Este fim-de-semana, respirou-se moda em Paris. À medida que a semana de moda se aproxima do fim, o entusiasmo continua sem esmorecer. A Balenciaga de Demna Gvasalia, a Coperni de Sébastien Meyer e Arnaud Vaillant, a Hermès de Nadege Vanhee-Cybulski e a despedida de Sarah Burton da Alexander McQueen foram os destaques dos últimos dias.
A família da Balenciaga
Não é comum Demna Gvasalia mostrar uma faceta tão pessoal na Balenciaga, mas desta vez surpreendeu. Foi a mãe do criador georgiano a abrir o desfile, envergando uma gigante gabardine — metade azul, metade preta — apertada com um cinto. O cenário de pesadas cortinas em veludo vermelho combinou com o dramatismo das peças.
As gabardines foram uma constante da proposta com os ombros estruturados de forma exagerada — um contraste com os vestidos de noite florais. Algumas das peças foram construídas com tecidos vintage e até roupas antigas que foram adaptadas, em prol da sustentabilidade.
Para a banda sonora, Demna colocou o foco no processo construtivo, com a actriz Isabelle Huppert a ler as instruções de como se faz um casaco de alfaiataria. “É um trabalho complexo e queria mostrar isso, valorizando o processo”, explicou o criador aos jornalistas, no rescaldo do desfile, assinalando que o facto de a voz de Huppert acelerar fazia alusão à intensidade que é fazer moda.
“Não acredito num mundo perfeito, polido e bege”, defendeu, argumentando que a sua visão da moda não é fazer as pessoas parecerem ricas, bem-sucedidas ou poderosas. Esta é uma abordagem que tem gerado controvérsia nos últimos anos, com os fãs de moda a criticarem a falta de identidade desta casa, longe do que imaginou o costureiro espanhol Cristóbal Balenciaga.
Além da mãe de Demna, desfilaram ainda alguns dos seus professores, estudantes de moda, a sua responsável de relações públicas, um personal trainer e a crítica de moda Cathy Horyn.
Já o final do desfile ficou a cargo do marido do criador, o músico Loik Gomez, num vestido de noiva. A peça foi feita com sete vestidos de noiva antigos, “cortados, rasgados e empilhados”, e um longo véu de renda.
Inteligência artificial na Coperni
Como é que a inteligência artificial vai mudar a moda? É uma questão que tem inquietado os criadores e profissionais desta área. Perante a incerteza, a Coperni organizou o desfile num centro de investigação de som, no centro de Paris. As peças dos designers Sebastien Meyer e Arnaud Vaillant foram adornadas com dispositivos de inteligência artificial nas lapelas, o Humane Ai — uma espécie de smartphone “pós-humano”.
Todas as modelos, incluindo Naomi Campbell, desfilaram com este acessório colocado nas lapelas dos fatos leves e frescos, a pensar no próximo Verão, tal como os vestidos justos com transparências. “As roupas são feitas para serem usados com leveza”, escreveram os criadores no descritivo da colecção.
As bainhas foram encolhidas para revelar as pernas, enquanto as camisas ganharam mangas extremamente compridas, a bambolear como um cachecol na passerelle. A combinar, a banda sonora do desfile mimetizou os sons de tecidos a serem remexidos. No lado oposto do futurismo, algumas modelos usaram malas em formato de CD — uma peça já do passado.
A marca, criada em 2013, é conhecida pelos desfiles fora da caixa. No ano passado, criaram na passerelle um vestido no corpo de Bella Hadid, feito com tinta, e na última estação, levaram cães-robô a acompanhar as modelos.
O protesto na Hermès
Longe do futurismo da Coperni, a Hermès criou um campo de flores na passerelle, para apresentar uma colecção marcada pela elegância. A directora criativa Nadege Vanhee-Cybulski apostou nas sedas e no minimalismo, com casacos esguios e vestidos justos que mostravam o corpo das modelos.
A proposta ficou marcada por uma paleta monocromática, com destaque para as texturas, nomeadamente os vestidos em pele ou caxemira. Mas a quietude não tardou a ser interrompida, quando um protesto invadiu a passerelle. O manifestante segurava um cartaz onde exigia à marca que pare de usar peles de animais exóticos, como de crocodilo ou avestruz.
@leoniehanne Bryan just stopped the protest at the Hermés show in Paris… @Bryanboy #pfw #bryanboy ? original sound - Leonie Hanne
Foi o influencer Bryan Yambao, conhecido como Bryanboy, que se levantou do seu lugar para retirar o invasor. “É rude interromper um espectáculo para o qual há pessoas a trabalhar há meses”, justificou em entrevista à Reuters depois do desfile, apontando para a sua mala em pele: “Adoro uma Hermès exótica.”
A despedida de Sarah Burton
É o final de uma era na Alexander McQueen. A directora criativa Sarah Burton despediu-se das passerelles neste sábado, num desfile emotivo, onde só faltou Kate Middleton — que imortalizou a criadora quando, em 2011, a britânica assinou o vestido de noiva da futura rainha de Inglaterra.
Apesar de altamente aplaudida na moda, Burton nunca teve o ADN provocativo de Lee McQueen, mas foi a ele que dedicou a sua última colecção — “aquele que o seu desejo foi sempre empoderar as mulheres". Naomi Campbell não deixou de marcar presença para encerrar a apresentação e, na plateia, nomes como Elle Fanning ou Cate Blanchett marcaram presença.
Para abrir o desfile, Kaia Gerber, a filha de Cindy Crawford, usou um vestido miniatura em preto com uma silhueta de ampulheta, com uma costura a vermelho nas costas. A mesma silhueta dominou a proposta, repleta de rosas, quer nos padrões, quer nos cortes das peças em folhos — uma das assinaturas de McQueen. A rosa foi, ainda, impressa na barriga de um vestido em seda branca, usado por uma modelo visivelmente grávida.
No final, Burton fez a derradeira vénia. Desconhece-se o futuro da criadora, sobretudo no que toca à princesa de Gales — há quem diga que continuará com o papel (não oficial) de designer de Kate Middleton. Já na Alexander McQueen, correm rumores de que poderá ser Riccardo Tisci a tomar o lugar de director criativo, depois de ter saído da Burberry no ano passado.