Caem exportações de vinhos portugueses para os EUA e crescem vendas para Brasil e Ucrânia

As exportações de vinhos nacionais continuam a bater recordes, mas as guerras e a instabilidade actual prejudicam performance em mercados como os dos EUA. Dados são da ViniPortugal.

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Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, que gere a marca Vinhos de Portugal e apresentou os dados das exportações até Setembro de 2023 Sérgio Azenha
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As exportações de vinho português continuam em crescimento, como se tem verificado desde 2010, mas caem em mercados fundamentais, como o dos Estados Unidos e o do Canadá. Os dados, relativos ao período compreendido entre Janeiro e Setembro deste ano, foram apresentados esta quarta-feira no Fórum Anual de Vinhos de Portugal, organizado pela ViniPortugal. No evento de Leiria, o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) apresentou também as novas regras de rotulagem que entram em vigor a partir de 8 de Dezembro e respondeu a dúvidas de produtores.

No discurso de abertura, Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, sublinhou que a meta dos 1.000 milhões de euros de exportações não será alcançada este ano. “Com a pandemia, com a guerra [na Ucrânia] e agora uma segunda guerra no Médio Oriente, as coisas não estão fáceis para as economias mundiais, e isto faz-se sentir no sector dos vinhos”, explicou. “Isso nota-se em países que vinham a aumentar o seu consumo e as suas importações de vinho português. Quando há instabilidade económica, as pessoas retraem-se de consumir bens não essenciais.”

O mercado dos Estados Unidos, que no final de Setembro do ano passado surgia como o principal destino das exportações dos vinhos portugueses, parecendo na altura que destronaria a França — que no balanço final de 2022 conseguiria manter-se no lugar cimeiro dos nossos principais mercados —, registaram uma quebra. O mesmo aconteceu, nos primeiros nove meses de 2023, o período em apreço, com o Canadá e a Suíça. Apesar disso, Frederico Falcão mostrou-se convicto de que este ano voltará a ser excepcional, à semelhança dos últimos 12 anos, em que as exportações subiram sempre: “Vamos novamente bater recordes de exportação”.

Ao PÚBLICO, no fim do evento, o responsável considerou que este crescimento “é um dado positivo”, sobretudo o crescimento “em preço médio, que é o que nos interessa”. De acordo com os dados apresentados, o preço médio a que exportamos o vinho nacional subiu, no total, de 2,81 euros / litro em 2022 para 2,83 euros / litro entre Janeiro e Setembro de 2023.

“Estamos a crescer mais em valor do que em volume e a crescer em preço médio e, esse sim, foi um dos nossos objectivos”, considera Frederico Falcão. “Tivemos nos últimos anos um grande crescimento e isso não pode ser encarado como uma derrota.”

O presidente da ViniPortugal revela que o crescimento das exportações até Setembro de 2023 foi de “1,08% num acumulado”, mas o valor é insuficiente para chegar à meta dos 1.000 milhões de euros, o que só aconteceria com um crescimento de 6% no início do ano. “Há dois anos era uma média perfeitamente atingível, mas neste momento, com esta instabilidade toda, não vamos conseguir atingir o objectivo.”

Sobre a queda de exportações nos Estados Unidos e no Canadá, Frederico Falcão sublinha que “não é uma falha de Portugal”. “Os mercados estão a cair”, explica. No entanto, há mercados que se destacam pelo seu desempenho positivo, como é o caso do mercado brasileiro, que este ano ultrapassou os Estados Unidos no volume de exportações de vinho português. “Está a ser um mercado cada vez mais importante e, este ano, muito importante”, continua o presidente da ViniPortugal. “Neste momento a economia do Brasil está a respirar alguma confiança e o consumo de vinho está a recuperar.”

Há dois anos, a Argentina ocupou o lugar de Portugal como segundo exportador de vinhos para Brasil (o principal exportador era e ainda é o Chile). Este ano, de acordo com o presidente da ViniPortugal, tudo aponta para que Portugal volte a ocupar a segunda posição no top de principais mercados de onde os brasileiros importam vinho.

O mercado do Reino Unido também registou um crescimento nas importações de vinhos nacionais, mas o ritmo deverá abrandar nos últimos meses do ano. “O Reino Unido implementou novos impostos em Agosto e houve alguma antecipação de compra por parte dos importadores. Este final de ano vai ser mais calmo nas exportações [para aquele mercado].”

Dois mercados para onde as exportações de vinho português registam grande crescimento são o da Polónia e, curiosamente, o da Ucrânia. “De alguma forma, [na Ucrânia] estão a tentar atingir uma certa normalidade na forma de viver e [as pessoas] voltaram a sair e a consumir vinho nos bares e restaurantes”, conta Frederico Falcão. “Estão com grande aumento nas importações de vinho português.”

O crescimento levou a que a Ucrânia fosse incluída no plano de marketing e promoção da ViniPortugal para 2024, também apresentado durante o Fórum Anual de Vinhos de Portugal, num investimento de 8,3 milhões de euros para 22 países (Israel era um deles, mas provavelmente as acções previstas já não acontecerão). “Ainda que não seja possível deslocarmo-nos ao mercado [ucraniano], vamos fazer acções com os importadores e com as pessoas que estão lá”, adiantou Frederico Falcão.

O evento terminou com uma sessão dedicada às novas regras de rotulagem dos vinhos, que entrarão em vigor a 8 de Dezembro, para vinhos produzidos depois dessa data. Os produtores expuseram as suas dúvidas, a maior sobre a utilização de QR Code com a informação nutricional do vinho, uma ligação que não deverá ser confundida com o próprio site dos produtores, sublinhou a coordenadora do gabinete jurídico do IVV, Anabela Alves, que fazia a apresentação.

O presidente da ViniPortugal olha para 2024 com confiança e acredita que, apesar dos números e da conjuntura actual, a meta de exportações pode ser atingida já no próximo ano.

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