NATO desvaloriza impasse no terreno e salienta “ganhos significativos” da Ucrânia contra a Rússia
Secretário-geral da aliança reconhece que dos combates intensos das últimas semanas não resultaram vantagens territoriais, mas salienta as “perdas pesadas” de pessoal e capacidades militares russas.
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, chamou a atenção para as “perdas pesadas” sofridas pela Rússia nas últimas semanas de combates intensos no Leste da Ucrânia, e refutou a ideia de um impasse militar, apesar de “a linha da frente não se ter movido de forma significativa”.
“Estamos muito impressionados com a bravura e competência das forças ucranianas em infligir danos ao seu adversário, medidos em perdas de pessoal e de capacidades de combate”, salientou Stoltenberg, esta segunda-feira, numa conferência de imprensa de antevisão da reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da aliança, e do Conselho Ucrânia-NATO, que se realizam esta terça e quarta-feira, em Bruxelas.
Para o líder da NATO, mesmo sem obter uma maior “vantagem territorial” nas últimas semanas de combates, o Exército da Ucrânia tem conseguido “ganhos significativos” na sua contra-ofensiva contra as forças de ocupação russas, que estão muito longe do seu “objectivo estratégico de controlo” daquele país.
Em mais de 20 meses de guerra, “a Ucrânia já alcançou grandes vitórias”, referiu Stoltenberg, lembrando que depois de a Rússia lançar a sua invasão em grande escala, a expectativa era que Kiev “entrasse em colapso em poucos dias”. Mas, em vez disso, as forças ucranianas venceram as batalhas de Kiev, Kharkiv e Kherson, e recuperaram “50% do território ocupado”.
“A Ucrânia prevalece como nação soberana e independente, enquanto a Rússia está enfraquecida económica e militarmente e cada vez mais isolada politicamente”, vincou o secretário-geral da NATO, repetindo que os aliados continuarão a apoiar Kiev, tanto na sua defesa contra a agressão da Rússia como no seu caminho para a adesão à aliança militar.
“Essa é a nossa responsabilidade”, frisou Stoltenberg, que mais uma vez disse não haver nenhum sinal de que o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, esteja disponível para pôr termo à guerra. O líder da NATO reafirmou que “quanto mais forte a posição da Ucrânia no campo de batalha, mais forte a sua posição à mesa das negociações” — e insistiu que será sempre Kiev, e não os seus aliados, a decidir o momento e as condições para conversar com a Rússia.
Esta terça-feira, além da Ucrânia os ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO vão falar sobre as “acções desestabilizadoras” da Rússia noutras geografias, incluindo em território da aliança: ciberataques, desinformação, vantagem energética e utilização de migrantes como arma política, enumerou Stoltenberg, referindo-se à chegada de um largo número de migrantes à fronteira com a Finlândia, que levou as autoridades daquele país a encerrar os pontos de passagem fronteiriços.
Questionado sobre a situação, o secretário-geral disse ser cedo para fazer comparações com o caso da Bielorrússia, mas não deixou de avisar contra a instrumentalização das migrações para “pressionar um país vizinho e aliado da NATO”. “Temos um aparelho de dissuasão credível, e não hesitaremos em agir para defender o nosso território. Penso que ninguém terá dúvidas quanto a isso”, considerou.
Na agenda de trabalhos dos ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO estará ainda a deterioração da situação de segurança nos Balcãs Ocidentais, na sequência da violência no Norte do Kosovo, que levou a NATO a mobilizar mais mil militares para a sua força de manutenção de paz, ou ainda a “retórica divisória e secessionista” na Bósnia-Herzegovina. Em ambos os casos, Stoltenberg encontra o dedo da Rússia.