Shein está a vender marcas de luxo. São verdadeiras? É seguro? Não há resposta

Onde outrora se encontravam apenas T-shirts de três euros, também há malas da Coach, sapatilhas da Lanvin ou T-shirts da Paul Smith. Para já, o marketplace não está a funcionar na versão portuguesa.

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É difícil provar que os produtos foram roubados ou obtidos de forma inapropriada RITA CHANTRE/Arquivo
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A retalhista de fast fashion Shein tem tentado limpar a sua imagem, associada ao mistério e a fábricas com recurso a trabalho forçado na China. Em Maio deste ano, abriu um marketplace onde deixou entrar outros revendedores. Onde outrora se encontravam apenas T-shirts de três euros ou vestidos de dez, também há malas da Coach, sapatilhas da Lanvin ou T-shirts da Paul Smith. Resta saber se são verdadeiras.

Para já, o marketplace não está a funcionar na versão portuguesa da gigante retalhista, mas nos Estados Unidos, o principal mercado da Shein, a funcionalidade é um sucesso, avança o Business of Fashion (BoF). São terceiros que vendem através do site da empresa chinesa, peças que alegam serem novas, apesar de não estar clara a sua autenticidade e como terão chegado à Shein, já que grande parte das marcas garante nunca ter autorizado tal venda.

“Não lhe fornecemos material nem vendemos directamente à Shein no marketplace”, assegurou um porta-voz da Paul Smith ao BoF, que reiterou a impossibilidade de “se confirmar a autenticidade destes produtos”. De lembrar que a Shein apenas anunciou anteriormente ter estabelecido uma parceria oficial com a Skechers para vender as sapatilhas da marca.

O marketplace está a gerar desconfiança sobretudo porque as marcas de luxo tendem a ser especialmente exigentes com os seus revendedores, para evitar que façam grandes descontos ou que exponham as peças de maneira pouca favorável. Contudo, não há muito a fazer, desde que os terceiros tenham adquirido a mercadoria de forma legal.

Esta poderá ser uma manobra desesperada por parte da Shein que tem vindo a perder terreno para outros concorrentes, como é o caso da Amazon ou da Temu. A forma de se distinguirem é tentar chegar a novos consumidores, com maior poder de compra, ainda que o feitiço se possa virar contra o feiticeiro — como aconteceu com a empresa de Jeff Bezos que foi processada por marcas de luxo.

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A empresa está envolta em mistério CHEN LIN/reuters

“Vai afectar, sem dúvida, a Shein negativamente se estiverem a obter os produtos de forma ilegal através de terceiros”, defende o director do grupo de retalho Alvarez & Marsal, Michael Prendergast, que avisa: "As marcas podem e muito provavelmente vão puni-los."

Ainda assim, não é difícil encontrar produtos legítimos das marcas de luxo em lojas de revendas por preços mais acessíveis e, muitas vezes, são as próprias etiquetas que os vendem, de forma a escoar produto, embora o façam de forma discreta. Ademais, o mercado tem uma chamada “zona cinzenta” com produtos cuja revenda não estava autorizada.

E aí também há uma responsabilização individual: frequentemente os turistas compram as peças mais baratas no estrangeiro, graças às taxas de câmbio ou dos descontos nos impostos, e depois revendem no seu país. Os fornecedores das marcas de luxo também o fazem, vendendo os produtos, mas sem as etiquetas oficiais ou logótipos. Ou seja, uma fábrica que produza para a Gucci vende o mesmo produto sem a marca, mas com a mesma qualidade.

Em defesa do negócio, o porta-voz da Shein garantiu ao BoF que a empresa “faz uma rigorosa fiscalização aos seus fornecedores, na selecção dos produtos e na qualidade do atendimento ao cliente”. Todos, garante, assinam um contrato que incluiu termos sobre a violação da propriedade intelectual.

As marcas podem processar a Shein?

Se uma marca encontrar um dos seus produtos à venda na retalhista chinesa, não há muito que possa fazer, reconhece a fundadora do Instituto do Direito da Moda, na Faculdade de Direito de Fordham, em Nova Iorque, citada pelo BoF. “Uma vez que os produtos estejam em circulação comercial, as marcas podem fazer bem pouco sobre a revenda — desde que as peças sejam verdadeiras e a venda legal.”

Mas não seria a primeira vez que as etiquetas tentariam resolver o problema. Além da Chanel que processou a Amazon por vender falsificações, a marca de beleza Beautyblender levou a tribunal um distribuidor alemão das suas esponjas por ter revendido o produto ao Costco, um armazém de retalho popular no Canadá e nos Estados Unidos. O retalhista terá infringido o contrato que determinava ser proibido revender as esponjas de maquilhagem.

Provar que aqueles produtos foram roubados ou obtidos de forma inapropriada é ainda mais difícil. Todavia, é possível pedir que um produto seja removido de um retalhista, se a marca achar que se trata de uma falsificação, sem garantias de que o processo seja bem-sucedido.

Por exemplo, em 2015, o conglomerado de luxo Kering processou a chinesa Alibaba, mas acabou por desistir mais tarde, ao autorizar que a plataforma criasse um site oficial de revenda de produtos de luxo. Ou seja, se não os podes vencer, junta-te a eles. O mesmo poderá acontecer com a Shein.

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