NATO pede proporcionalidade a Israel na sua luta para destruir o Hamas
Aliados reconhecem o direito de Israel de defender a sua população e o seu território, mas lembram que a guerra tem regras e que a protecção de civis é uma obrigação da lei internacional.
Em busca do apoio político dos aliados da NATO para a sua operação para “destruir o Hamas”, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, iniciou a sua intervenção numa reunião ministerial do Conselho do Atlântico Norte, esta quinta-feira, com a exibição de um vídeo não editado que mostrava momentos dos ataques do último sábado.
O vídeo “causou um forte impacto em todos nós”, revelou o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg. “Eram imagens horríficas dos ataques e das vítimas, algumas das quais já foram mostradas ao público, e que confirmam a brutalidade de como tantos civis, muitos deles muito jovens, foram mortos”, descreveu o líder da aliança.
“Não há justificação possível para aquilo que vimos”, considerou a ministra da Defesa, Helena Carreiras, que não conseguiu esconder a sua consternação e choque depois da visualização do vídeo. “As imagens eram de facto muito chocantes, e motivaram uma condenação generalizada de todos os aliados das atrocidades cometidas pelo Hamas, e uma condenação generalizada do terrorismo”, disse Helena Carreiras.
No fim da reunião, o secretário-geral da NATO voltou a condenar de forma veemente o que designou como “actos de terror injustificáveis”, e a reafirmar, em nome da aliança, que Israel tem o direito de se defender — “com proporcionalidade” e dentro do quadro da legislação internacional humanitária, sublinhou.
“Há regras da guerra”, lembrou Stoltenberg. “À medida que o conflito evolui, é necessário manter a proporcionalidade e proteger os civis”, vincou, em resposta a questões sobre os bombardeamentos israelitas ou o corte do abastecimento de água e energia à Faixa de Gaza.
Stoltenberg também evitou comentar o discurso de Yoav Gallant, que segundo a imprensa israelita, terá prometido a destruição do Hamas, que descreveu como “o Daesh de Gaza, uma organização selvagem que é financiada e apoiada pelo Irão”. “O Hamas deixará de existir nas nossas fronteiras. As IDF [Forças de Defesa de Israel] vão destruir o Hamas”, prometeu o ministro israelita, citado pelo jornal de Jerusalém, The Times of Israel.
As palavras de Gallant — tal como a declaração do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de que “cada membro do Hamas é um homem morto” — começam a causar um certo desconforto a alguns aliados, que receiam que a ofensiva sobre a Faixa de Gaza possa configurar um ataque indiscriminado contra a população civil, impedida de deixar o enclave palestiniano.
Distinguindo entre o Hamas, que é classificado uma organização terrorista pelos Estados-membros da União Europeia, o Reino Unido e os Estados Unidos, a Autoridade Palestiniana e o povo palestiniano, a ministra da Defesa apelou à contenção das forças israelitas “para evitar a escalada regional” e “fazer regressar os reféns”.
“O nosso inimigo é o terrorismo, que a NATO esta decidida a combater também com as suas missões”, recordou Helena Carreiras. “A luta é contra o Hamas, é contra um movimento terrorista, e não contra o povo palestiniano. Esperamos que seja esse também o entendimento de Israel”, acrescentou.
Já o secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, escusou-se a fazer reparos ou a dar conselhos às forças israelitas. “Trata-se de um exército profissional, conduzido por líderes profissionais, que naturalmente definem as suas operações. E os EUA acreditam que eles farão o que é correcto na prossecução da sua campanha”, afirmou.
O chefe do Pentágono garantiu em Bruxelas que Washington não deixará de responder positivamente aos pedidos de assistência militar que chegarem de Israel, sem colocar quaisquer condições (ou entraves) ao uso do armamento norte-americano no teatro de guerra. “Responderemos aos pedidos à medida que as necessidades se forem manifestando, tão rapidamente quanto possível”, disse, confirmando que os EUA vão enviar mais munições e sistemas de defesa antiaérea para a Cúpula de Ferro (Iron Dome) israelita.
Como já tinha feito na véspera, quando dirigiu a 16.ª reunião do Grupo de Contacto para a Defesa da Ucrânia, no quartel-general da NATO, Lloyd Austin garantiu que a assistência de segurança para Israel não afectará o “apoio norte-americano ao povo ucraniano na sua luta contra a agressão da Rússia”. “Os EUA conseguem andar e mastigar pastilha elástica ao mesmo tempo”, observou.