Robô para limpar adegas e drones movidos a energia eólica no regresso da Enotécnica

A feira regressa em Fevereiro à Exponor, após paragem de 15 anos. O tema será a sustentabilidade e em destaque estarão equipamentos e soluções já saídos do projecto Vine and Wine Portugal.

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Um dos robôs em desenvolvimento no projecto Vine and Wine Portugal, no caso uma máquina para manutenção e fertilização do solo nas vinhas, em teste no Douro no final de 2022 José Sérgio
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A Enotécnica - Feira de Enologia e Viticultura regressará a 7 e 8 de Fevereiro de 2024 à Exponor, em Matosinhos, após 15 anos de interregno. O tema e o foco desta edição serão a sustentabilidade do e no sector do vinho e o principal destaque do evento será o espaço do projecto Vine and Wine Portugal, que tem quase 80 milhões de euros para executar nos próximos três anos — 41 milhões são financiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência português, como noticiou o PÚBLICO há quase um ano.

A Exponor decidiu relançar a Enotécnica por ter visto no momento que o sector do vinho atravessa “uma oportunidade de negócio”, explicou ao Terroir a directora de Marketing do parque de exposições de Leça da Palmeira. Amélia Estevão acrescenta que, nesta fase, a feira conta com “cerca de 31 empresas inscritas”, de todas as áreas “a montante” da comercialização do vinho” e que “trabalham directamente” para a fileira, e que “o objectivo é chegar às 80”.

De equipamentos e máquinas para a viticultura aos produtos enológicos e outros para a vinificação e para as adegas em geral, passando pelo embalamento (será interessante ver se surgem por lá, por exemplo, soluções QR Code para as novas regras na rotulagem, um dos temas do momento na indústria) e pela área de serviços, a feira que se realizou entre 1989 e 2008, apresenta-se como o “maior evento B2B de equipamentos para a viticultura e enologia”.

Independentemente do número de empresas que marcarem presença na Enotécnica, a organização assegurou já um parceiro de peso: a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, que, com o seu vice-reitor para a Investigação, montou de raiz o Vine and Wine Portugal, um projecto que teve como promotor a Gran Cruz (agora, Granvinhos).

Eduardo Rosa esteve presente na apresentação da feira, há dias, em Vila Nova de Gaia, convidado para falar de sustentabilidade. E, à margem desse lançamento da Enotécnica, perguntámos-lhe se em Fevereiro haverá já o que mostrar desse grande PRR. “Algumas já estão muito próximas de uma fase final, outras nem tanto, mas o objectivo é pelo menos dar a conhecer que, em pouco tempo, o país e o sector vão ter disponíveis essas soluções”, sublinhou.

Primeiros gadgets do PRR de 80 milhões

E que soluções são essas? O que será possível ver no espaço do Vine and Wine na Enotécnica — que, à partida, será “um stand único”, juntando várias empresas” do consórcio que conta com mais de 40 entidades e projectos para desenvolver até 2025?

“Mais avançados, temos um herbicida biológico e dois biopesticidas, a Ascenza vai lançar isso. Temos também um robô para a limpeza das adegas: em vez de as pessoas estarem a lavar os pavimentos com água, podemos ter um robô que funciona com uma faixa de luz ultravioleta, muito precisa, para eliminar os microorganismos mais patogénicos, que interferem com a qualidade do vinho. Esse é um projecto da Castros.”

E mais? Na feira de Fevereiro, será ainda possível ver um drone para pulverizar tratamentos vários sobre áreas de vinha já interessantes, “de cinco ou mais hectares”. “O drone está semiacabado e devo dizer que os drones sofreram uma evolução tremenda, infelizmente, por causa da guerra na Ucrânia. A tecnologia divulgou-se muito rapidamente e hoje os drones têm concepções mais sofisticadas e podem levar mais carga.”

Neste caso em concreto, a inovação nem está propriamente na capacidade de transporte, mas sim na sua alimentação. A ideia é de que estes drones sejam “alimentados por energia fotovoltaica eólica”, outro projecto do Vine and Wine Portugal, da empresa Energy Drawing Systems, que “fará torres eólicas, dissimuladas na paisagem, para produção de energia para baterias e para fornecer os drones”, avança Eduardo Rosa. Na prática, essas torres, de até 5 metros de altura, terão aerogeradores "conjugados com painéis fotovoltaicos [que] armazenam a energia em baterias que alimentam os drones".

Finalmente, estarão disponíveis também para levar à feira a “colecção de leveduras” do vinho da UTAD, que coloca os fungos fitopatogénicos encontrados na região do Douro ao serviço da sustentabilidade na própria vinha e está no cerne do projecto ABC Yeasts, que o Terroir noticiou em Março, e “o próprio hub Vine and Wine”, uma plataforma que permite o acesso a informação diversa e útil na gestão da vinha que também será “um produto” a comercializar.

Amélia Estevão partilha que, durante os dois dias do evento, há a intenção de “desenvolver uma série de actividades complementares à feira, como palestras e workshops”, reunindo “numa só mesa diferentes entidades, das universidades à área empresarial, passando pelo próprio produtor de vinho”.

No caso da UTAD, há “modelos de previsão” da “evolução nas alterações climáticas”, “dados sobre a biodiversidade também na vinha” e “informação sobre os solos”, que os investigadores de Vila Real poderão partilhar, antevê Eduardo Rosa, que não esconde o desejo que tem de “que o PRR da Vinha e do Vinho, que é de âmbito nacional, seja a âncora da Enotécnica”.

A Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, que também tem contribuído para a adopção de práticas ambientalmente mais sustentáveis pela indústria do vinho, é o outro parceiro oficial da Enotécnica.

Até 6 de Fevereiro, o bilhete para a feira é gratuito (através da utilização do código #enotecnica), nos dias do evento a entrada já será paga: 5 euros para quem comprar bilhete online; 10 euros no local (a entrada será sempre gratuita para menores de 16 anos).

Notícia actualizada a 26/10/2023, pelas 13h55, no 9.º parágrafo, com uma explicação mais detalhada sobre a alimentação dos drones para pulverização.

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