Na Galiza, à descoberta do tesouro botânico de Lourizán

Numa quinta de três séculos, nas vizinhanças de Pontevedra, um palácio degradado à beira do renascimento, um jardim que é um museu vivo com importantes colecções botânicas.

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No Centro de Investigação Florestal Lourizán Matilde Fieschi
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É o paço que conquista o primeiro olhar, com a sua fachada monumental, ainda que fechado ao público e em visível estado de degradação. A Junta da Galiza está a planear reabri-lo, primeiro com visitas guiadas e depois reabilitá-lo para voltar a dar-lhe uso, num investimento que ronda os 18 milhões de euros. Enquanto o palácio não volta ao esplendor, é no jardim que nos perdemos para descobrir, com Gaspar Villegas, algumas das mais importantes colecções botânicas da região autónoma.

“A quinta tem cerca de 300 anos”, começa por contar, então dedicada a cultivos agrícolas, até que, no final do século XIX, foi comprada por um político galego, Montero Ríos, ministro do governo espanhol em diferentes pastas e, por breves meses, presidente do governo de Espanha. “Foi ele que contratou um arquitecto de Pontevedra, Jenaro de la Fuente, para restaurar o paço e dar-lhe o estilo que tem na actualidade, mais modernista”. E foi la Fuente quem trouxe a Lourizán as primeiras colecções de árvores.

O nome do paisagista contratado perdeu-se no tempo – uma das teorias aponta para um português, Jacinto de Matos, proprietário de “um viveiro no Porto” e que, além das plantas, “dedicava-se a desenhar os espaços”, com vários jardins no sul da Galiza assinados pelo português – mas são desta altura alguns dos exemplares que, actualmente, “estão catalogados como únicos” na Galiza.

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Jardim Botânico de Lourizán Matilde Fieschi

“Um deles é este, um cedro-do-Líbano, que tem cerca de 130 anos e é, possivelmente, o maior e melhor exemplar desta espécie em toda a Península Ibérica”, aponta, forçando-nos a virar costas ao paço para nos deixarmos deslumbrar pela árvore magnânima. “E, sem dúvida, a árvore mais espectacular, ainda que a mais jovem deste grupo, é aquela conífera de folha caduca”, assinala. Ainda não demos um passo. Tinham sido “encontrados muitos restos fósseis, mas não se encontrava nenhum exemplar” e, por isso, estava dada como extinta até que, em 1947, foi descoberta uma no Japão. Três anos depois, era plantada aqui com sementes da japonesa. “É o exemplar mais velho da Europa.”

Caminhar por Lourizán com Gaspar é como colocar uns binóculos: de repente, a paisagem bucólica e a música das aves deixa de ser mero cenário de passeio para ganhar matizes, nomes, formas e histórias.

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Jardim Botânico de Lourizán Matilde Fieschi

Passamos pela gigante mesa esculpida de uma única pedra onde terá sido assinado o Tratado de Paris, em 1898, que ditou a entrega de Cuba, Porto Rico, Filipinas e Guam por parte do governo espanhol. Montero Ríos morre em 1914 e a propriedade acaba nas mãos de um banco, comprada pelo município de Pontevedra em meados do século “para fazer nele um centro de ensino que ainda se mantém aberto”, ainda que agora espalhado por outros edifícios mais modernos ao longo da quinta.

É então que aparece “outra figura”, Fernando Molina, director do centro, a quem é pedido que faça uma colecção de coníferas do Atlântico Norte e, mais tarde, “um arboretum de todo o mundo”. E estamos, de novo, em pleno jardim.

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Jardim Botânico de Lourizán matilde fieschi

Ao longo de 52 hectares, encontram-se “mil árvores diferentes de todo o mundo”, entre faixas dedicadas a estudos de economia florestal (pinheiros e eucaliptos, por exemplo, com 52 e quase 100 espécies diferentes de cada, respectivamente) e algumas das maiores colecções e exemplares raros.

Pelo caminho, descobrimos os canais de água do Jardim das Rias, uma gruta telúrica e outra coberta de espelhos, o espigueiro mais comprido que já vimos, a estufa… “Podíamos ficar aqui dias, meses, só a falar de cada colecção, de cada espécie”, lembra o investigador e consultor, doutorado em Investigação Agrária e Florestal e mestre em Arquitectura da Paisagem. Com espécies “tão diversas”, “todos os dias são diferentes” em Lourizán.

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Jardim Botânico de Lourizán

Centro de Investigação Florestal Lourizán
Estrada Pontevedra-Marín, km 4
Pontevedra
O acesso ao jardim é gratuito, aberto ao público todos os dias do ano
Horário: das 10h às 18h de Outubro a Março, e das 10h às 20h de Abril a Setembro
Mais informações no site

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