Rastreio ao pé diabético voltou a níveis pré-pandemia. Amputações subiram em 2021
Segundo relatório do Programa Nacional para a Diabetes, apesar da melhoria no rastreio existem diferenças regionais. Alentejo e Lisboa e Vale do Tejo ainda têm valores abaixo dos de 2019.
Em termos globais, o rastreio ao pé diabético voltou, em 2022, a níveis pré-pandemia. Mas existem diferenças regionais, aponta o relatório do Programa Nacional para a Diabetes - Desafios e Estratégias 2023, da Direcção-Geral da Saúde (DGS). As complicações do pé diabético, se não forem tratadas a tempo, “representam uma das principais causas de morbilidade das pessoas com diabetes”, refere o documento, que assinala um ligeiro aumento no número de amputações em 2021 quando comparado com o ano anterior.
Segundo o documento, que é apresentado esta terça-feira em Lisboa, no ano passado, dos doentes com diabetes vigiados nos centros de saúde 74% realizaram a observação anual aos pés, “igualando os valores pré-pandemia”. A percentagem registada a nível de Portugal continental é a mesma de 2019 e que desceu para 59% e 62% em 2020 e 2021, respectivamente.
Mas existem diferenças regionais, como assinala o relatório, que refere que “três das regiões de saúde igualaram ou aumentaram a avaliação aos pés realizadas em 2019” – Norte, Centro e Algarve – e que “as regiões do Alentejo e de LVT [Lisboa e Vale do Tejo] ainda se mantêm com valores abaixo dos de 2019”. Segundo os dados disponíveis, no ano passado estas regiões registaram percentagens de 62% e 59%, respectivamente. Em 2019, no Alentejo, a proporção de doentes observados foi de 72% e em LVT foi de 62%.
Do total de 1,1 milhões de avaliações de risco de úlcera de pé diabético realizadas no ano passado, 90% foram classificadas com baixo risco, 2% com médio risco e 8% com alto risco. Dos utentes com diabetes vigiados nos cuidados de saúde primários – em 2022 havia o registo de 883.074 pessoas com diabetes -, 2020 apresentavam registo de úlcera no pé activa.
Tal como o relatório refere, “se não forem prevenidas e/ou tratadas atempadamente”, as complicações do pé diabético representam “uma das principais causas de morbilidade das pessoas com diabetes”. O risco maior é poderem evoluir para uma situação de amputação, seja minor (parte do pé) ou major (ao nível do tornozelo, perna ou coxa).
E há dois sinais que merecem atenção. Em 2022, registaram-se 3342 admissões por pé diabético, “um valor superior aos anos anteriores”, refere o documento, que salienta, contudo, que a letalidade intra-hospitalar foi ligeiramente menor, de 5,7%. Também o “número de amputações dos membros inferiores aumentou ligeiramente em 2021, nas pessoas admitidas por diabetes como diagnóstico principal”.
De acordo com os dados, em 2021 registou-se um total de 1247 amputações, quando no ano anterior tinham sido 1229. Ainda assim, o valor do ano passado é inferior ao de 2019, ano em que se registaram 1287 amputações. O mesmo já não acontece quando se olha apenas para as amputações major. Em 2021 foram 500, superior às 477 registadas em 2019 e às 486 de 2020.
Quanto ao rastreio da retinopatia diabética, de um total de 835.094 doentes elegíveis, foram convidados 372.484 para rastreio em 2022. O que corresponde a “uma taxa de cobertura de 45% da população elegível”. Mas apenas 64% dos utentes convidados aderiram, “resultando num número de 237.487 utentes rastreados”, aponta o documento, referindo que a taxa de rastreio populacional foi “de 28% da população elegível”.
Uma percentagem que ainda está abaixo das percentagens registadas em 2018 e 2019, que foram, respectivamente, de 30% e 31%. Mas é preciso salientar que a população elegível, assim como a taxa de adesão, tem aumentado desde 2018 – com excepção de 2020.
Em 2021, refere o documento, a diabetes foi responsável por 3474 mortes, das quais cerca de 10,5% ocorreram em pessoas com menos de 70 anos. “A taxa de mortalidade atribuída à Diabetes, tem vindo gradualmente a diminuir desde 2017 sendo o valor de 2021 o mais baixo dos últimos anos”, lê-se no documento, que acrescenta que nesse ano a diabetes “foi responsável por 2770 anos potenciais de vida perdidos abaixo dos 70 anos, com uma média de 7,6 anos de vida perdidos por cada óbito ocorrido abaixo dessa idade”.
Custos a subir
A Sociedade Portuguesa de Diabetologia estimou uma prevalência de diabetes, na população portuguesa entre os 20 e os 79 anos, de 14,1%, correspondendo a 1,1 milhões de pessoas, nota o relatório nas suas primeiras páginas. Em 2022 verificaram-se 78.068 novos registos de diabetes, “correspondendo a uma taxa de 7,4 por cada 1000 utentes inscritos”. “Essa taxa foi a mais alta dos últimos 5 anos, possivelmente associada aos constrangimentos prévios do contexto pandémico.”
Não será de estranhar, por isso, que nos últimos anos se tenha registado um aumento dos encargos com medicamentos e dispositivos para tratamento e monitorização da diabetes, assim como dos internamentos hospitalares. Um crescimento que o relatório assinala como “notório, totalizando, em 2021, 532,2 milhões de euros”. Em 2017, essa contabilização era de 366,8 milhões de euros.
Neste bolo não estão contabilizados os custos em que a diabetes é diagnóstico associado – “os custos dos internamentos em que a Diabetes foi um diagnóstico associado, ascenderam a cerca de 478 milhões de euros”, lê-se.
O documento salienta que “os medicamentos foram responsáveis por 79% desses encargos e as tiras de teste e sensores de glicose representaram cerca de 15% dessa despesa”. Já os internamentos com diagnóstico principal de diabetes “representaram cerca de 6% dos encargos”.
“Será expectável que nos próximos anos os custos com medicamentos e dispositivos continuem a aumentar significativamente devido à incorporação de medicamentos inovadores e dispositivos PSCI [perfusão Subcutânea Contínua de Insulina] mais sofisticados na actividade assistencial do SNS”, apontam os autores, que referem que “em 2022, os encargos com insulinas foram de cerca de 74 milhões de euros e os encargos com antidiabéticos não insulínicos cerca de 420 milhões de euros”.