Investigação de apostas ilegais volta a abalar futebol italiano

Zaniolo, Tonali, Fagioli e Zalewski confessam vício conhecido por ludopatia e enfrentam suspensões pesadas que podem arrastar Bonucci.

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Zaniolo é um dos jogadores sob os quais recaem suspeitas Reuters/ALBERTO LINGRIA
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O futebol italiano enfrenta o que promete tornar-se num mega-escândalo de apostas ilegais e que ameaça, à medida que vão sendo revelados novos suspeitos, propagar-se a outros desportos e países.

Depois de uma denúncia e das consequentes revelações feitas por Fabrizio Corona, antigo “paparazzo” que surge como “ponta-de-lança” na exposição pública deste esquema, nomes de futebolistas internacionais como Sandro Tonali (Newcastle) e Nicolò Zaniolo (Aston Villa) emergem depois de Nicolò Fagioli (Juventus) ter sido o primeiro a ser associado, em Agosto, a uma investigação confiada à procuradora Manuel Pedrotta sobre um grupo criminoso envolvido em apostas ilegais e lavagem de dinheiro.

Aparentemente, pelo menos relativamente aos casos já entregues à justiça, não se trata de viciação de resultados. A tese avançada pela defesa dos implicados remete para um outro vício: uma doença de adição clinicamente conhecida por ludopatia.

E é à volta desta tese que o tema será debatido, na esperança de “ilibar” jovens jogadores que mereciam maior protecção de agentes, clubes ou pessoas próximas com maturidade e capacidade de discernimento para ajudar jogadores com elevados rendimentos e “presas” fáceis de esquemas ilícitos e de más influências.

O pai de Fagioli, tal como alguns procuradores do Ministério Público,​ apontou a falta de protecção das agências como causa próxima do problema, levando Marco Giordano, agente de Nicolò, a rebater as críticas para garantir que "não houve má gestão", devolvendo a bola ao progenitor.

"Diz que não tinha conhecimento de nada e aponta o dedo a quem cuida dos interesses do filho", disse ao La Repubblica, lembrando que o cliente teve estes problemas "antes de assinar com a Stellar", insistiu, concluindo que aconselharam o futebolista a assumir o problema e a fazer tratamento.

Carlo Ancelotti, treinador do Real Madrid, abordou a questão numa entrevista à Radio Uno. Ancelotti sublinhou a gravidade da ludopatia, esperando que os jogadores consigam "curar-se". A responsabilidade é uma questão diferente, reconhecendo a leviandade dos jogadores ao cederem ao esquema.

À justiça, Zaniolo (acusado de ter feito apostas no banco de suplentes enquanto decorriam os jogos) e Tonali admitiram ter jogado apenas póquer e blackjack. Uma espécie de crime “menor”, menos grave do que se tivessem feito apostas de futebol, em especial de jogos das próprias equipas. Também Nicola Zalewski, médio da AS Roma e da selecção polaca, foi implicado neste escândalo de apostas conhecido por “scommesse”.

Telemóveis confiscados

Mas esta é uma “confissão” que a investigação facilmente comprovará, já que os telemóveis dos jogadores foram confiscados para análise. Uma das primeiras vítimas “colaterais” da perícia que está a analisar todas as comunicações feitas pelos jogadores poderá ser o defesa central Leonardo Bonucci.

Segundo o diário La Repubblica, o actual jogador do Union Berlin (adversário do Sp. Braga no Grupo C da Champions) tinha conhecimento do problema do ex-companheiro de equipa na Juventus, o que poderá, eventualmente, ser comprovado através de alegadas mensagens trocadas com Fagioli, cuja dívida foi estimada na ordem de um milhão de euros.

Em causa poderá estar uma suspensão de seis meses por não denunciar o caso. Refira-se que já em 2012 o nome de Bonucci foi associado a um escândalo de viciação de resultados que abalou o futebol italiano.

Para já, enquanto surgem rumores sobre a existência do envolvimento de uma dezena de jogadores da Série A e também de outros de equipas de escalões inferiores, discutem-se as motivações e as implicações legais, que poderão ditar suspensões de três anos, à imagem do que se verificou em 1980 com o atacante Paolo Rossi.

O mediatismo que Tonali e Zaniolo trouxeram a este caso, após terem sido indiciados pelo Ministério Público de Turim e notificados pela polícia – o que levou à dispensa da concentração da selecção italiana antes do compromisso com a congénere de Malta, de qualificação para o Euro 2024 – coloca de novo o futebol italiano sob o escrutínio público.

De acordo com os media italianos, o esquema decorria através de um chat clandestino na rede WhatsApp. O desportivo Corriere dello Sport explica que o chat seria um centro de operações em que as apostas eram feitas através de uma aplicação (App), sendo as transferências efectuadas de forma a não levantarem suspeitas.

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