dados relevantes desta sondagem é a falta de confiança da maioria dos inquiridos na independência da justiça. Do universo da amostra, 53% não acreditam que esteja garantida essa independência, um número que contrasta com os minoritários 38% que acreditam que essa independência está segura. A alínea “não sabe/não responde” é aqui ligeiramente superior do que nas perguntas sobre a convocação de eleições antecipadas e demissão do primeiro-ministro: 9% da amostra não tem opinião sobre se a independência da justiça está ou não garantida.

A procuradora-geral da República, Lucília Gago, só falou uma vez do caso de viva voz – tendo antes comunicado com os portugueses, por duas vezes, através do seu gabinete de imprensa. A sondagem revela que 76% dos inquiridos defendem que a procuradora-geral da República “deve dar explicações públicas sobre a investigação ao primeiro-ministro”.

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Entre os inquiridos, aqueles que defendem que a procuradora-geral deve continuar mais ou menos calada – ou que não são necessários esclarecimentos sobre a investigação a António Costa – são uma minoria de 20%. Aqui o “não sabe/não responde” foi a opção de 4% dos inquiridos.

Vários partidos têm defendido que a procuradora-geral da República deve dar explicações públicas sobre o caso que levou à demissão do primeiro-ministro.

Um país “cada vez pior”

À pergunta se “o país está pior”, “melhor” ou “igual”, 75% dos inquiridos consideram que está “pior”, enquanto 14% afirmam estar “igual e uns magros 10% respondem que está “melhor”.

É o pior resultado desde a sondagem de Fevereiro de 2023, feita no rescaldo do caso TAP, do escândalo da indemnização de 500 mil euros à ex-administradora Alexandra Reis, que era então secretária de Estado do Tesouro e caiu na sequência das notícias, e da demissão do então ministro das Infra-Estruturas, Pedro Nuno Santos, por causa desse caso. Nesse Fevereiro de 2023, 72% dos inquiridos achavam que o país estava “pior”, 17% “igual” e 9% melhor, com 2% sem se pronunciarem.

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Se compararmos com a sondagem de Julho de 2022, cinco meses após as eleições legislativas que deram a maioria absoluta ao PS, percebe-se como a percepção do eleitorado relativamente ao país foi diminuindo negativamente. Nesse estudo, 63% dos inquiridos afirmavam que o país estava “pior”, 24% “igual” e 11% “melhor”.

Depois de 72% dos inquiridos percepcionarem o país pior em Fevereiro de 2023 – a que toda a polémica em torno do caso TAP não pode ter sido alheia —, o sentimento negativo acaba por diminuir em Julho de 2023: nessa sondagem, a percentagem dos que acham que o país está “pior” volta a diminuir para 65%, com 22% a considerarem estar “igual” e 12% “melhor”. Este é mesmo o pior resultado dos últimos tempos.

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