Não comam todos os meus pistáchios!
Mãe, não se sinta mal por ter sido descoberta, tenho mesmo a certeza de que era essa a verdadeira moral da história dos “Três Porquinhos” — a mãe porquinha chegou ao limite e expulsou-os de casa!
Querida Ana,
Adoro-vos! A filhos e netos. E quero muito que nunca sintam a minha casa como sendo vossa, mas há momentos em que suspeito que digo estas coisas só porque é suposto!
Depois de vos dizer adeus e de arrumar alegremente as tintas e os pincéis, ter tirado a loiça da máquina e recolhido pratos e copos espalhados pela casa, sentei-me para, finalmente, de coração cheio ver uma série na televisão.
Trouxe da cozinha, com prazer antecipado, uma caixa quase vazia de pistáchios, à falta de pipocas. Mas, Ana, dos 20 que restavam, nem um, nem um, se conseguia abrir!
Há uma moral para esta história?
Querida Mãe,
Provavelmente vamos corrigir esta carta antes de a publicar, mas quero só deixar anotado que a mãe originalmente escreveu "Quero muito que nunca sintam a minha casa como sendo vossa" (risos) e o que acho que esse ato falhado significa qualquer coisa como: "Por amor de Deus, passei mais de 20 anos das vossas vidas a pôr as vossas necessidades à frente das minhas e a ter a minha casa à vossa disposição, agora que têm uma vossa, vão para lá comer a despensa toda, e deixem a minha em paz!” Hahaha.
Mas, mãe, não se sinta mal por ter sido descoberta, tenho mesmo a certeza de que era essa a verdadeira moral da história dos “Três Porquinhos” — a mãe porquinha chegou ao limite e expulsou-os de casa!
Já quanto à moral da sua história, é simples: "Não comam todos os meus pistáchios!”
Vou dar o recado aos seus netos!
Beijos
O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam.