Tinta verde contra ministro do Ambiente. PAN condena “activismo radical”

Inês Sousa Real defende formas “mais construtivas” de protestar como manifestações, greves ou petições

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Inês Sousa Real, lider do PAN e deputada na Assembleia da Républica Rui Gaudêncio
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A líder do PAN demarca-se da acção levada a cabo esta semana por um conjunto de activistas pelo clima que atiraram tinta verde ao ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, durante um debate sobre as questões climáticas, organizado pela CNN em Lisboa. A deputada alerta até para os efeitos contra-producentes, a seu ver, deste tipo de comportamento, em entrevista ao programa Hora da Verdade, do PÚBLICO-Renascença.

Esta semana o ministro do Ambiente foi atingido com tinta verde durante um debate sobre o ambiente por activistas climáticos. Concorda com este tipo de iniciativas?
Temos a plena consciência de que os jovens vivem hoje uma ecoansiedade, uma preocupação muito forte em relação àquilo que é a factura climática muito pesada que vão herdar por conta destas políticas erradas da parte do Governo e com as quais não concordamos. Mas não podemos concordar com este tipo de activismo. Não é construtivo. Não é por aqui que vamos mudar as políticas governamentais. Há outras ferramentas que os jovens podem e devem utilizar, como as manifestações, as petições, as iniciativas legislativas de cidadãos, as greves climáticas nas escolas. São formas positivas de manifestação e oposição ao Governo.

Estes ataques pessoais não são saudáveis. É um activismo radical e acima de tudo desrespeitoso. Por muito que possamos não concordar com as políticas que estão a ser implementadas, o ministro do Ambiente e da Acção Climática, Duarte Cordeiro, tem sido sempre cordato e educado na forma de fazer política. Não me parece correcto esse tipo de actuação, mesmo que fosse ministro com uma forma de actuar com a qual não me identificasse sequer. O activismo não ganha dessa forma. Há, de facto, ferramentas mais poderosas e as greves climáticas, seja nas escolas, seja na rua, têm muito mais força do que um gesto destes, que pode até ajudar a descredibilizar, em vez de dar mais força ao movimento estudantil.

Compreendo que, de facto, para os jovens deve ser muito frustrante ver o nosso país a seguir este caminho. Temos uma acção a correr no Tribunal dos Direitos Europeus por parte de 32 jovens contra o Estado português por causa das políticas que estão a ser prosseguidas. É com muita curiosidade e atenção que estamos a acompanhar essa acção. Esse tipo de acções pode ter muito mais impacto e ser muito mais consequente para que o Governo, de uma vez por todas, acorde.

Pode ter sido alguma irreverência juvenil mas há uma incoerência que também nos parece inaceitável e que temos visto ao longo destes anos. Tivemos jovens manifestantes a ser condenados pela invasão, por exemplo, as instalações e que já tiveram que pagar multas pela invasão e não parece justo. Temos visto a Justiça ser tão célere na condenação e multa destes jovens e depois temos casos como o de Ricardo Salgado, casos de corrupção como o de Sócrates ou entre tantos outros exemplos que poderíamos dar, que têm prejudicado o país e têm durado décadas a ser resolvidos. Esses sim, causam prejuízo ao país.

Os activistas que estão a lutar pelas causas que acreditam, ainda que possa ser atabalhoadamente ou de forma errada, serem perseguidos ou serem depois condenados, não nos parece, de facto, justo quando aquilo que são os verdadeiros problemas do país continuam por resolver e continuam, por alguma forma, a passar dos pingos da chuva de forma impune. Seja em matéria de combate à corrupção, seja naquilo que agora é esse novo verde que são políticas de green washing.

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