Morreu Davide Renne, o novo director criativo da Moschino, aos 46 anos. O criador italiano tinha acabado de entrar em funções na casa de moda italiana, a 1 de Novembro, e morreu de “doença súbita” não especificada nesta sexta-feira, em Milão, avança a Moschino, através de um comunicado partilhado no Instagram.
O presidente da marca, Massimo Ferretti, prestou tributo ao designer, que esteve apenas dez dias aos comandos da marca, começando por sublinhar a “dor inexplicável” que todos sentem, considerando que Davide morreu “cedo demais”. Consternado, Ferretti desabafou que “ainda não conseguimos acreditar no que aconteceu.”
Apesar de terem colaborado apenas algumas semanas, sublinha que estavam a “trabalhar num projecto ambicioso, numa atmosfera de entusiasmo e optimismo para o futuro”. E reiterou: “O Davide tornou-se imediatamente amado e respeitado. Hoje ficamos com a responsabilidade de continuar o que a sua imaginação e criatividade tinham idealizado.”
Renne estava a desempenhar, pela primeira vez, o papel de líder numa marca, depois de ter feito parte da equipa de design da Gucci durante 20 anos. A mudança foi anunciada há menos de um mês com o criador a confessar-se, na altura, entusiasmado com o novo desafio e a prometer honrar o legado da Moschino. “Franco [Moschino] só deixa de parecer um estranho quando se pensa no seu trabalho para além dos limites da moda, como um artista contemporâneo. Ensinou que a moda não pode ser explicada, só pode ser vivida, porque é intimamente sobre a vida — sobre o mundo que nos rodeia. Isto, para mim, é a poesia da moda.”
Prematuramente, Davide Renne deixa de viver a “poesia da moda” e não chegou a apresentar a primeira colecção para a etiqueta italiana ─ a apresentação estava agendada para Fevereiro, em Milão ─, que se esperava espelhar a exuberância e irreverência por que é conhecida a Moschino.
Antes de ser anunciado como sucessor de Jeremy Scott na Moschino, Davide Renne sempre manteve uma postura discreta durante as quase duas décadas em que esteve na Gucci, onde trabalhou tanto com Frida Giannini, como com Alessandro Michele. Ultimamente, assumia a responsabilidade de principal designer da equipa de colecções femininas e fez a transição entre Michele e Sabato de Sarno.
“Tornar os sonhos realidade”
Nascido a 7 de Julho de 1977, em Follonica, na Toscânia, Itália, foi durante o ensino secundário que descobriu o gosto pela moda, conta a revista Vogue. Seguiu essa vocação na escola Polimoda, em Florença ─ uma das universidades de moda mais conceituadas de Itália ─, experiência que descrevia com entusiasmo: “Deu-me uma sensação de liberdade absoluta, abrindo caminho para uma viagem de criatividade que, depressa descobri, se tornou a minha vida.”
Logo depois do curso, mudou-se para Milão e ainda esteve quatro anos no estúdio do criador Alessandro Dell’Acqua, que dizia ser o seu “primeiro professor e mentor na moda”. Passou igualmente pela Ruffo Reserach, onde conviveu com nomes como Nicolas Ghesquière (Louis Vuitton) e Ricardo Tisci (ex-Burberry).
Em 2004, foi recrutado para a Gucci e a sua proximidade a Alessandro Michele sempre foi conhecida. Sobre ele escreveu no Instagram em tempos: “Passei oito anos com Alessandro Michele que me ensinou a sonhar mais alto e me forçou a ir mais longe. Ajudou-me a tornar os meus sonhos realidade. A moda, tal como a vida, é uma questão de nos descobrirmos a nós próprios. Não gosto da moda que dita respostas.”
Michele já reagiu à morte do “amigo querido, irmão inseparável” com uma fotografia dos dois, que partilhou no Instagram. “Que viagem incrível e inesquecível fizemos juntos. Tantas risadas e pura alegria. Quantos sonhos inconscientes perseguimos. E como nos abraçámos fortemente, com um batimento cardíaco”, escreveu emocionado.
Elogiou também o talento de Renne: “Não foste apenas um dos criativos mais talentosos que já conheci. Eras acima de tudo uma parte insubstituível de uma pequena família unida. Não consigo evitar chorar desesperadamente por ti agora. Neste dia chuvoso em que sinto a tua falta, quero tanto abraçar-te e dizer-te, mais uma vez, que vai ficar tudo bem.”
Também o antigo CEO da Gucci (agora da End and Autry), Patrizio di Marco, lamentou a morte do criador, num comunicado citado pela Women's Wear Daily. “Nunca estamos preparados quando a morte chega e ainda mais quando leva consigo um homem ainda jovem com um carácter forte e ao mesmo tempo doce. Era mesmo um homem talentoso que teria feito coisas fantásticas para uma marca tão prestigiada como a Moschino.”
Já Frida Giannini, que trabalhou directamente com Renne na equipa de design da Gucci, lembra outro lado do amigo. “Nunca me vou esquecer o vestido de Smurfette que fizeste para mim e das gargalhadas que partilhámos”, escreve. “Eras uma alma fantástica, sempre tive saudades tuas e agora ainda mais. E nunca esquecerei aqueles passos intermináveis que demos quando foste o único que me acompanhou em lágrimas até ao carro no meu último dia. Estarás sempre no meu coração.”
O veterano Alessandro Dell’Acqua diz-se igualmente “abalado” pela morte de Davide, que conheceu há tantos anos enquanto estagiário. “Era um homem amável, para além de ser um excelente talento criativo com experiência comprovada, e deixou-nos demasiado cedo. Não consigo encontrar outras palavras e só posso expressar os meus sinceros sentimentos aos seus entes queridos”, lamenta.