A guerra Israel-Hamas: o terrorismo jihadista vai aumentar

A al-Shabab, a filial da al-Qaeda na Somália e no leste de África, exprimiu imediatamente a sua satisfação pelos ataques do Hamas, descrevendo-os como uma vitória para a comunidade muçulmana.

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O movimento da jihad global deve-se em parte aos crescentes laços transnacionais que ligam as diferentes partes do mundo muçulmano e estas à vasta diáspora na Europa. O desenvolvimento dos meios de comunicação de massas criou possibilidades de expansão para os movimentos islamistas que passaram a usá-los como meio de proselitismo e de propaganda, contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência islâmica transnacional. A expansão dos média, dos transportes e das comunicações modernas (telemóvel e Internet) oferece aos radicais um teatro de operações muito mais amplo e aumenta exponencialmente o alcance da sua mensagem.

A situação atual na Europa é marcada pela preocupação com a possibilidade de uma escalada de violência em resposta à crise Israel-Hamas. Há temores de que indivíduos radicalizados possam recorrer à violência em "solidariedade" com as vítimas palestinianas e em apoio ao grupo islamita que controla a Faixa de Gaza. Os níveis de ameaça terrorista foram aumentados em França e na Bélgica na sequência do assassinato de um professor em França, a 13 de outubro, e do homicídio de dois cidadãos suecos em Bruxelas, a 16 de outubro. Pode-se tratar de “lobos solitários", que não fazem parte de uma célula terrorista, o que não diminui o efeito psicológico do terrorismo e o impacto propagandístico das ideologias jihadistas invocados pelos perpetradores. O atentado da Bélgica poderá também estar relacionado com as queimas do Corão que tiveram lugar na Suécia nos últimos meses

O conflito entre Israel e o Hamas pode radicalizar as pessoas, pois sempre se verificou que muitos aspirantes a terroristas se inspiram na sua compreensão distorcida do que se passa noutros países. Após o 11 de Setembro de 2001, a al-Qaeda tentou apresentar-se como defensora da causa palestiniana e forneceu apoio regular, como exemplificado por uma gravação de 2003 de Ayman al-Zawahiri dedicada aos palestinianos.

Vários atores terroristas em todo o mundo, como a al-Qaeda e o Estado Islâmico, beneficiarão de tal violência e poderão explorar o conflito e a situação dos palestinianos para chamar os seus apoiantes a realizarem ataques a nível internacional. O conflito em Israel e na Palestina serve como caso de referência para esses grupos que seguem de perto os confrontos armados em curso, usam reações excessivas e danos colaterais para radicalizar seu povo e recrutar mais pessoas. O ISIS e a al-Qaeda irão procurar beneficiar dos confrontos em curso e reaparecer nas regiões onde os regimes ditatoriais reprimiram as comunidades muçulmanas.

O facto de entidades terroristas, como a al-Qaeda ou grupos afiliados ao ISIS terem em conta os ataques de outubro pode sugerir que esses grupos são apoiantes diretos da atividade do Hamas ou podem integrar a situação atual na sua própria estratégia. Por exemplo, a al-Shabab, a filial da al-Qaeda na Somália e no leste de África, exprimiu imediatamente a sua satisfação pelos ataques dos combatentes do Hamas e emitiu uma declaração descrevendo-os como uma vitória para a comunidade muçulmana. Na sua declaração, o al-Shabab coloca o contexto da situação em Gaza no contexto da jihad global, afirmando que esta “batalha é a batalha de todos os muçulmanos”.

O Médio Oriente tem sido, desde 1984, o principal estágio e/ou fonte do terrorismo internacional na cena mundial e a Europa sempre foi o “ventre mole” do terrorismo árabe e jihadista. A era de ouro do terror palestiniano foi iniciada em 23 de julho de 1968. Naquele dia, três terroristas palestinianos armados de uma célula da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) sequestraram um avião que viajava de Roma para o aeroporto de Lod, em Telavive, e desviaram-no para a Argélia. Esse acontecimento introduziu o terrorismo moderno na sua forma de “internacionalização do terrorismo” como um fenómeno territorial e de média. Os avanços tecnológicos no domínio dos transportes permitiram aos terroristas viajar com facilidade e circular, causando danos humanos e materiais noutros países. Além disso, a televisão deu aos terroristas uma audiência mundial, o que teve um enorme impacto na ressonância e no efeito psicológico dos atos terroristas, às vezes conferindo legitimidade política ou respeitabilidade aos terroristas.

O domínio talibã no Afeganistão, os relatos de que o ISIS continua a reagrupar-se na Síria e no Iraque, o domínio da al-Qaeda e ISIS em grande parte do continente africano, terão provavelmente um impacto adicional no panorama futuro do terrorismo no Ocidente. A guerra Israel-Hamas vai aumentar o rol de queixas e de argumentos dos terroristas para atacar o Ocidente e a Europa, em particular.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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