A morte não se censura. A cara de um morto não se apaga

De que serve a privacidade a uma família judia assassinada? Que direito tenho eu de esconder a cara de uma criança palestiniana que dá entrada num hospital, e que o seu próprio pai decide mostrar?

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Estamos fartos de ouvir a frase: “As imagens que se seguem podem impressionar os espectadores mais sensíveis.” Ouço-a desde sempre em televisão, e acho bem que exista. Serve para dizer às crianças lá de casa para fecharem os olhos, ou para que quem não suporta qualquer manifestação de violência possa sair da sala. Só que mesmo quem opta por continuar a ver deixou de poder ver. Há uma nova moda censória e falsamente piedosa nas televisões: os mortos e as vítimas de conflitos violentos, sejam eles adultos ou crianças, são hoje envolvidos por um blur que esconde os seus rostos. Esse círculo desfocado chega a correr pelo ecrã atrás de gente ferida, obcecado em afastar dos nossos olhos a cara de quem sofre.

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