Angelina Jolie pouco tem aparecido no grande ecrã nos últimos anos e está a dedicar-se a novos projectos. Um deles é o Atelier Jolie, um espaço de colaboração de artistas, em Nova Iorque, destinado a criar roupa através de upcycling, isto é, aproveitando tecidos antigos já descartados. “Não quero ser designer de moda. Quero só construir uma casa para que as outras pessoas o sejam”, declara, em entrevista à Vogue.
Não é a primeira vez que Jolie se aventura na moda — já tinha lançado uma colecção cápsula com a Chloé —, mas o Atelier Jolie é a sua estreia em nome próprio, apesar de não ter a pretensão de se afirmar como criadora. O estúdio abre oficialmente em Novembro e almeja ser quase uma cooperativa para artistas, explica: “Conheci muitos artesãos ao longo dos anos — muito capazes, pessoas talentosas — e gostava de os ver crescer.”
Entre a lista de colaborações já confirmadas estão o modista britânico Justin Smith, o artista e tatuador norte-americano Duke Riley e o artesão de rendas sul-africano Pierre Fouché. Mas ainda há espaço para mais artistas e as candidaturas estão abertas no site do ateliê. “Isto não é só sobre moda”, garante Jolie, que também promete não querer criar apenas um tradicional "projecto de celebridades", depois de ter deixado, em 2022, a posição de embaixadora da Boa Vontade das Nações Unidas.
No fundo, o ateliê tem a mesma vertente humanitária e em prol do ambiente que tem caracterizado o seu trabalho. A ideia é também dar emprego a uma equipa de alfaiates, que vão trabalhar com tecidos desperdiçados e materiais artesanais, não só para criar peças novas, mas até para reparar antigas, por exemplo com remendos, impressos com fotografias de tatuagens da própria pessoa. Os preços vão começar nos 300 dólares (cerca de 285 euros) para peças de roupa, feitas à medida, e nos dez dólares (9,50€) para um remendo.
"O Atelier Jolie pode ter um impacte positivo incrível nos artesãos, que, muitas vezes, não são reconhecidos e são subvalorizados, mas também teremos oportunidade de iniciar discussões sobre a exploração da força de trabalho, a poluição e o desperdício”, detalha a presidente da marca, Helen Aboah.
“Em transição”
O projecto envolve os filhos de Angelina Jolie (e de Brad Pitt). Por exemplo, o logótipo no ateliê foi feito numa tela em preto com um grafíti de Pax, 19 anos. Dificilmente conseguiria separar a vida pessoal desta nova aventura, sobretudo porque são os filhos a inspirá-la, reconhece a actriz: “Fui mãe aos 26 anos e a minha vida mudou. Ter filhos salvou-me e ensinou-me a estar neste mundo de maneira diferente.”
Além disso, conta, tem tentado passar uma mensagem aos seis filhos sobre a moda. “Sempre quis que a minha família pensasse assim: a tua roupa representa-te? Acho que a maioria das pessoas não acha isso, mas a alfaiataria consegue fazer isso por nós”, defende. E insiste: “Porque vivemos na nossa roupa, é uma parte de quem somos. Isso é importante de explorar, sobretudo entre os jovens.”
Para Jolie, a moda tem sido um apoio durante os últimos anos, em que lidou com tantas incertezas, do polémico divórcio à luta pela guarda dos filhos. “Às vezes o que vestimos diz: ‘Não se metam comigo, tenho a minha armadura posta’”, diz, com humor, confessando ainda estar a descobrir o seu estilo, a tentar “a perceber quem sou aos 48” anos. “Estou em transição enquanto pessoa. Sinto-me em baixo por estes dias. Não sinto que tenho sido eu própria há uma década”, acrescenta.
Como tal, define sem rodeios o Atelier Jolie como uma bóia de salvação: “Acho que parte disto tem sido também terapêutico para mim — trabalhar num espaço criativo com pessoas em que confiamos e a redescobrirmo-nos.” Este é o primeiro passo de uma mudança transversal, termina. “Estou à espera de mudar muitos aspectos da minha vida.”