Greve dos médicos com adesão “mais elevada” nos hospitais no segundo dia da paralisação, diz a Fnam
Presidente da Fnam diz que adesão à greve dos médicos está a atingir os 90% nos hospitais. “Na ginecologia e obstetrícia a adesão é quase de 100%.”
Os médicos cumprem esta quinta-feira o segundo dia de greve para exigir a valorização da carreira e das tabelas salariais. A adesão nos hospitais está a ser mais elevada do que no dia anterior, de acordo com a presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), Joana Bordalo e Sá, que convocou a paralisação. “Os hospitais estão a funcionar apenas em serviços mínimos”, reiterou Joana Bordalo e Sá.
“A adesão hoje está a ser ainda mais elevada sobretudo a nível hospitalar, e, em vez dos 80% de ontem, que já foi um número elevado, estamos a ir para os 90%”, assegurou a representante sindical.
Segundo a presidente da Fnam, há esta quinta-feira mais blocos operatórios encerrados e mais hospitais a trabalhar apenas em serviços mínimos. “É como se fosse feriado ou domingo. Há muitos serviços, nomeadamente de Medicina Interna, onde só o director de serviço é que está a trabalhar”, referiu.
As consultas externas e as cirurgias programadas têm sido os serviços mais afectados por esta greve, disse a dirigente sindical, que reconheceu ainda o transtorno provocado aos doentes ao longo dos dois dias de paralisação.
Já nos centros de saúde, o número de médicos em greve é similar ao desta quarta-feira, com uma adesão entre os 85% e os 90%. “Estamos à espera que seja uma adesão mesmo muito sobreponível, sendo que na ginecologia e obstetrícia a adesão é quase de 100% de norte a sul do país”, adiantou ainda.
Para Joana Bordalo e Sá, o apoio “maciço” dos profissionais ao protesto “mostra que os médicos estão mesmo descontentes”. “Se calhar as pessoas sentiram-se mais motivadas para manifestar o seu protesto com o dia de ontem”, acrescentou.
A paralisação, a primeira depois da pandemia de covid-19, foi convocada numa altura em que sindicatos e Governo estão em negociações, mas ainda sem acordo após várias reuniões inconclusivas. Já o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) demarcou-se do protesto, alegando que não se justifica, enquanto decorrem negociações com o Governo.
Em relação ao primeiro dia de greve, no qual também decorreu uma manifestação em frente ao Ministério da Saúde (MS), a adesão nos centros de saúde foi “de 85% a 90%, sendo que houve centros de saúde encerrados a 100% no Alto Minho, em Trás-os-Montes, na zona de Lisboa, no centro e também nos Açores”, referiu Joana Bordalo e Sá. Já nos hospitais a adesão foi de 80%, com “vários blocos operatórios fechados a 100%”. “Houve uma adesão muito forte, mas foram sempre cumpridos os serviços mínimos. Todos os casos urgentes foram atendidos.”
Ao PÚBLICO o gabinete de comunicação do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, deu conta de que durante a manhã de quarta-feira 29% dos médicos estavam em greve. No período da tarde esse universo baixou para os 21%. A greve terminará à meia-noite de quinta para sexta-feira.
Quanto à possibilidade de avançar com novas formas de protesto, a presidente da Fnam explicou que, antes disso, é preciso aguardar pela próxima reunião negocial, que vai decorrer no dia 16 deste mês. “Vamos ver o que haverá do outro lado. [Avançar ou não com outros protestos] vai depender da postura [do Governo]. Se, de facto, mostrarem uma abertura para dialogar e negociar de forma séria e célere, porque isto tem de ser rápido, é uma realidade. Se isso não acontecer, logo veremos”, disse a dirigente sindical.
O protocolo negocial estabelecido entre as duas partes prevê que as negociações decorram até Junho, mas os dois sindicatos têm exigido medidas estruturais urgentes e melhores condições de trabalho para permitir fixar e captar mais médicos para o Serviço Nacional de Saúde.
Na quarta-feira, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, afirmou que respeita “em absoluto” a greve dos médicos e que a disponibilidade para continuar a negociar com os sindicatos “é total”.
“A intenção do Governo é negociar de boa-fé com os sindicatos dos médicos, como temos feito com os sindicatos das outras carreiras profissionais do SNS”, afirmou Manuel Pizarro em resposta às questões levantadas por deputados na Comissão de Saúde, onde foi ouvido por requerimento do Chega e do PCP sobre as urgências.