“A esquerda não é isto”, diz Mortágua sem abrir o jogo sobre eventual acordo com PS

A líder do Bloco não se pronuncia sobre uma reedição da “geringonça”: não comenta os “processos internos” do PS e diz que é preciso “apresentar soluções”, em vez de fazer “exercícios de geometria”.

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Mariana Mortágua, coordenadora nacional do Bloco de Esquerda LUSA/ANTÓNIO COTRIM
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Numa espécie de arranque da campanha eleitoral do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua procurou distanciar o seu partido das suspeitas de corrupção que pairam sobre o Governo do PS, defendendo que "a esquerda não é isto" e assegurando que o Bloco "está pronto para apresentar uma alternativa". Mas, quanto a eventuais entendimentos com os socialistas, não se pronunciou, defendendo apenas que, mais do que "exercícios de geometria", é preciso "apresentar soluções".

Depois de o Presidente ter anunciado que irá convocar eleições antecipadas para 10 de Março, dando tempo à aprovação do Orçamento do Estado para 2024 e à substituição de António Costa como líder do PS, a líder do BE apoiou a decisão de Marcelo Rebelo de Sousa, a partir da sede nacional do partido, ao considerar que “arrastar esta situação” seria “o pior" para "a credibilidade da democracia e das instituições”. E, embora espere que “a crise política se resolva o mais depressa possível”, disse compreender a escolha da data, que alguns partidos consideram tardia, para que se “respeitem os processos internos democráticos” das forças políticas.

Mostrando “grande preocupação” com a investigação em curso por parte do Ministério Público, que levou à demissão do primeiro-ministro, Mortágua defendeu também que deve existir “um esclarecimento público pelo poder judicial”. E quis, depois, passar a mensagem de que "a esquerda não é isto".

"Há uma esquerda de confiança que sempre se bateu contra a corrupção e a promiscuidade entre política e negócios”, declarou, lembrando como o BE, no passado, "denunciou" os projectos de exploração de hidrogénio e lítio, a contratação de Lacerda Machado, a actuação da EDP na venda das barragens ou o papel da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) em permitir que essas mesmas barragens não pagassem IMI. "Nunca os deixámos em paz", defendeu ainda, sublinhando que estas matérias foram alvo de inquérito parlamentar em 2019, pela mão do BE.

Apesar de ter sido eleita há menos de seis meses, a coordenadora dos bloquistas assegurou que o Bloco está "pronto para apresentar uma alternativa” e que, para isso, terá “soluções urgentes para o que verdadeiramente importa”, como os salários, a habitação, a saúde, a educação e a transição energética. Nos planos do BE, estará ainda travar que o país se baseie "no turismo e nas redes clientelares” ou "os negócios a favor da TAP, e da Efacec, do imobiliário ou do abuso da banca e dos supermercados”, sinalizou.

"Virar a página desta crise", "recuperar a confiança e a responsabilidade que este Governo enterrou", "impedir a direita de transformar o lodo num pantâno": "será esse o nosso contributo", resumiu, acrescentando que é preciso gerir "o que é público" com "seriedade”. “Não pode nunca ser negócio e muito menos uma negociata”, declarou.

Quanto a um eventual acordo com o PS, particularmente se Pedro Nuno Santos assumir a liderança do PS, Mortágua não abriu o jogo, sinalizando apenas que o seu papel não é "comentar processos internos de outros partidos", antes "apresentar soluções". "A estabilidade do país depende da determinação das soluções que cada força política traz" e não de "exercícios de geometria", avisou.

Questionada pelos jornalistas sobre a eventual demissão do ministro das Infra-estruturas, João Galamba, que é arguido na Operação Influencer — e cuja manutenção no executivo será discutida entre o primeiro-ministro e o Presidente — Mortágua admitiu que é “lógico que os ministros investigados têm a responsabilidade principal de proteger as instituições da crise”. Mas sinalizou que “todo o Governo está demissionário” e que o “importante” é que a actual situação “tenha fim o mais rapidamente possível”.​

Os próximos passos do BE estão já definidos: no dia 19 de Novembro, o partido vai reunir a mesa nacional para discutir situação política e acertar o calendário para as eleições, em Dezembro aprovará as listas às legislativas e, em Janeiro, apresenta o programa político.

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