Depois de ser indigitado, Sánchez promete “generosidade” nas negociações para a investidura

Tal como esperado, o rei Felipe VI nomeou o líder socialista para que se apresente no Congresso para tentar a investidura. Referendo é excluído, mas amnistia é uma possibilidade.

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Felipe VI recebeu Pedro Sánchez esta terça-feira EPA/FERNANDO ALVARADO / POOL
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Foi com promessas de “generosidade” e “diálogo” que Pedro Sánchez quis abrir a nova etapa no processo de formação de governo em Espanha, no dia em que o rei Felipe VI o indigitou. A marcação de um referendo sobre a independência da Catalunha mantém-se como linha vermelha para os socialistas que partem agora para semanas de negociações intensas.

Depois do falhanço anunciado do líder do Partido Popular (PP), Alberto Núñez Feijóo, chegou a vez do secretário-geral do Partido Socialista (PSOE) tentar assegurar os apoios necessários para ser investido como chefe do Governo. Apesar de ter criticado em surdina a opção inicial do rei em indigitar Feijóo para uma primeira tentativa de investidura, que entendeu como uma perda de tempo, Sánchez e a sua equipa negocial aproveitaram as últimas semanas para iniciar as primeiras conversações com os restantes partidos.

A meta de Sánchez é chegar à sessão de investidura com a garantia de juntar aos 121 deputados do PSOE o apoio do Sumar (31 deputados), da Esquerda Republicana da Catalunha (sete), do Juntos pela Catalunha (sete), do Bildu (seis), do Partido Nacional Basco (cinco) e do Bloco Nacionalista Galego (um), reeditando o bloco parlamentar que permitiu a eleição da socialista Francina Armengol como presidente do Congresso e que no final de Setembro chumbou a investidura de Feijóo.

Em cima da mesa está a perspectiva de que seja fechado um acordo com a Coligação Canárias, que tem um deputado, o que permitiria uma maioria mais sólida e, acima de tudo, a possibilidade de não estar dependente do apoio do Juntos.

Porém, é a partir de agora que as negociações oficiais vão decorrer, com uma pausa breve ainda esta semana para a cimeira europeia de Granada. Segundo a imprensa espanhola, Sánchez vai encontrar-se já esta quarta-feira com a líder do Sumar, Yolanda Díaz, que é também vice-presidente do governo em funções. Mostrando que nem mesmo a reedição da coligação governamental será tarefa fácil, a própria líder do partido de esquerda radical disse recentemente que os dois partidos continuam “longe” de um acordo.

Mas o grande desafio do caminho de Sánchez rumo a uma terceira investidura chama-se “amnistia”, a palavra maldita do momento na política espanhola e da qual o líder socialista continua a tentar fugir. Ao ser questionado sobre a hipótese de vir a estar em cima da mesa a possibilidade de um qualquer tipo de perdão aos dirigentes independentistas condenados por sedição por causa do referendo considerado ilegal pela justiça espanhola, Sánchez disse apenas que apresentará uma posição depois de ouvir todos os partidos.

No entanto, voltou a direccionar o seu discurso para a necessidade de diálogo e respeito pelas realidades territoriais de Espanha. “Se os espanhóis disseram algo no passado dia 23 de Julho é que não se pode presidir o governo da nação sem entender a pluralidade política do parlamento nem a diversidade territorial da nação. É a hora da política, o que não fez o PP; do compromisso com o país; da generosidade, para que possamos encontrar a forma de, entre todos, articular um governo, não para uma investidura, mas para uma legislatura”, afirmou.

Sánchez garantiu ainda que, qualquer que venha a ser o acordo fechado com os partidos para assegurar uma investidura, este terá de ser “transparente, terá de ser validado pelas Cortes e, ainda, terá de ser avaliado pelo Tribunal Constitucional”. Não há uma data marcada para o debate parlamentar.

Uma das linhas vermelhas traçada desde já pelo PSOE é o cenário de marcação de um referendo, tal como exigem os independentistas catalães. “Não só porque não está previsto pela Constituição, mas também porque é contrário ao que sempre defendi com as minhas palavras e as minhas acções”, justificou Sánchez.

Feijóo, que mais de dois meses depois de ter levado o PP à vitória nas eleições antecipadas aparece como derrotado sem ter conseguido juntar qualquer apoio com excepção da extrema-direita, criticou o que disse poder vir a ser um governo que não será mais que uma “coligação de interesses”. “Esperam-nos semanas de negociações obscuras, teatralização da política e mentiras”, lamentou.

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