Médicos concentrados no Porto e em Lisboa exigem regresso às negociações para salvar SNS
Esta terça-feira cumpre-se o primeiro de dois dias de greve convocada pela Federação Nacional dos Médicos (Fnam). Apesar da crise política que o país atravessa, federação quer seguir com negociações.
Algumas dezenas de médicos juntaram-se esta terça-feira, no Porto, no primeiro de dois dias de greve convocada pela Federação Nacional dos Médicos (Fnam), para exigir ao Governo que desbloqueie as negociações e salve o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
"O público é de todos, o privado é só de alguns" e "A saúde é um direito, sem ela nada feito" são algumas das frases entoadas junto à entrada do Hospital de São João, no Porto, por médicos que se dizem "fartos de esperar por um acordo que os respeite e respeite os utentes".
Em declarações à agência Lusa, a presidente da Fnam, Joana Bordalo e Sá, recordou que estava marcada na semana passada uma reunião com as estruturas sindicais e o Ministério da Saúde que foi, disse, "cancelada sem explicação quando se vive um caos nas urgências e no SNS".
"Temos um Governo. Apesar da crise política que vivemos, temos um interlocutor, temos Ministério da Saúde, o doutor Manuel Pizarro está em plenas funções, e as soluções estão em cima da mesa. Tem de haver vontade política real", disse Joana Bordalo e Sá.
Esta terça-feira cumpre-se o primeiro dia de uma greve de dois dias convocada pela Fnam. A greve é acompanhada por manifestações e a federação convidou a população a juntar-se aos protestos em Lisboa, no Porto e em Coimbra, em defesa do SNS.
Na faixa que dezenas de médicos seguram junto ao Hospital de São João lê-se "Na defesa da carreira médica. É preciso salvar o SNS. É preciso cuidar de quem cuida".
Já os cânticos alternam entre mensagens para os utentes e mensagens para o Governo: "Trinta e cinco horas para todos sem demoras!" ou "O povo merece o SNS".
"Os médicos do SNS são os médicos de toda a população e, tendo em conta a situação a que chegamos agora, com esta sangria de médicos todos os dias a sair do SNS, o que vai acontecer é que ficamos sem médicos para dar resposta. É necessário chegar a um acordo, um acordo que sirva os médicos e o SNS. É preciso desbloquear esta negociação", disse à Lusa a líder da Fnam.
Joana Bordalo e Sá considerou que "19 meses a negociar é já demasiado tempo" e insistiu que "o Governo está em plenitude das suas funções, o Ministério da Saúde é o mesmo, o ministro da Saúde é o mesmo".
"É preciso uma solução. Há urgências encerradas do Norte a Sul do país com o caos instalado e a população está a ser deixada para trás. Este plano de reorganização das urgências da Direcção-Executiva do SNS é apenas um mapa de encerramentos", concluiu.
Quanto a números sobre o impacto da greve, Joana Bordalo e Sá remeteu para o final da manhã a actualização de dados, mas garantiu que os serviços mínimos "estão a ser escrupulosamente cumpridos".
Em Lisboa, dezenas de médicos concentram-se também em frente ao Hospital Santa Maria para exigir nova reunião com o Governo. "Estamos à espera que o Governo nos receba para a semana", afirmou João Proença, vice-presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam).
"O objectivo desta concentração e desta greve é chamar a atenção para a desgraça em que vivemos", disse João Proença, contando que os médicos exigem o retomar das negociações e a marcação de uma nova reunião negocial com o ministro da Saúde, Manuel Pizarro.
Para o vice-presidente da Fnam, "é importante que para a semana haja um acordo mínimo, transversal para que se consiga obter uma resposta clara", nomeadamente no que diz respeito "à carreira médica" e "à qualidade dos serviços públicos prestados à população".
As negociações entre o Ministério da Saúde e os sindicatos iniciaram-se em 2022, mas a falta de acordo tem agudizado a luta da classe, com greves e declarações de escusa ao trabalho extraordinário além das 150 horas anuais obrigatórias, o que tem provocado constrangimentos e fecho de serviços de urgência em hospitais de todo o país.
Notícia alterada às 12h05: Acrescenta informação sobre o protesto em Lisboa