A coragem, a timidez e o assim-assim no Orçamento de Costa

Para além dos anúncios e das medidas, foi um primeiro-ministro mais humilde e empático aquele que deu uma entrevista de quase duas horas em “prime-time”

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A pouquíssimos dias da entrega do Orçamento do Estado para 2024, António Costa quis partilhar com o país algumas das opções principais do Governo. Fê-lo através da entrevista à CNN/TVI que se pode dividir em três categorias e um estilo.

As três categorias são as medidas mais corajosas, as tímidas e as que ainda estão em aberto.

Nas primeiras, Costa colocou medidas que agradam à esquerda, como o “não” taxativo aos patrões para mexer na Taxa Social Única e criar-se um 15.º mês isento de impostos, o aumento do salário mínimo para além daquilo que está acordado e outra que não agrada nada à esquerda (nem, pelos vistos, ao PSD de Montenegro), que é a recusa em devolver na íntegra o tempo de serviço congelado aos professores.

Nas tímidas, entra, por exemplo, o IRS. Costa pôs a tónica fundamental na baixa do IRS jovem, evitou comprometer-se com a mexida nos principais escalões do IRS, lembrando que há outras formas de fazer baixar o imposto a pagar pelas famílias.

As que estão em aberto, a avaliar por aquilo que foi comunicado publicamente a esta altura do campeonato, dizem respeito à habitação. Sim, o primeiro-ministro anunciou o fim do regime especial de IRS para estrangeiros em Portugal (ou mais correctamente os não-residentes, pois abarca situações de portugueses emigrantes), mas esta medida já vem tarde. Pouco efeito terá na diminuição do preço da habitação. Quanto ao travão de rendas, não há ainda fumo branco.

Por último, há ainda uma questão de estilo: o novo estilo humilde e empático evidenciado durante as quase duas horas de conversa, que decorreu no salão nobre do ISEG. Costa ouviu mesmo os conselhos que o presidente do PS, Carlos César, lhe deixou durante a Academia Socialista, em Évora, no início de Setembro. Mais humildade, mais diálogo e menos arrogância.

Ficará para os registos da política o dia em que um primeiro-ministro com maioria absoluta diz em “prime-time”, a propósito das manifestações pela habitação que decorreram sábado em várias cidades do país: “Daquelas manifestações todas, aquelas em que me revi foram mesmo as deste fim-de-semana. (...) Não lhe escondo que tenho uma certa frustração, para não dizer bastante frustração, pelo facto de a realidade ter sido muito mais dinâmica do que a capacidade política”.

Para António Costa, a campanha eleitoral já começou.

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