A Liga dos Campeões passou a ser uma quimera para o Benfica

Três jogos, três derrotas. O Benfica foi totalmente dominado em casa e a derrota até poderia ter sido bem mais pesada. A equipa portuguesa está a sete pontos da qualificação e só há nove em disputa.

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Benfica e Real Sociedad em duelo na Luz LUSA/MIGUEL A. LOPES
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O Benfica perdeu 1-0 na Liga dos Campeões e pode dar-se por afortunado. A premissa pode soar bizarra, já que no futebol nada mais há abaixo da derrota, mas explica-se pela forma como o Benfica não jogou nesta terça-feira frente à Real Sociedad – que venceu na Luz, mas poderia ter vencido por muitos mais golos caso tivesse tido uma qualidade não suprema, mas apenas razoável na definição das transições ofensivas.

Olhar para as estatísticas não sugere que a equipa espanhola criou assim tanto perigo, mas os números básicos não dizem tudo – e não dizem, sobretudo, o quanto o Benfica não conseguiu jogar e o quanto a Real conseguiu criar jogadas no meio-campo “encarnado”, mesmo que com má definição dos lances.

No fim de contas, fica a derrota, mas não só: fica uma equipa portuguesa com um pé e meio fora da Liga dos Campeões – há nove pontos em disputa e o Benfica está a sete dos lugares de apuramento para os oitavos-de-final.

Domínio total da Real Sociedad

Olhar para as estatísticas mais importantes da primeira parte sugeriria equilíbrio: 0-0 em golos, 0-0 em remates à baliza e 0-0 em oportunidades claras de golo. Mas a leitura dos números básicos pode ser enganadora.

Porque uma análise mais fina – e nem é preciso ir à posse de bola totalmente desigual – mostra-nos que o Benfica acertou apenas 78% dos passes (seria a quinta pior das 32 equipas da Champions), foi trucidado em acções defensivas e em passes no meio-campo adversário e deixou-se superiorizar nas segundas bolas e nos duelos, sobretudo aéreos – a “torre” Merino ajudou muito os espanhóis, que até tiveram um golo anulado num lance pelo ar.

O que se pretende com este parágrafo estatístico é ilustrar a forma como o Benfica foi dominado na Luz, sobretudo pela incapacidade no domínio mais básico do jogo: o passe e a subjacente capacidade de ter a bola, fosse em zona defensiva ou, idealmente, ofensiva.

A Real Sociedad conseguiu variar o jogo de um lado ao outro com facilidade tremenda, aproveitando também a grande passividade de jogadores como João Mário, Neres e Rafa – o primeiro até já chegou a rir ironicamente da acusação de falta de intensidade, mas a reacção à perda e o vigor nos duelos, que João Mário desdenhou, só são desdenháveis se a equipa tiver a bola. E o Benfica não a tinha, porque a perdia antes sequer de os criativos poderem tocar nela.

Com pressão média-alta, a Real forçou o Benfica a erros permanentes e podia, depois, colocar Kubo de frente para o jogo.

Foi curioso como a Real não transformou, sem bola, o 4x3x3 em 4x5x1, como é mais comum, mas sim num 4x4x2, colocando Kubo (aberto quando a equipa tinha bola) na zona central para ajudar a “abafar” Otamendi e António Silva.

A solução para o Benfica seria activar os laterais, que não deram essa qualidade técnica na saída (não havia Bernat), ou ter um médio a dar soluções – Kokçu não estava em campo e Aursnes é pouco relevante nesse domínio.

Foi por tudo isto que o Benfica não conseguiu sair e também por isto que Kubo esteve vezes sem conta de frente para Jurasek, Otamendi e António Silva, em transições sempre mal definidas.

Incapaz de jogar desde trás, o Benfica teve resistência a esticar o jogo, não querendo contrariar a sua matriz, mas o espaço nas costas da defesa da Real sugeria essa solução – que foi feita apenas um par de vezes, uma delas com golo anulado a Musa.

Sem Kubo

Na segunda parte, Schmidt percebeu que precisava de mais perfume na zona central ou nos laterais. Primeiro, lançando Kokçu – Aursnes foi para segundo avançado, atrás do também lançado Arthur Cabral.

O efeito prático fez-se sentir de forma clara, mas não necessariamente pela positiva. Kokçu tentou pegar no jogo, como se pretendia, mas entrou com pouca qualidade.

Schmidt prestou-se, então, à outra solução, que foi lançar Bernat dez minutos depois, mas o efeito também não foi virtuoso. Virtuoso era o desempenho de Kubo, que continuava a espalhar técnica e más definições dos lances – só assim a Real continuava a zeros, depois de mais dois lances de perigo.

Curiosamente, a solução para os bascos foi não fazer a bola passar por Kubo. Numa transição, foram Merino, Barrene e Méndez a criar o lance do 1-0. E tudo começou num momento em que Neres foi batido de forma confrangedoramente fácil e, com Neves desposicionado, o Benfica foi apanhado desequilibrado, como tantas vezes nesta temporada.

E ainda houve bola à trave de Trubin logo a seguir – por Kubo, claro, cujo labor nesta noite estava destinado à criação e não à finalização.

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