Diabetes: bombas de insulina de última geração vão ser de acesso universal

Cerca de 15 mil pessoas deverão ser elegíveis para o tratamento por sistemas automáticos de perfusão. Programa de distribuição deverá estar operacionalizado dentro de 120 dias.

Foto
Portugal tem hoje existem 28 centros de tratamento reconhecidos, 27 dos quais em hospitais do SNS Inês Fernandes (arquivo)

O Governo criou um programa para tratamento com bombas de insulina de última geração para as 15 mil pessoas com diabetes tipo 1 com indicação para estes sistemas e que devem começar a receber os aparelhos ainda este ano.

Segundo um despacho assinado pelo ministro da Saúde, Manuel Pizarro, a que a Lusa teve acesso, a criação deste programa de acesso universal, que será aplicado até 2026, resulta do trabalho desenvolvido por um grupo constituído em Novembro do ano passado e que estimou a existência de cerca de 30.000 pessoas afectadas pela doença em Portugal, assumindo que metade tem indicação para tratamento por sistemas automáticos de perfusão.

Em declarações à agência Lusa, o ministro da Saúde explicou que se trata "de um programa de grande dimensão", sublinhando: "O que fazemos com este despacho, na sequência da proposta do grupo de trabalho, é reconhecer que o tratamento mais adequado nos nossos dias é a disponibilização deste sistema de administração automática de insulina."

"Fazendo jus àquilo que são os valores de solidariedade que presidem ao SNS [Serviço Nacional de Saúde] nós queremos promover o acesso equitativo, isto é, todas as pessoas que tenham indicação clínica e que tenham motivação terão acesso a este sistema", acrescentou.

Reconhecendo que um programa desta dimensão "não é susceptível de ser feito de um dia para o outro", Manuel Pizarro lembrou as implicações financeiras e orçamentais, assim como a necessidade de ter "uma estrutura montada para a colocação de um número muito elevado de dispositivos", assim como para educar os doentes e seus familiares.

Nos últimos 12 anos, foram colocadas 4710 bombas de perfusão subcutânea de insulina.

Neste momento existem 28 centros de tratamento reconhecidos, 27 dos quais em hospitais do SNS e um 28.º na Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, também com financiamento público.

Admitindo a possibilidade de mais centros de tratamento no futuro "se tal se justificar", o governante explicou que uma das tarefas que a Direcção Executiva do SNS, que coordenará o programa, vai ter é "avaliar as necessidades destes centros de tratamento". "Nós estamos a colocar sobre os centros de tratamento uma exigência muito superior àquela que existia até este momento", enfatizou.

O governante lembrou que esta tecnologia "melhora os resultados do tratamento da diabetes", pois diminui o número de complicações agudas, reduzindo igualmente o número de complicações crónicas, além de favorecer a tranquilidade das pessoas e seus familiares (parte destes doentes são crianças).

O despacho determina que o novo programa vai funcionar com o envolvimento da Direcção-Geral da Saúde (DGS) e demais organismos competentes, estabelecendo um prazo de 120 dias para a sua operacionalização e cabendo à DGS clarificar as prioridades na colocação destes dispositivos de última geração, "recorrendo aos pareceres éticos que se revelem adequados".

"Têm que ser bem aferidas, com todas as preocupações éticas, porque nós temos que atender, por um lado, às crianças e aos jovens e às suas necessidades aumentadas em matéria de saúde, mas tudo isto tem de ser feito de forma absolutamente transparente, para que não haja dúvida nenhuma de que nos próximos três anos e meio vamos fazer a cobertura universal das pessoas com diabetes mellitus tipo I", afirmou.

No ano passado, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) adquiriu 337 destes dispositivos automáticos.

Questionado sobre o custo desta operação, o governante respondeu que "é um programa com muito ambicioso que vai ter também uma componente de negociação com os fornecedores". "Não há nenhuma boa razão para que o custo unitário, quando imaginamos comprar cerca de 15.000 dispositivos, seja igual ao custo unitário quando estávamos a comprar 500, ou 600 ou 700 dispositivos por ano", acrescentou.

O acesso aos sistemas híbridos de perfusão subcutânea contínua de insulina é o tema de uma petição que vai estar em debate na sessão plenária de quinta-feira na Assembleia da República.

A diabetes mellitus tipo 1 é uma doença crónica, causada pela destruição das células produtoras de insulina no pâncreas e afecta nomeadamente crianças e jovens, obrigando ao tratamento com insulina durante toda a vida.