Produção de vinho na Europa diminui depois de ano vitícola desafiante. Portugal e França são excepções
A vindima de 2023 trouxe um decréscimo de produção em vários países produtores, mas há excepções. França e Portugal produziram mais vinho e o nosso país mantém-se no top 5.
A Europa registou um decréscimo geral na produção de vinho na vindima deste ano, com alguns dos principais países produtores a verem as suas produções caírem — Itália, por exemplo, foi destronada enquanto principal país produtor —, mas há duas excepções. França e Portugal registam aumentos de produção em 2023 (+1,47% e +8,6%, respectivamente) e, à conta disso, os franceses passam a ser os primeiros da tabela e o nosso país mantém-se no top 5 dos principais países produtores. A informação foi revelada esta quarta-feira, numa conferência de imprensa online, pela Copa-Cogeca, a organização que junta os dois principais sindicatos que defendem os interesses dos agricultores e das cooperativas agrícolas europeias.
De acordo com a Copa-Cogeca, a fraca produção nas principais regiões vitivinícolas da Europa ficou a dever-se a um ano climático desafiante, que teve "um Inverno seco, tempestades de granizo, inundações e uma Primavera chuvosa", características que no seu conjunto danificaram muitos milhares de hectares de vinha.
Para além de Itália (-11,92%), Espanha (-14,42%) e Alemanha (-2,1%) — agora, em segundo, terceiro e quarto lugares no top 5 dos maiores produtores de vinho da Europa — , verificou-se "uma queda acentuada na produção de outros países europeus, como a Áustria (-6%), a Grécia (-23% ), a Croácia (-31%) e a Eslováquia (-20%), em comparação com 2022".
No encontro virtual com jornalistas (e depois na nota de imprensa que produziu), a Copa-Cogeca dá conta do "aumento de 8,6%, com uma produção de vindima de pouco menos de 10 milhões de hectolitros", em Portugal, e explica que a boa colheita deste ano se deve, em parte, ao facto de 2022 o nosso país ter registado um decréscimo de produção de "8%". Ou seja, que produção de vinho em Portugal este ano só terá compensado o que não se produziu no ano passado, que para os viticultores e produtores de vinho luso foi, de facto, 'o' ano desafiante.
França é agora o primeiro produtor europeu de vinho, com uma produção estimada em 45 milhões de hectolitros e apesar de as suas regiões, especialmente as do Sul, terem sofrido bastante com o míldio e com a falta de água. Segundo notaram os responsáveis da Copa-Cogeca, aquele país "conseguiu manter-se à tona devido às medidas de crise implementadas, como o apoio à destilação e a colheita em verde". A organização também sublinhou os efeitos da destilação de crise que o Governo português apoiou por cá (um apoio que a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, reconheceu, há dias, estar no limite do autorizado pela Comissão Europeia — leia-se pago pela União).
Itália perdeu a liderança como maior produtor de vinho da Europa, uma posição que ocupou durante sete anos, e regista em 2023 uma produção estimada de 43,9 milhões de litros. "As fortes chuvas da Primavera, que se transformaram em inundações na região da Emília-Romanha, e os ataques de míldio, nomeadamente nos vinhedos do Centro e no Sul do país, explicam esta importante queda", justificaram os responsáveis da Copa-Cogeca.
Com uma produção estimada em 30,8 milhões de hectolitros, Espanha manteve-se no terceiro lugar da tabela. Os nossos vizinhos tiveram "Outono, Inverno e Primavera secos, fortes chuvas no final da Primavera, ondas de calor durante o Verão e granizo", um cocktail explosivo que fez graves danos na produção. Nota a Copa-Cogeca que, apesar da quebra de produção, e "devido à baixa humidade, as vinhas estavam relativamente saudáveis e proporcionaram uvas de elevada qualidade".
Na Alemanha, a produção estimada situou-se em 8,86 milhões de hectolitros, não se tendo verificado uma diminuição significativa da produção, em virtude de as condições meteorológicas se terem mantido "estáveis". Apesar disso, naquele país, os seus produtores sofreram particularmente com a inflação e os elevados custos de produção em toda a cadeia de abastecimento no sector do vinho, nota a organização sindical.
“Há vários anos que o sector tem sido confrontado com grandes desafios, nomeadamente as consequências da pandemia de covid, os eventos climáticos e o aumento acentuado dos custos de produção, aos quais veio somar-se um aumento significativo das taxas de juro. No entanto, os produtores europeus continuam a ter um bom desempenho e a mostrar a sua resiliência", comentou o presidente do grupo de trabalho para o sector do vinho da Copa-Cogeca, Luca Rigotti.