Identificados nove mortos em Israel com passaporte português

Todos são descendentes de judeus sefarditas que passaram por Portugal. Há ainda três desaparecidos e um ferido grave.

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Um dos lusos-israelitas ainda desaparecidos foi visto pela última vez no festival de música trance no deserto do Negev LUSA/MANUEL DE ALMEIDA
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São já nove as vítimas mortais com passaporte português no conflito israelo-palestiniano desde os atentados de dia 7, identificadas pela Comunidade Israelita do Porto (CIP), a que se soma mais uma que estava em processo de naturalização, ao abrigo da lei que confere a nacionalidade portuguesa a descendentes de judeus sefarditas expulsos de Portugal há vários séculos.

A mais recente actualização dos dados referem Gilad Ben Yehuda, Liraz Assulin Shitrit, Gila Peled Cohen e Daniel Peled, Orin Bira e Tair Bira, Nevo Arad, Dorin Atias e Rotem Neumann Kadosh. E Niv Raviv (27 anos) que estava em processo de obtenção da nacionalidade. Os nomes foram comunicados pela CIP à Conservatória dos Registos Centrais, que gere os processos de naturalização.

Continuam desaparecidos mais dois cidadãos luso-israelitas (Idan Shtivi e Moshe Saadyan) e outro israelita (Offer Kaldaron) que estava a tratar do processo de naturalização. A CIP acredita que tenham sido raptados pelo Hamas. Idan Shtivi estava no festival de música trance no deserto do Negev, em Israel, junto à fronteira com a Faixa de Gaza, que foi um dos pontos de ataque dos elementos armados do Hamas na sua incursão em território israelita.

E mantém-se internado em Jerusalém o ferido grave Menachen Hillel Ben Kalifa, de 22 anos, que a Comunidade Israelita do Porto identifica como sendo neto de Miriam Attar Assayag, de família da comunidade sefardita tradicional de Marrocos. "Nos séculos XIX e XX, elementos desta família regressaram a Portugal, havendo registos dos seus nomes nos cemitérios judaicos de Lisboa e Açores", conta a CIP.

Dois dos cidadãos já identificados, pai e filha, (Orin Bira e Tair Bira) pertencem a uma família em que também morreram a mãe, outra filha menor e um tio. Nesta quarta-feira, outra dupla de mãe e filho (Gila Peled Cohen, de 58 anos, e Daniel Peled, de 28) entraram na lista de vítimas mortais.

A Comunidade Israelita do Porto, que teve um papel preponderante nos processos de atribuição da nacionalidade portuguesa a descendentes de judeus sefarditas expulsos de Portugal - e que está envolvida numa investigação do Ministério Público -, já apelou ao Presidente da República para que o Estado português "faça tudo no sentido de resgatar os cidadãos portugueses desaparecidos e, com certeza, raptados pelo Hamas".

"Foram as famílias dos sacrificados que pediram a nossa ajuda, para que interviéssemos junto do Estado", justifica a Comunidade Israelita. "Têm esperança de que os seus entes queridos, não sendo apenas israelitas, possam ser libertados pelo Hamas, atento o esforço deste movimento terrorista para não ficar completamente isolado no cenário internacional." E lembra que França, Estados Unidos, Reino Unido e outros países "estão a usar canais alternativos para obter a libertação dos seus cidadãos".

A CIP tem procurado divulgar os laços que ligam cada um destes cidadãos a Portugal, uma vez que nada nos seus nomes denuncia a descendência portuguesa e pede que "jamais sejam vistos como cidadãos portugueses de segunda categoria". Há cidadãos de famílias sefarditas turcas, marroquinas, tunisinas, jugoslavas, búlgaras, alguns com antepassados sepultados em talhões portugueses de cemitérios no estrangeiro, mas também no cemitério britânico da Estrela e nos cemitérios judaicos de Lisboa e Faro, elenca a comunidade.

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